São Paulo, terça-feira, 20 de abril de 2004

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IRAQUE OCUPADO

Iniciativa busca reduzir tropas americanas no exterior e exclui ONU, tradicional responsável por ações desse tipo

EUA financiarão forças de paz estrangeiras

RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK

Os EUA financiarão a formação, o treinamento e a equipagem de "forças de paz", independentes da ONU, em exércitos de países de todo o mundo dispostos a participar da iniciativa, para realizarem funções militares e de policiamento em regiões de conflito.
O programa, intitulado Iniciativa Global de Operações de Paz, foi noticiado inicialmente na edição de ontem do jornal "Washington Post", e mais tarde confirmado à Folha pelo Departamento de Estado. Prevê um orçamento inicial, segundo agências internacionais, de US$ 660 milhões, para um período de cinco anos.
O anúncio do programa acontece quando os EUA atravessam o seu pior momento no Iraque.
Se efetiva, a iniciativa poderia diminuir a necessidade de uso de militares americanos por tempo indeterminado em conflitos em que os EUA venham a se envolver. Segundo o Departamento de Estado, o programa terá como plataforma inicial a África, onde os EUA já têm um programa de treinamento de forças locais para operações de paz no próprio continente, mas deve se expandir para outras regiões do mundo.
O governo dos EUA também trabalha com governos europeus para a criação na Europa de um centro internacional de treinamento de forças de paz para lidar com operações militares e de policiamento, como "controle de multidões, prisões e segurança de eleições", segundo o Departamento de Estado.
Essas forças diminuiriam a necessidade de forças militares tradicionais em tarefas como a manutenção da lei e da ordem.
Os EUA estão ainda, diz o Departamento de Estado, procurando o apoio do G-8 (grupo dos países mais ricos do mundo mais a Rússia) para sua iniciativa.

ONU de fora
A ONU, tradicionalmente responsável pela função de manutenção da paz em regiões de conflito, foi deixada até aqui fora das negociações e não participou da idealização do programa, segundo o porta-voz da organização David Wymhurst. "Não fomos envolvidos nisso de maneira alguma. É uma iniciativa dos EUA", ele disse, afirmando que nem todas as forças de paz no mundo têm de ser necessariamente ligadas à ONU. "As forças da ONU não são boas para restaurar a ordem em guerras abertas. Esse não é o nosso papel principal."
No entanto, a legitimidade da ação de outras forças, ele disse, depende "geralmente" da aprovação pelo Conselho de Segurança -"mas a invasão do Iraque no ano passado não foi autorizada", afirmou Wymhurst.
Segundo o "Post", o objetivo é treinar cerca de 75 mil militares de países que aceitem tomar parte no programa para poderem ser usados de maneira rápida. Militares americanos que falaram ao jornal defenderam que o contingente de pessoal em forças de paz no mundo é insuficiente para as necessidades atuais. "Outros países demonstraram interesse em criar forças de paz, mas eles precisam de ajuda", disse um funcionário do Pentágono ao "Post".


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