São Paulo, quarta, 20 de agosto de 1997.



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EUA
Maior greve em 21 anos deu prejuízo de US$ 650 milhões à transportadora
Acordo encerra paralisação na UPS depois de 15 dias

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
de Washington

Terminou ontem a greve dos funcionários da maior empresa transportadora de encomendas dos EUA, a UPS (United Parcel Service). Foi a maior paralisação de trabalhadores realizada no país em 21 anos. Durou 15 dias, provocou prejuízos de US$ 650 milhões para a companhia e o acordo que pôs fim a ela foi considerado uma vitória para os sindicalistas.
A empresa concordou em transformar 10 mil vagas de trabalho de meio período em empregos de tempo integral (em vez dos 1.000 que havia oferecido), conceder aumentos salariais que em cinco anos representarão acréscimo de 36% (em vez dos 15% que pretendia dar) e manter o atual sistema de aposentadoria dos funcionários (que queria trocar por outro, que garantiria menos benefícios).
Em compensação, a UPS diz que poderá demitir até 15 mil dos seus 302 mil empregados devido aos prejuízos sofridos nos últimos 15 dias e à estimada redução de 5% nos 12 milhões de pacotes que a empresa distribuía por dia antes da greve. A UPS controla 80% do mercado de entrega de encomendas nos EUA e faturou US$ 22,4 bilhões em 1996. O concorrente que parece ter obtido mais clientes com a greve foi o Correio dos EUA.
Os grandes vitoriosos da greve foram o movimento sindical norte-americano e a secretária do Trabalho dos EUA, Alexis Herman. Os sindicalistas conseguiram, pela primeira vez em três décadas, ganhar apoio maciço da opinião pública durante uma paralisação em larga escala. O item da pauta de reivindicações que teve mais simpatia dos norte-americanos foi o dos empregados em meio período. A UPS manteve seu salário (US$ 8 por hora) inalterado por 15 anos.
Herman, 49, negra, solteira, sem filhos, recebeu elogios de patrões, empregados, jornalistas, parlamentares, líderes da opinião pública e do presidente Bill Clinton pelo seu papel de intermediária entre a UPS e o sindicato. Depois de ter conseguido colocar as duas partes em negociações ao final da primeira semana da greve, coordenou 90 horas de reuniões que resultaram no acordo de ontem.
Os sindicalistas diziam estar preparados para uma greve muito mais longa. Todos os sindicatos do país se uniram para prover US$ 55 semanais para os 185 mil funcionários que aderiram ao movimento.
Apenas 15% dos trabalhadores norte-americanos são associados a sindicatos. No setor privado, a participação decresce para 10% (entre os funcionários públicos, a adesão é de 38%). Os sindicatos têm perdido popularidade a cada ano nas duas últimas décadas. O número de greves em 1996 foi o mais baixo em 50 anos: 385, e 350 delas foram movimentos pequenos, de menos de mil pessoas.
Ontem, líderes dos maiores sindicatos do país comemoravam o acordo como um marco para o renascimento do sindicalismo.



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