São Paulo, Sábado, 20 de Fevereiro de 1999
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ULTIMATO
Presidente iugoslavo rejeita "ceder Kosovo"; acaba hoje prazo para acordo sobre a Província separatista
Iugoslávia resiste e Otan prepara ataque

France Press
Ao lado da embarcação de apoio, o porta-aviões Enterprise, dos EUA (à esq.), navega no mar Mediterrâneo


MARIANA SGARIONI
de Paris

O presidente da Iugoslávia, Slobodan Milosevic, afirmou ontem que se recusa a abrir mão da Província separatista de Kosovo, mesmo sob a ameaça iminente de uma intervenção militar de tropas da Otan (aliança militar ocidental, liderada pelos EUA) na região.
Milosevic também disse que não admitirá a presença de tropas estrangeiras na Província.
A declaração de Milosevic aconteceu a menos de 24 horas do fim do prazo dado pelos seis países que integram o Grupo de Contato e que estão negociando um acordo de paz para a região no castelo de Rambouillet, na França.
O Grupo de Contato quer que Milosevic aceite um plano de autonomia para Kosovo e a presença de uma força internacional na região.
O prazo para que os sérvios e os guerrilheiros separatistas do ELK (Exército de Libertação de Kosovo) assinem um acordo de paz vence hoje, ao meio-dia (9h em Brasília).
"Nós não abandonaremos Kosovo, mesmo sob o preço dos bombardeios", afirmou Milosevic momentos antes da chegada a Belgrado, capital iugoslava, do diplomata norte-americano Christopher Hill. Hill tinha a missão de tentar convencer o presidente iugoslavo a aceitar a presença de tropas da Otan em Kosovo com o objetivo de garantir a paz entre sérvios e a população local, de origem albanesa.
Mas Milosevic se recusou a encontrar com o mediador norte-americano, que acabou sendo recebido pelo ministro das Relações Exteriores da Iugoslávia, Zivadin Jovanovic.
A Casa Branca classificou a atitude de Milosevic como um "grave erro". Segundo a nota, se Milosevic persistir no erro, "deve ter consciência das consequências".
Analistas políticos presentes a Rambouillet estimam que Milosevic procura dar uma demonstração de poder, aguardando até o último momento para receber crédito pessoal pela solução da crise.
Há chance de que ocorra hoje em Belgrado um encontro entre o presidente iugoslavo e os chanceleres da França, Hubert Vedrine, e do Reino Unido, Robin Cook, além da secretária de Estado dos EUA, Madeleine Albright.
Segundo o Pentágono, em caso de intervenção militar da Otan, mísseis serão lançados em bases de defesa aérea sérvia e em instalações de radar. Os bombardeios poderiam continuar nos quartéis e centros de comando.
Prevendo um eventual fracasso das negociações de Rambouillet, estrangeiros começaram ontem a deixar Kosovo. Diplomatas das embaixadas do Reino Unido, França, EUA e Canadá também estavam saindo de Belgrado.
A maior parte dos habitantes de Kosovo é de origem albanesa e pratica o islamismo. A Província faz parte da Sérvia (uma das Repúblicas que compõem a Iugoslávia), habitada majoritariamente por cristãos ortodoxos.
Os conflitos na região, iniciados há 11 meses, já deixaram ao menos 2.000 mortos. Centenas de milhares de pessoas estão refugiadas na Albânia e no resto da Europa.


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