São Paulo, terça, 20 de maio de 1997.



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Vida em Kinshasa volta ao ritmo normal; moeda local se valoriza

do enviado especial

Kinshasa voltou ao ritmo normal de uma cidade de 5 milhões de habitantes com uma rapidez surpreendente. Os transportes públicos voltaram a funcionar, e já havia congestionamentos, principalmente na direção do mercado central da capital da República Democrática do Congo, ex-Zaire.
Já era possível andar pela cidade sem o temor de saque pelas tropas derrotadas de Mobutu Sese Seko. Patrulhas de guerrilheiros -agora transformados nas Forças Armadas do país- faziam a segurança da capital.
Após um fim-de-semana sem abastecimento, a população afluiu ao mercado, de chão de terra e repleto de lixo e "lojas" feitas de tábuas. É possível comprar praticamente de tudo -roupas, sabão, alimentos, artigos de higiene- e ter uma camisa feita a partir do tecido escolhido em duas horas.
A atividade frenética do mercado não chegava a ser afetada por alguns tiros ocasionais logo ao lado, no quartel-general da guarda civil de Mobutu. Mas os tiros não vinham de armas: eram originários de munição que explodia por estar aquecida nos restos de fogueiras de incêndios.
Havia uma grande quantidade de munição também em alguns pontos do mercado. Alguns cartuchos chegaram a explodir.
A cada explosão, havia uma rápida correria dos que estavam em torno. Um soldado rebelde chegou a perguntar aos jornalistas de passagem se eles tinham sido disparados por um soldado de Mobutu.
Monumento destruído
Um monumento com um retrato do ex-presidente estava destruído no meio do mercado. Com a passagem de jornalistas, as pessoas faziam questão de quebrar mais um pouco do monumento para benefício das câmaras.
"O recurso à violência é justificado nessas condições", dizia o estudante Mbuya Mukiena, defendendo a tomada do poder pela aliança. "Eu sou partidário de Tshisekedi e de Kabila", dizia ele, se referindo também ao político de oposição Etienne Tshisekedi, um dos que esperam ser incluídos no governo de transição.
"Se não fosse por Tshisekedi, haveria um banho de sangue aqui", dizia outro partidário do político. A aliança promete estabelecer a democracia no país, embora não necessariamente incluir velhos políticos no novo governo.
Os habitantes de Kinshasa festejavam a saída de Mobutu, mas torciam para que o novo governo melhorasse sua situação econômica.
Câmbio
A moeda local (novo zaire, que os rebeldes também querem mudar de nome, para franco congolês) se valorizou após a vitória de Kabila. Ontem, o câmbio passou para 100 mil novos zaires por dólar, em vez dos 180 mil de antes da tomada da capital.
Os funcionários públicos Zia-Ali, do Ministério da Educação, e Lumfuankenda-Mbungu, do setor de obras públicas, diziam ganhar 143 mil novos zaires, pouco mais de US$ 1.
Um pequeno saco de mandioca, a comida básica do país, custava 30 mil novos zaires."Carne nós só comemos no Natal", completou outra funcionária, em frente ao prédio da rádio oficial.
(RICARDO BONALUME NETO)



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