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Imigrantes brasileiros obedecem a raízes e "projeto familiar"
Para historiadora, famílias se mantêm unidas e sonham em voltar ao Líbano; imigração aos país dos antepassados por motivos econômicos é minoritária
RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL
MÁRCIO PINHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A característica "circular" da
imigração libanesa no Brasil é o
principal motivo para que 10
mil brasileiros morem hoje no
Líbano. São famílias que nunca
perdem o contato, com primos
e tios trafegando de um lado para o outro.
Casamentos entre primos
são incentivados pelos pais. Ou
com filhos de vizinhos do mesmo vilarejo. Pais que levam a
família para o Líbano, mas que,
de seis em seis meses, vêm ao
Brasil "cuidar dos negócios".
A maior parte dos imigrantes
brasileiros que vivem no Líbano pertence à segunda ou terceira geração de libaneses que
vieram para o Brasil para tentar
uma vida melhor. Boa parte deles teve sucesso na empreitada,
e o retorno ao Líbano é parte de
um projeto familiar, não apenas econômico.
"Não vi jovens que partiram
sozinhos para morar no Líbano. Quase não existe retorno
individual. A maioria vai com
os pais. É um sonho desses imigrantes voltar algum dia ao
país", diz a historiadora Samira
Osman, que entrevistou diversos brasileiros que moram no
Líbano entre 2003 e 2004.
Desde 2002, ela prepara uma
tese na Faculdade de História
da Universidade de São Paulo
sobre imigrantes libaneses no
Brasil e os que retornaram.
O retorno é muito mais comum entre os libaneses muçulmanos do que entre os libaneses cristãos e se tornou mais
popular nos anos 80 e 90. O enfraquecimento da guerra civil
no Líbano e a possibilidade de
reconstruir o país coincidiram
com ciclos de estagnação e crises econômicas no Brasil.
Enclave brasileiro
Osman visitou várias cidades
no vale do Bekaa. Dali, partiram milhares de libaneses nos
anos 50 e 60. Hoje, a pequena
cidade rural de Loussi é uma cidade quase brasileira -80% de
sua população passou alguma
temporada no Brasil.
Do açougue com cortes brasileiros à mistura de palavras em
português no cotidiano, a presença é enorme. Como no Brasil, esses líbano-brasileiros têm
pequenos negócios, de oficinas
mecânicas a mercados.
Há dinheiro brasileiro na
construção da rede de esgoto,
na mesquita, assim como na
pavimentação da única estrada
que liga a cidade a Beirute (a
duas horas dali). Em uma região árida, muitas casas têm poços artesianos particulares.
Não é o único luxo. Várias
mansões foram construídas pelos imigrantes retornados, algumas com 30 cômodos -uma
delas copia a Casa Branca.
A ostentação não é malvista
ali, é símbolo de triunfo. Os que
voltam sem emprego e vivem
de bicos sofrem um "preconceito velado". "Como seu pai
imigrou, passou tanto tempo
fora e você chega aqui sem dinheiro?, parecem perguntar",
diz Osman.
O presidente da Câmara de
Comércio Brasil-Líbano, Ali
Majdoub, 39, filho de imigrante, costuma visitar o país de
seus pais entre cinco e seis vezes por ano. "Tenho muitos parentes lá para visitar, além de
cuidar de negócios na área de
chapas e compensados", diz.
Seu pai, Ahmad Majdoub,
que atualmente está no Líbano,
tem um costume muito comum
entre os imigrantes, que é passar seis meses no Brasil e seis
meses no Líbano.
Enclave libanês
Na Tríplice Fronteira (Brasil,
Paraguai e Argentina), vivem 12
mil pessoas, entre árabes naturalizados brasileiros ou paraguaios e seus descendentes.
A principal atividade dos árabes na região é o comércio, especialmente em Ciudad del Este (Paraguai). Eles chegam do
Líbano para trabalhar com parentes. Assim que conseguem
montar seu próprio negócio,
trazem irmãos e parentes do
Líbano para auxiliá-los. Isso faz
com que novos libaneses sempre cheguem à região.
Colaborou JOSÉ MASCHIO, da Agência Folha,
em Foz do Iguaçu
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