São Paulo, quinta-feira, 20 de julho de 2006

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Imigrantes brasileiros obedecem a raízes e "projeto familiar"

Para historiadora, famílias se mantêm unidas e sonham em voltar ao Líbano; imigração aos país dos antepassados por motivos econômicos é minoritária

RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL

MÁRCIO PINHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A característica "circular" da imigração libanesa no Brasil é o principal motivo para que 10 mil brasileiros morem hoje no Líbano. São famílias que nunca perdem o contato, com primos e tios trafegando de um lado para o outro.
Casamentos entre primos são incentivados pelos pais. Ou com filhos de vizinhos do mesmo vilarejo. Pais que levam a família para o Líbano, mas que, de seis em seis meses, vêm ao Brasil "cuidar dos negócios".
A maior parte dos imigrantes brasileiros que vivem no Líbano pertence à segunda ou terceira geração de libaneses que vieram para o Brasil para tentar uma vida melhor. Boa parte deles teve sucesso na empreitada, e o retorno ao Líbano é parte de um projeto familiar, não apenas econômico.
"Não vi jovens que partiram sozinhos para morar no Líbano. Quase não existe retorno individual. A maioria vai com os pais. É um sonho desses imigrantes voltar algum dia ao país", diz a historiadora Samira Osman, que entrevistou diversos brasileiros que moram no Líbano entre 2003 e 2004.
Desde 2002, ela prepara uma tese na Faculdade de História da Universidade de São Paulo sobre imigrantes libaneses no Brasil e os que retornaram.
O retorno é muito mais comum entre os libaneses muçulmanos do que entre os libaneses cristãos e se tornou mais popular nos anos 80 e 90. O enfraquecimento da guerra civil no Líbano e a possibilidade de reconstruir o país coincidiram com ciclos de estagnação e crises econômicas no Brasil.

Enclave brasileiro
Osman visitou várias cidades no vale do Bekaa. Dali, partiram milhares de libaneses nos anos 50 e 60. Hoje, a pequena cidade rural de Loussi é uma cidade quase brasileira -80% de sua população passou alguma temporada no Brasil.
Do açougue com cortes brasileiros à mistura de palavras em português no cotidiano, a presença é enorme. Como no Brasil, esses líbano-brasileiros têm pequenos negócios, de oficinas mecânicas a mercados.
Há dinheiro brasileiro na construção da rede de esgoto, na mesquita, assim como na pavimentação da única estrada que liga a cidade a Beirute (a duas horas dali). Em uma região árida, muitas casas têm poços artesianos particulares.
Não é o único luxo. Várias mansões foram construídas pelos imigrantes retornados, algumas com 30 cômodos -uma delas copia a Casa Branca.
A ostentação não é malvista ali, é símbolo de triunfo. Os que voltam sem emprego e vivem de bicos sofrem um "preconceito velado". "Como seu pai imigrou, passou tanto tempo fora e você chega aqui sem dinheiro?, parecem perguntar", diz Osman.
O presidente da Câmara de Comércio Brasil-Líbano, Ali Majdoub, 39, filho de imigrante, costuma visitar o país de seus pais entre cinco e seis vezes por ano. "Tenho muitos parentes lá para visitar, além de cuidar de negócios na área de chapas e compensados", diz.
Seu pai, Ahmad Majdoub, que atualmente está no Líbano, tem um costume muito comum entre os imigrantes, que é passar seis meses no Brasil e seis meses no Líbano.

Enclave libanês
Na Tríplice Fronteira (Brasil, Paraguai e Argentina), vivem 12 mil pessoas, entre árabes naturalizados brasileiros ou paraguaios e seus descendentes. A principal atividade dos árabes na região é o comércio, especialmente em Ciudad del Este (Paraguai). Eles chegam do Líbano para trabalhar com parentes. Assim que conseguem montar seu próprio negócio, trazem irmãos e parentes do Líbano para auxiliá-los. Isso faz com que novos libaneses sempre cheguem à região.


Colaborou JOSÉ MASCHIO, da Agência Folha, em Foz do Iguaçu

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