São Paulo, sexta-feira, 20 de maio de 2005

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IRAQUE SOB TUTELA

Onda de atentados e tropas iraquianas destreinadas levam generais a crer que não poderão reduzir contingente

Saída dos EUA vai demorar, avisam militares

JOHN BURNS
ERIC SCHMITT
DO "NEW YORK TIMES", EM BAGDÁ

Uma nova -e mais sombria- avaliação da Guerra do Iraque por comandantes militares dos EUA acirrou o clima de ansiedade que levou a secretária de Estado, Condoleezza Rice, a viajar a Bagdá no último fim de semana para consultas com o governo iraquiano.
Em entrevistas nesta semana, alguns dos generais recuaram da idéia de reduzir substancialmente os 138 mil militares dos EUA que combatem hoje no país até o final deste ano ou início de 2006. Um oficial aventou a possibilidade de o envolvimento militar americano durar "muitos anos".
Para o general John Abizaid, o mais alto oficial americano no Oriente Médio, o maior problema é o pequeno avanço no desenvolvimento de unidades policiais iraquianas suficientemente coesas.
Em Bagdá, na quarta-feira, um alto oficial disse que houve 21 explosões de carros-bomba em Bagdá até agora só neste mês - quase tanto quanto as 25 de 2004.
Em contraste , afirmou, diminuiu a atividade dos insurgentes na capital nos últimos dias. Mas o oficial disse que muita coisa ainda depende do sucesso do novo governo em fortalecer a confiança pública dos iraquianos.
Segundo ele, sondagens da Universidade de Bagdá mostram que a confiança pública caiu de 85% logo após a eleição para 45% hoje.
"Para que a insurgência tenha sucesso, será preciso a população acreditar que o governo não poderá sobreviver", disse ele. "Quando você está no meio de um conflito, fica procurando pilares de força onde se apoiar."
Para elevar o nível de confiança, disse o oficial, o novo governo precisará reduzir os ataques insurgentes e aliviar a impaciência da população por melhoras nos serviços públicos, que, para muitos iraquianos, estão piores do que estavam no ano passado.
Mas ele enfatizou a necessidade de cautela e o tempo que pode ser preciso para completar a missão americana no Iraque. "Acreditamos na missão que temos porque estamos nela, e, se deixarmos de reprimir a insurgência, este país pode mergulhar de volta no caos e na guerra civil."
As observações, destacando a persistência dos insurgentes, sugerem que os comandantes americanos possam ter enxergado uma oportunidade depois da viagem de Condoleezza Rice.
A secretária pediu gestos mais convincentes do governo iraquiano em direção à minoria sunita, avisando que o sucesso na guerra requer uma estratégia política que incentive ao menos alguns dos grupos insurgentes sunitas a optar pela paz.

Mais mortos
A escalada de violência prosseguiu ontem com a morte de pelo menos mais 24 pessoas em incidentes distintos. No pior deles, em Mossul, oito pessoas morreram num tiroteio entre soldados dos EUA e insurgentes que invadiram a casa de um político sunita. Na mesma cidade, dois insurgentes morreram ao detonar prematuramente uma bomba.
Pelo menos mais seis pessoas -incluindo dois civis- morreram em explosões, e outras cinco foram mortas a tiros. Ataques da insurgência também mataram três soldados dos EUA.
Ontem, em sua primeira viagem internacional, o premiê Ibrahim al Jaafari pediu na Turquia a colaboração dos vizinhos, sobretudo da Síria, para guardar a fronteira.


Tradução de Clara Allain
Com agências internacionais


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