São Paulo, segunda-feira, 20 de agosto de 2001

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HISTÓRIA

Nomes de prédios da universidade e verbas de bolsas têm elo com escravocratas

Vínculo com escravidão abala Yale

DAVID USBORNE
DO "THE INDEPENDENT"

A Universidade Yale ficou constrangida com a divulgação de uma pesquisa que revela ligações profundas entre a instituição e diversos conhecidos defensores da escravidão nos Estados Unidos.
As revelações coincidem com o 300º aniversário de Yale, que está sendo usado para alardear o seu histórico de apoio ao abolicionismo e à emancipação dos negros.
O estudo "Yale, Slavery and Abolition" ("Yale, Escravidão e Abolição"), publicado este mês por três doutorandos de Yale, revela que, até os anos 60, a universidade batizava seus edifícios com nomes de escravagistas e que suas primeiras bolsas de estudo foram criadas com dinheiro ligado à escravidão.
Assim, Yale, que foi a primeira universidade do país a abrir um departamento dedicado ao estudo do abolicionismo, deve participar do crescente debate no país que discute se as instituições que têm a escravidão no seu passado devem pedir desculpas aos descendentes de escravos e lhes oferecer compensação financeira.
Os EUA ameaçam boicotar a conferência de combate ao racismo da ONU que começa em 31 de agosto na África do Sul. O país se opõe a um pedido formal de desculpas ou reparações financeiras a descendentes de escravos.
Oito dos 12 edifícios residenciais no campus de Yale têm nomes de escravocratas. Uma faculdade tem o nome de John Calhoun, um vice-presidente dos EUA que lutou pela preservação da escravidão no século 19. Algumas das primeiras bolsas de estudo de Yale foram financiadas por uma fazenda escravagista, do bispo George Berkeley. Uma faculdade de Yale chama-se Berkeley.
Para Antony Dugdale, um dos autores do artigo (disponível no site www.yaleslavery.org), Yale deve responder às constatações. "As universidades deveriam defender a verdade", disse ele. "Mas não houve nenhuma discussão real sobre o papel delas em relação à escravidão."
Yale, uma das mais conceituadas universidades dos EUA, situada em Connecticut (leste), alega que não está sozinha. No ano passado, o mais antigo jornal do país, o "The Hartford Courant", teve de se desculpar por ter publicado, durante décadas, anúncios de escravocratas.
"Hoje lamentamos esses males e procuramos melhor compreendê-los, mas não é possível desfazer o que foi feito", disse Helaine Klasky, porta-voz de Yale. O estudo pede que a universidade convoque uma conferência de universidades que remontem aos anos de escravidão para analisar o papel que elas tiveram na cultura escravocrata do país.



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