São Paulo, quinta, 20 de fevereiro de 1997.

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SEQUESTRO
Polícia antiterror tinha cartas de membros do grupo que falam da operação, segundo o argentino `Clarín'
Peru sabia de plano do MRTA, diz jornal

RODRIGO BERTOLOTTO
de Buenos Aires

A polícia antiterrorista do Peru sabia que o Movimento Revolucionário Tupac Amaru planejava a tomada da residência do embaixador japonês em Lima quatro meses antes da ação.
Segundo o jornal argentino ``Clarín'', o serviço de inteligência da polícia tinha duas cartas de membros do MRTA que faziam alusão à ação terrorista que começou no dia 17 de dezembro.
A primeira carta foi interceptada no dia 8 de agosto com Maria Elena Montero, quando ela ingressava na prisão de Canto Grande, onde há membros do MRTA detidos.
Maria Elena é mulher de um dos líderes, Manuel Serna Ponce, condenado à prisão perpétua.
Na verdade, o destinatário era Emilio Villalobos Alva, conhecido como Polo. E o remetente era Nestor Cerpa Cartolini, o comandante da tomada da embaixada.
``Quando vocês forem testemunhas do que a organização prepara para resgatar seus presos, vão compreender melhor'', escreve Cartolini a Polo.
Depois, diz que havia conseguido US$ 900 mil com o sequestro do empresário boliviano Samuel Doria Medina, o dinheiro que depois financiaria a tomada da casa do embaixador Morihisa Aoki.
``O MRTA não está terminado'', continua Cerpa. ``É uma advertência a nossos inimigos, porque eles não descansam e sonham com dar uma estocada final em nós. Mas confiamos que vamos ganhar o jogo. Tenham confiança em nós e mantenham o moral alto.''
Naquela época, o presidente peruano, Alberto Fujimori, declarava que derrotar o MRTA foi ``papayita'' (algo como "muito fácil" ou "mamão com açúcar").
Logo depois, a polícia soube que Cerpa Cartolini, autodenominado ``comandante Evaristo'', estava na Bolívia, de onde havia passado a carta para Maria Helena.
Uma segunda carta foi interceptada na cidade de Arequipa, no sul do Peru, em dezembro, com mais detalhes da ação.
A correspondência, cifrada, foi escrita por Sonia Cuentas, da direção do MRTA, e dirigida a Carmen Cuentas, sua irmã.
``Caso for confirmada a festa de formatura, ela vai se realizar no dia 17. A equipe do som deve seguir o mesmo itinerário da minha viagem de lua-de-mel'', escreve Cuentas.
Segundo a polícia, ``festa de formatura'' seria a operação de assalto da residência diplomática, e ``equipe de som'' significaria o comando guerrilheiro da ação.
A ``viagem de lua-de-mel'' citada se trataria da rota de fuga que Cuentas usou para fugir do Peru.
Mediação
A presidente das Mães da Praça de Maio, Hebe de Bonafini, disse ontem que recebeu, há dois dias, o pedido do MRTA para mediar as negociações com o governo.
Bonafini aceitou a proposta e chega na sexta-feira à Lima, junto com um advogado da entidade.
A líder do grupo quer se reunir com o presidente peruano. Para tanto, já fez um pedido à embaixada do país em Buenos Aires. ``Vamos somar esforços com a Cruz Vermelha e a igreja.''
Tragédia
O presidente Alberto Fujimori visitou ontem Ccocha e Pumaranra, as duas cidades andinas mais atingidas por deslizamentos de terra causados pela chuva.
"Há entre 250 e 300 pessoas enterradas sob este imenso monte de lama que podemos ver", disse ele à emissora "Radioprogramas del Peru". Até ontem, 41 corpos haviam sido recuperados. Fujimori afirmou que "poucos" sobreviveram à tragédia.

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