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COMENTÁRIO
Os terroristas estão ganhando
SÉRGIO MALBERGIER
EDITOR DE MUNDO
O pior aconteceu. Os terroristas
dominaram a agenda do conflito
no Oriente Médio. Mesmo a Casa
Branca, a paladina da "guerra
contra o terrorismo" internacional, se curvou às últimas atrocidades em Jerusalém e adiou, ao menos por alguns dias, o anúncio de
seu plano de paz para a região.
Ao longo de todo o processo de
paz israelo-palestino, iniciado em
1993, ocorreram atentados promovidos pelos grupos extremistas palestinos. O objetivo, até hoje, sempre foi o mesmo: impedir o
diálogo e um eventual acordo levando à criação de dois Estados
independentes. Os extremistas
querem apenas um Estado: palestino e islâmico.
Mas, antes da Intifada atual, os
líderes políticos reagiam aos atentados dizendo que a melhor resposta era justamente seguir com o
processo de paz. E que interrompê-lo seria recompensar o terrorismo. Não mais.
Ficou fácil torpedear mortalmente qualquer iniciativa política
pela simples retomada do diálogo. Basta agora um palestino disposto a morrer e a levar junto o
maior número de israelenses e
um punhado de dólares para descarrilar o trem do entendimento.
O presidente dos EUA, George
W. Bush, tinha previsto para o início desta semana anunciar seu
plano de paz, que mencionaria,
entre outras coisas, a eventual
criação de um Estado palestino
"provisório", ainda sem fronteiras ou status final definidos, desde
que garantidas as necessidades de
segurança de Israel.
As duas carnificinas em dois
dias em Jerusalém inviabilizaram
a iniciativa de Washington. O premiê de Israel, Ariel Sharon, deixou bem claro anteontem que
não entendia como podiam falar
de Estado palestino em meio aos
ataques terroristas. Bush parece
ter engolido o recado.
Embora criticada tanto por Israel quanto pelos líderes palestinos, a proposta dos EUA tinha o
mérito de tentar recolocar o diálogo político no centro da questão.
Todos sabem que só existe solução política para o conflito.
Mas é impossível politicamente
para Sharon não reagir militarmente aos ataques, mesmo se quisesse. E parece ser impossível para
o cada vez mais fraco Iasser Arafat
conter os extremistas palestinos,
mesmo se quisesse.
O resultado dos atentados, que
só prejudicam a justa causa do Estado palestino, é cada vez mais sofrimento imposto pelo Exército
israelense de ocupação, em punições coletivas que castigam inocentes e culpados. Que por sua
vez alimentam ainda mais as fileiras de jovens desesperados que
compram o discurso inflamado e
messiânico dos extremistas muçulmanos.
Os terroristas estão ganhando.
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