São Paulo, quinta-feira, 20 de junho de 2002

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ORIENTE MÉDIO

Medo de atentados eleva vendas por telefone e aluguel de vídeos; festas migram para longe dos centros mais visados

Terror faz israelenses ficarem em casa

STEPHANIE LE BARS
DO ""LE MONDE", EM JERUSALÉM

No auge da onda de atentados em Israel, nos meses de março e abril, os bares e restaurantes de Jerusalém começaram a promover as vendas pelo sistema de entrega em domicílio, para poupar seus clientes de uma permanência longa e potencialmente perigosa em seus estabelecimentos.
Quase todos colocaram guardas armados diante de suas portas. Hoje, quando os atentados suicidas cometidos por militantes palestinos voltaram a se suceder em ritmo constante (houve dois nas últimas 24 horas, com mais de 20 mortos), vêem-se com frequência placas de ""fechado" fixadas nas portas dos cafés situados em algumas das ruas do centro da cidade onde o tráfego de pedestres é mais intenso.
Os israelenses evitam ao máximo circular por locais onde há muitas pessoas -são os alvos favoritos dos ataques palestinos. A situação está prejudicando o comércio.
Um estudo conduzido no final de maio por um instituto de pesquisas, a pedido do jornal ""Yediot Ahronot", indica que a psicose parece estar afetando profundamente os hábitos de consumo e lazer dos cidadãos.

Vendas por telefone
O primeiro beneficiário desse fechamento e isolamento das pessoas é o setor de vendas com entrega pelo correio.
No decorrer do ano passado, as compras feitas pelo telefone aumentaram 17%, o comércio pela internet, 15%, e a entrega de refeições em domicílio, 13%.
Uma das maiores cadeias de supermercados do país chegou a anunciar um aumento de 25% nos pedidos feitos por meio de seu site na internet, especialmente em Haifa, Tel Aviv e Jerusalém.
A queda na frequência dos cinemas e dos restaurantes (44%) é acompanhada pelo aumento do número de locações de fitas de vídeo (13%), com picos observados após cada atentado.

Perigo nos ônibus
Os ônibus, vistos como os locais mais expostos, vem tendo uma queda acentuada no número de usuários.
O número de trajetos cobertos pelos ônibus na cidade de Jerusalém caiu 39%, e, em Tel Aviv, 29%, segundo o estudo publicado pelo jornal.
Dez por cento dos israelenses revelam que já desmarcaram uma reunião de família para evitar os riscos representados pelo deslocamento até o local do encontro ou pelo próprio local.
Salões de festas situados em locais isolados e distantes dos centros das cidades passaram a ser os mais procurados para festejar casamentos e aniversários e o bar-mitzvá (cerimônia judaica que marca a maioridade religiosa do homem, feita aos 13 anos).

Novo filão
Para acompanhar essas mudanças no modo de vida, centenas de empresas não hesitaram em inventar novos serviços.
Assim, uma grande cadeia de lojas de roupas decidiu organizar vendas de seus produtos em repartições públicas, empresas ou outros locais onde possam reunir-se pelo menos 50 potenciais clientes.
Cadeias de fast food estão se esforçando para organizar redes de distribuição em domicílio antes do início do verão.
Elas prevêem um aumento de suas vendas durante as férias escolares, quando um terço dos pais dizem que vão autorizar seus filhos a sair de casa apenas o mínimo possível.

Heróis nacionais
As medidas de segurança foram reforçadas por toda parte. Policiais examinam documentos de transeuntes nos centros das cidades.
No litoral, o acesso pago a algumas praias passou a ser condicionado a uma revista dos carros dos banhistas.
Na entrada de lojas ou locais públicos, detectores de metais são sistematicamente passados pela cintura dos homens, para identificar possíveis cintos de explosivos.
Mais de 20 mil guardas de segurança particulares foram contratados em Israel nos últimos meses. Um deles, que trabalhava na entrada de um supermercado de Jerusalém, morreu no atentado de um jovem militante suicida.
Outro desses seguranças tornou-se herói nacional ao frustrar um atentado com carro-bomba na entrada de uma boate de Tel Aviv.
O jornal ""Haaretz" vem prestando homenagem a eles há várias semanas, publicando suas fotos regularmente.

"Bolão do terror"
Outros procuram explorar de maneira menos gloriosa o ambiente estranho reinante em Israel. Um exemplo: jogadores de gosto duvidoso começaram a fazer apostas sobre o local do próximo atentado.
Originários de Kiryat Malakhi, uma cidadezinha no sul de Israel, os inventores dessa brincadeira macabra dividiram o país em regiões mais ou menos expostas.
O jogador que apostar num atentado em Ashdod, cidade portuária que até agora não sofreu nenhum ataque, pode, em caso de ""vitória", ganhar dez vezes mais do que se tivesse previsto um atentado em Jerusalém.


Tradução de Clara Allain


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