|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ORIENTE MÉDIO
Medo de atentados eleva vendas por telefone e aluguel de vídeos; festas migram para longe dos centros mais visados
Terror faz israelenses ficarem em casa
STEPHANIE LE BARS
DO ""LE MONDE", EM JERUSALÉM
No auge da onda de atentados em Israel, nos meses de março e
abril, os bares e restaurantes de Jerusalém começaram a promover
as vendas pelo sistema de entrega
em domicílio, para poupar seus
clientes de uma permanência longa e potencialmente perigosa em
seus estabelecimentos.
Quase todos colocaram guardas
armados diante de suas portas.
Hoje, quando os atentados suicidas cometidos por militantes palestinos voltaram a se suceder em
ritmo constante (houve dois nas
últimas 24 horas, com mais de 20
mortos), vêem-se com frequência
placas de ""fechado" fixadas nas
portas dos cafés situados em algumas das ruas do centro da cidade
onde o tráfego de pedestres é mais
intenso.
Os israelenses evitam ao máximo circular por locais onde há
muitas pessoas -são os alvos favoritos dos ataques palestinos. A
situação está prejudicando o comércio.
Um estudo conduzido no final
de maio por um instituto de pesquisas, a pedido do jornal ""Yediot
Ahronot", indica que a psicose
parece estar afetando profundamente os hábitos de consumo e
lazer dos cidadãos.
Vendas por telefone
O primeiro beneficiário desse
fechamento e isolamento das pessoas é o setor de vendas com entrega pelo correio.
No decorrer do ano passado, as
compras feitas pelo telefone aumentaram 17%, o comércio pela
internet, 15%, e a entrega de refeições em domicílio, 13%.
Uma das maiores cadeias de supermercados do país chegou a
anunciar um aumento de 25%
nos pedidos feitos por meio de
seu site na internet, especialmente
em Haifa, Tel Aviv e Jerusalém.
A queda na frequência dos cinemas e dos restaurantes (44%) é
acompanhada pelo aumento do
número de locações de fitas de vídeo (13%), com picos observados
após cada atentado.
Perigo nos ônibus
Os ônibus, vistos como os locais
mais expostos, vem tendo uma
queda acentuada no número de
usuários.
O número de trajetos cobertos
pelos ônibus na cidade de Jerusalém caiu 39%, e, em Tel Aviv,
29%, segundo o estudo publicado
pelo jornal.
Dez por cento dos israelenses
revelam que já desmarcaram uma
reunião de família para evitar os
riscos representados pelo deslocamento até o local do encontro
ou pelo próprio local.
Salões de festas situados em locais isolados e distantes dos centros das cidades passaram a ser os
mais procurados para festejar casamentos e aniversários e o bar-mitzvá (cerimônia judaica que
marca a maioridade religiosa do
homem, feita aos 13 anos).
Novo filão
Para acompanhar essas mudanças no modo de vida, centenas de
empresas não hesitaram em inventar novos serviços.
Assim, uma grande cadeia de
lojas de roupas decidiu organizar
vendas de seus produtos em repartições públicas, empresas ou
outros locais onde possam reunir-se pelo menos 50 potenciais
clientes.
Cadeias de fast food estão se esforçando para organizar redes de
distribuição em domicílio antes
do início do verão.
Elas prevêem um aumento de
suas vendas durante as férias escolares, quando um terço dos pais
dizem que vão autorizar seus filhos a sair de casa apenas o mínimo possível.
Heróis nacionais
As medidas de segurança foram
reforçadas por toda parte. Policiais examinam documentos de
transeuntes nos centros das cidades.
No litoral, o acesso pago a algumas praias passou a ser condicionado a uma revista dos carros dos
banhistas.
Na entrada de lojas ou locais públicos, detectores de metais são
sistematicamente passados pela
cintura dos homens, para identificar possíveis cintos de explosivos.
Mais de 20 mil guardas de segurança particulares foram contratados em Israel nos últimos meses. Um deles, que trabalhava na
entrada de um supermercado de
Jerusalém, morreu no atentado
de um jovem militante suicida.
Outro desses seguranças tornou-se herói nacional ao frustrar
um atentado com carro-bomba
na entrada de uma boate de Tel
Aviv.
O jornal ""Haaretz" vem prestando homenagem a eles há várias semanas, publicando suas fotos regularmente.
"Bolão do terror"
Outros procuram explorar de
maneira menos gloriosa o ambiente estranho reinante em Israel. Um exemplo: jogadores de
gosto duvidoso começaram a fazer apostas sobre o local do próximo atentado.
Originários de Kiryat Malakhi,
uma cidadezinha no sul de Israel,
os inventores dessa brincadeira
macabra dividiram o país em regiões mais ou menos expostas.
O jogador que apostar num
atentado em Ashdod, cidade portuária que até agora não sofreu
nenhum ataque, pode, em caso de
""vitória", ganhar dez vezes mais
do que se tivesse previsto um
atentado em Jerusalém.
Tradução de Clara Allain
Texto Anterior: Comentário: Os terroristas estão ganhando Próximo Texto: Loya Jirga: Karzai toma posse e aponta gabinete no Afeganistão Índice
|