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São Paulo, domingo, 20 de abril de 2003

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EPIDEMIA

Hong Kong tem recorde de mortes de Sars

DA REUTERS

Doze pessoas morrerem ontem em Hong Kong de pneumonia asiática, uma cifra recorde para um único dia, o governo de Cingapura afirmou que a doença ameaça ser a maior crise do país desde a independência.
A China, onde acredita-se que o vírus tenha surgido, no ano passado, intensificou sua recém-declarada guerra aberta à doença ameaçando punir autoridades que sejam apanhadas escondendo o número de casos nas Províncias.
As mortes mais recentes elevam a contagem de Hong Kong para 81, apenas um dia depois de o mandatário do território chinês, Tung Chi-Hwa, Ter dito que a epidemia iria se "estabilizar gradualmente".
Hong Kong tem agora 1.358 casos de Sars (sigla em inglês para síndrome respiratória aguda grave, como a doença ficou conhecida), quase o mesmo total da China -onde o vírus fez sua primeira aparição, na Província de Guangdong, vizinha da ex-colônia britânica.
A moléstia, que mata entre 3% e 4% de suas vítimas e ainda não tem vacina, já matou 182 pessoas (até o fechamento desta edição, a OMS ainda não havia contabilizado oficialmente as novas mortes em Hong Kong) e infectou cerca de 3.500 em todo o mundo.
Hong Kong foi o primeiro logar em que a pneumonia explodiu fora da China, e Cingapura veio logo em seguida. O país afirmou ontem que pode estar enfrentando sua pior crise desde a independência, em 1965, uma vez que a pneumonia ameaça arruinar a economia local.
O premiê de Cingapura, Goh Chok Tong, disse que seu país estava tendo algum sucesso em limitar suas taxas de infecção, mas muito mais ainda precisava ser feito a fim de amainar o clima de medo que enfraqueceu o turismo, vital para o país, e as indústrias de transportes.
"Se nós falharmos em conter a Sars, pode ser a pior crise da história do país", afirmou Goh numa entrevista coletiva. "Os custos econômicos são imensos." Segundo ele, poderiam chegar a US$ 850 milhões.

China
A ameaça de punição lançada pelo premiê Wen Jiabao foi um outro sinal de que a China -acusada de agir tarde demais e sem a firmeza necessária no combate à epidemia- está encarando a pneumonia asiática como uma ameaça grave.
Os jornais do país, todos supervisionados pelo Partido Comunista ou pelo governo, deram grande cobertura ontem às ameaças de Wen e a seu pedido a autoridades de todos os níveis para agiem com transparência em relação à Sars.
"Qualquer um que esconda casos de Sars ou atrase a liberação de informações será severamente punido, uma vez que esse assunto diz respeito à saúde e à segurança da população", disse Wen ao jornal "China Daily".
A declaração veio pouco depois de uma reunião dos nove membros do Politburo (o comitê central do partido), cuja palavra é lei na China, que ordenou uma guerra aberta à epidemia e a total liberação de informações sobre o impacto da moléstia o país. A reunião foi encabeçada pelo presidente Hu Jintao.
A doença também causou forte impacto em Hong Kong. No sábado, centenas de milhares de seus habitantes lançaram um contra-ataque à Sars. De donas-de-casa a membros do governo, eles iniciaram uma campanha maciça de higiene na cidade para tentar conter a disseminação do vírus.
Segundo autoridades de saúde locais, o esgoto de um conjunto residencial da cidade teria sido um dos principais fatores de contágio -um paciente de Sars com diarréia teria contaminado mais de 300 pessoas, informação não-confirmada pela OMS.
"No geral, a situação vai se estabilizar gradualmente", afirmou Tung anteontem.
A doença também fez estrago no Canadá -onde ocorreram as únicas mortes fora d continente asiático- e outros países estão tomando providências para contê-la.
Um grupo de escolas britânicas pôs de quarentena dezenas de crianças que chegaram de férias da Ásia, despachando-as direto para dez dias de isolamento.
As autoridades de saúde do Vietnã propuseram o fechamento temporário da fronteira com a China, para impedir que o vírus atravessasse. A proposta ainda aguarda uma decisão do governo, disseram as autoridades.

Aumento
O número de casos de Sars na China, pelo menos em Pequim, prometem subir consideravelmente depois que a capital prometeu rever suas notificações, após acusações - algumas delas, de membros do Partido Comunista - de que a cidade não estava dizendo a verdade sobre quantas pessoas estavam realmente infectadas.
A Organização Mundial da Saúde disse que o governo de Pequim iria "aumentar significativamente" suas cifras depois de Ter concordado em alterar a maneira como define seus pacientes com sintomas do novo vírus, que pertence à mesma família de causadores de resfriado comum, os coronavírus.
"A expectativa deles é de que o número será significativamente maior do que o relatado oficialmente", afirmou o líder do grupo de especialistas da OMS, James Maguire.
"As pessoas no poder estão totalmente engajadas", afirmou. "O que nós estamos vendo aqui é um movimento rumo a uma resposta urgente, com recursos sendo realmete aplicados nisso", disse.
Os especialistas disseram que Pequim pode Ter até 200 casos, apesar de só ter notificado 37, possivelmente devido a diferentes definições para caso confirmado.
A TV estatal confirmou que o Ministério da Saúde havia mudado sua definição de caso confirmado de Sars e ordenado às autoridades provinciais e municipais de saúde que notificassem novos casos usanso essa nova definição. Não informou, no entanto, se isso também significaria um aumento de casos fora de Pequim.
Há temores de que a pneumonia asiática, que atingiu regiões tão remotas quanto Ningxia, no estremo oeste do país, possa se espalhar mais ainda na China no mês que vem, quandoum feriado de uma semana levará 100 milhões de pessoas a viajar.
Muitas delas serão trabalhadores migrantes voltabdo para casa para o feriadão, mas o governo está desencorajando a população a viajar para muito longe.

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