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Pentágono quer "plantar" notícias reais e fictícias para ganhar a opinião pública dos aliados e confundir os inimigos
EUA estudam divulgar informações falsas
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
A revelação de que o Pentágono
cogita divulgar informações falsas
para influenciar a opinião pública
internacional acirrou atritos dentro do governo dos EUA e elevou
o temor de que militares americanos possam ter acumulado um
poder excessivo depois de 11 de
setembro.
Segundo o "New York Times",
o plano foi elaborado pelo Escritório de Influência Estratégica,
grupo criado pelo Pentágono depois dos atentados para convencer a opinião pública no Oriente
Médio e na Ásia que os EUA não
estão em guerra contra o islã, mas
contra o terrorismo.
Entre as propostas sugeridas
pelo escritório estaria a de "plantar" informações verdadeiras e
falsas nas agências de notícias estrangeiras por meio de pessoas
que não tenham laços óbvios com
o Pentágono. Outra envolve o envio de e-mails para jornalistas, líderes civis e estrangeiros para
promover a visão americana ou
ataques a governos inimigos. Os
autores dessas mensagens não seriam militares americanos, mas
pessoas e empresas supostamente
desligadas do governo dos EUA.
O plano não seria executado
apenas em nações inimigas, mas
também em países aliados dos
EUA no Oriente Médio, na Ásia e
até na Europa ocidental.
Embora a idéia não tenha ainda
passado pelo crivo do presidente
George W. Bush, a divulgação de
sua existência provocou uma reação de indignação pública de vários especialistas e críticas veladas
de funcionários do governo.
"A proposta provavelmente foi
vazada para a imprensa por alguém que pretendia inviabilizá-la", disse à Folha Stephen Hess,
especialista em propaganda e governo do Instituto Brookings, em
Washington. "Felizmente, o vazamento indica que ainda há pessoas sensatas trabalhando dentro
do governo. Esse tipo de idéia nos
faz desconfiar de todas as informações que recebemos."
Os principais adversários da
proposta no governo são as autoridades do Departamento de Estado e funcionários regulares do
departamento de comunicação
do Pentágono.
Nos últimos meses, o Escritório
de Influência Estratégica criou
um conflito de competência ao
assumir um papel de divulgação
tradicional de agências civis, principalmente o do Departamento
de Estado. Além disso, ao sugerir
campanhas secretas de desinformação no exterior, o escritório
também passou a ocupar o espaço de atuação da CIA.
O porta-voz do Departamento
de Estado, Richard Boucher, disse
conhecer a existência e o trabalho
do escritório do Pentágono, mas
se negou a discutir suas funções.
Indagado sobre a política de informação do Departamento de
Estado, ele disse: "Nós fornecemos informações precisas e verdadeiras".
Ontem, a subsecretária para comunicação do Pentágono, Victoria Clarke, não negou nem confirmou a existência do projeto. "O
trabalho do escritório (de Influência Estratégica) está em andamento e seu mandato ainda
não está claro."
Métodos heterodoxos
O escritório é chefiado pelo general-de-brigada Simon P. Worden. Desde que o escritório foi
criado, sob a comoção dos atentados de 11 de setembro, Worden e
outros responsáveis pelo grupo
nunca esconderam a disposição
de usar métodos heterodoxos
nem o fato de que passaram a
cumprir uma missão estranha às
atribuições regulares dos militares.
"O escritório emprega todos os
instrumentos dentro do Departamento de Defesa para influenciar
o público estrangeiro", disse recentemente Thomas A. Timmes,
um ex-coronel do Exército e assessor de Worden. "O Departamento da Defesa tradicionalmente não faz essas coisas."
Philip Taylor, especialista inglês
em propaganda militar, explicou
que a divulgação de informações
falsas por militares é uma tática
antiga, mas quase sempre limitada aos campos de batalha.
No entanto o novo escritório
montado pelo Pentágono inova
ao sugerir o uso da mesma tática
contra populações civis de países
estrangeiros. Além disso, a sugestão de que a missão seja estendida
para nações aliadas transcende
objetivos militares.
Se o plano do Pentágono for
aprovado e executado, não será a
primeira vez que um órgão do governo americano terá usado uma
campanha deliberada de desinformação envolvendo jornalistas.
Em 1986, durante o governo de
Ronald Reagan, o então porta-voz
do Departamento de Estado, Bernard Kalb, renunciou em protesto
contra uma campanha deliberada
para que mentisse. A campanha
fora elaborada pelo então secretário de Estado, George Shultz, para
justificar os ataques militares dos
EUA à Líbia.
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