São Paulo, sexta-feira, 20 de junho de 2008

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Fidel rebate declaração de Caetano sobre direitos humanos; artista lança tréplica

DA REDAÇÃO

Em prefácio a um livro relançado nesta semana em Cuba, Fidel Castro criticou declarações de Caetano Veloso feitas à Folha em maio, quando, ao comentar sua canção "Baía de Guantánamo", o músico disse preferir os EUA a Cuba em matéria de direitos humanos.
"Em duas palavras: o músico brasileiro pediu perdão ao império por criticar as atrocidades cometidas naquela base naval em território ocupado de Cuba", escreveu o cubano, ao final do prefácio de 3.800 palavras para a reedição do livro "Fidel, Bolívia e Algo Mais", sobre uma viagem que fez ao país andino em 1993.
No texto, Fidel disse que as frases do "músico brasileiro" -ele não cita Caetano pelo nome- são "outra prova da confusão e do engano semeados pelo império". O texto inteiro é dedicado à exaltação da resistência de Cuba diante dos EUA e à idéia de que o regime não deve ceder a chantagens.
À noite, Caetano postou no blog do show "Obra em Progresso" (www.obraemprogresso.com.br), onde estreou a música sobre Guantánamo, uma tréplica a Fidel: "Não pedi perdão a ninguém. Procuro pensar por conta própria. [...] Se não me submeto ao poderio norte-americano, tampouco aceito ordens de ditadores".
A menção ao brasileiro no prefácio de Fidel aparece logo após o ex-ditador criticar escritos da blogueira cubana Yoani Sánchez (www.desdecuba.com/generaciony), nos quais ela reclama do fato de Havana não ter lhe dado visto para viajar à Espanha para receber um prêmio.

Defesa de blogueira
"O texto de Fidel é autocongratulatório, prolixo e injusto. Sobretudo com Yoani Sánchez", escreveu Caetano. Ela e o marido se defenderam criticando Fidel em seus blogs, acusando-o de ter condecorado "corruptos, traidores, ditadores" no passado, em referência a dirigentes da União Soviética e do Leste Europeu.
Na entrevista de maio à Folha, que provocou a reação de Fidel, Caetano havia dito: "Se você falar em questão de como são observados os direitos humanos e as questões de liberdade e respeito aos homens, sou 100% mais EUA do que Cuba. [...] Se fosse o tipo de cara de esquerda, pró-Cuba, anti-EUA, não seria nenhum abalo". O músico respondia a uma pergunta sobre a letra de "Baía de Guantánamo", que diz: "O fato de os americanos desrespeitarem os direitos humanos em solo cubano é por demais forte simbolicamente para eu não me abalar".
Ontem, no texto do blog, o músico elogiou a decisão da Corte Suprema dos EUA, na semana passada, que reconheceu direitos antes negados aos prisioneiros de Guantánamo. Disse que a música não existiria sem a base nem sem "o valor simbólico que a Revolução Cubana tem em nossas mentes".
O músico prometeu voltar ao assunto. Em outubro, recomeçam no Rio de Janeiro as apresentações de "Obra em Progresso", onde Caetano experimenta arranjos e músicas para o próximo disco, além de "blogar", no palco, suas opiniões.


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