|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Dúvidas de Powell sobre Iraque irritam Casa Branca
STEVEN R. WEISMAN
DO "NEW YORK TIMES"
Por mais de um ano, o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, e seus assessores vêm reconhecendo, tacitamente, que ele
estava preocupado antes da guerra com o que poderia sair errado
depois que as tropas americanas
capturassem o Iraque.
Mas a aparente decisão de Powell de expressar suas dúvidas de
maneira ainda mais explícita para
um livro do jornalista Bob Woodward abalou a Casa Branca e agravou as tensões que, há muito, fervilham no gabinete de George W.
Bush. Além disso, dizem alguns
funcionários, o livro criou problemas para o secretário no seio do
governo bem no momento em
que a situação no Iraque está se
deteriorando, e a campanha de
Bush não vai tão bem.
Powell não admitiu ter cooperado com Woodward, mas o livro,
chamado "Plan of Attack" (plano
de ataque), apresenta as reservas
sentidas pelo secretário de maneira tão detalhada que deixa poucas
dúvidas. Um porta-voz de Powell
voltou a dizer, anteontem, que
não faria comentários.
Os críticos de Powell na ala belicosa do governo dizem que ficaram atônitos diante de uma decisão que viam como egoísta por
parte do secretário, que optou por
reforçar sua reputação como analista previdente, talvez em detrimento de Bush. Muitos deles disseram que o livro provava aquilo
que de qualquer forma já esperavam: Powell não continuará no
governo caso Bush se reeleja.
A opinião manifestada, anteontem, por membros da administração, de que a imagem que o livro
apresenta de Bush é a de um líder
sóbrio e resoluto que se antecipou
e solicitou planos de contingência
para uma guerra, mas só se decidiu pelo ataque no último minuto, salva Powell de quaisquer dificuldades imediatas que poderiam
ser causadas por sua aparente
traição da relação confidencial
entre um secretário e um presidente que preza muito a lealdade,
disseram diversos funcionários.
Os democratas pretendem
aproveitar o retrato oferecido por
Powell, dizendo que ele lhes dá
munição para criticar o governo
por ir à guerra sem obter amplo
apoio internacional ou planejar
devidamente a ocupação.
Anteontem, John Kerry (virtual
candidato à Presidência) mencionou o livro de Woodward ao menos três vezes.
"Eis um livro de um escritor respeitado", disse Kerry a milhares
de estudantes da Universidade de
Miami. "Ele mostra que o presidente chegou a enganar membros
de seu próprio governo."
Pessoas ligadas a Powell disseram que não tinham dúvida de
que ele suportaria quaisquer críticas internas por sua aparente cooperação com Woodward, diretor-assistente de Redação do "Washington Post".
As pesquisas de opinião apontam que ele é uma das figuras
mais populares do governo. As
pessoas ligadas a ele apontam que
a maioria dos observadores que
acompanharam de perto a situação sabia que Powell tinha reservas em relação à guerra.
"O secretário perderá influência
porque estava certo?", perguntou
um funcionário próximo de Powell. "Não creio. Perderá influência em favor de quem? Donald
Rumsfeld? Dick Cheney? São estes os membros do governo que
estão enfrentando problemas
reais agora. Não estão lendo o livro de Bob Woodward. Estão lendo as mensagens de campo."
O livro de Woodward também
afirma que Powell sentia que, embora tivesse dúvidas quanto a entrar em guerra, era sua obrigação
apoiar o presidente quando Bush
tomou sua decisão.
O presidente disse a Woodward
que não pediu a opinião do secretário de Estado quanto a ir ou não
à guerra, pois sabia qual seria a
opinião dele: "Não".
Mas um importante assessor de
Powell afirmou, durante o final de
semana, que o secretário não se
opunha à guerra ao ponto que algumas pessoas presumem, não
importando as implicações sugeridas no livro.
"O retrato de Powell no livro de
Woodward é bastante consistente
com aquilo que todo mundo sabe", disse o funcionário. "Estávamos com o presidente se fosse
preciso entrar em guerra. Montamos uma rampa de saída para
Saddam, e ele não quis usá-la. Powell, no final, se sentia muito confortável, pois sabia disso."
Texto Anterior: Patriot Act deve ser renovado e reforçado, diz Bush Próximo Texto: Negroponte assumirá no Iraque Índice
|