São Paulo, sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

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EUA criticam Rússia, mas recuam de escudo

Pentágono diz que Moscou faz jogo duplo no Afeganistão, ao mesmo tempo em que adia plano que irrita rival

DA REDAÇÃO

Em declarações que refletem a hesitação do governo Barack Obama quanto a como lidar com a Rússia, seu secretário da Defesa, Robert Gates, acenou com um apaziguamento das relações com o ex-rival, ao mesmo tempo em que criticou o "jogo duplo" de Moscou com as tropas da Otan no Afeganistão.
Durante reunião da aliança militar ocidental em Cracóvia, Polônia, Gates afirmou ontem que o governo Obama "precisa de mais tempo" para decidir se leva adiante o projeto de instalar um escudo antimísseis no Leste Europeu, lançado pelo antecessor George W. Bush e criticado por Moscou.
A iniciativa prevê mísseis interceptores na Polônia e um radar na República Tcheca, ex-satélites soviéticos hoje alinhados aos EUA. Segundo Bush, o sistema serviria de proteção contra eventuais mísseis de longo alcance vindos do Irã.
A Rússia vê a medida como uma ameaça e um fator de desequilíbrio geopolítico, prometendo retaliar com a instalação de uma base de mísseis no encrave de Kaliningrado, entre a Polônia e a Lituânia.
A declaração de Gates indica que o escudo não é prioridade do novo governo americano, que prefere apostar numa melhora das relações russo-americanas. A Casa Branca precisa do apoio de Moscou em várias frentes geopolíticas, entre as quais o Afeganistão, tido por Obama como palco central da guerra contra o terrorismo.
Mas a intensidade e a rapidez dessa distensão ainda são alvo de debate dentro do próprio governo. Sinal disso é que, apesar do tom conciliador do discurso de ontem, Gates acusou a Rússia de ter uma posição dúbia em relação às tropas ocidentais que combatem extremistas do Taleban em solo afegão, oferecendo apoio e ao mesmo tempo minando seus esforços.
"Acho que os russos estão fazendo um jogo duplo em relação [...] à base de Manas", disse Gates, aludindo ao papel da Rússia no fechamento de uma base militar americana no Quirguistão crucial para o reabastecimento dos aviões que se dirigem ao Afeganistão.
O Parlamento quirguiz aprovou ontem por 78 votos a 1 a proposta do governo de fechar a base. O presidente Kurmanbek Bakiyev anunciou no início do mês a decisão de pôr fim à presença militar dos EUA em seu país, após aceitar mais de US$ 2 bilhões em ajuda e crédito da Rússia, tradicional aliada.
Gates disse ontem que os EUA podem oferecer mais dinheiro para reverter os planos do governo quirguiz e arrendar a base de Manas. O Pentágono também estuda mudar a rota para o Uzbequistão.
Outra dificuldade enfrentada pela Casa Branca em relação ao Afeganistão é convencer seus aliados a reforçar o contingente no país. Obama anunciou nesta semana o envio de mais 17 mil soldados, o que eleva o total ocidental a 87 mil homens (55 mil dos EUA). O número, entretanto, "ainda está em aberto", ressaltou o presidente ontem em visita ao Canadá.
"[O reforço] não deve ser visto só como esforço adicional dos EUA", cobrou Gates, para quem "todos devem fazer mais". Mas só três países anunciaram incremento: Alemanha (600 militares), Itália (500) e Geórgia (200).


Com agências internacionais


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