São Paulo, terça-feira, 20 de agosto de 2002

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ORIENTE MÉDIO

Abu Nidal, considerado "uma espécie de Bin Laden" dos anos 70 e 80, teria sido encontrado baleado em Bagdá

"Superterrorista" morreu, dizem palestinos

DA REDAÇÃO

O líder terrorista palestino Abu Nidal, 65, um dos homens mais procurados do mundo, foi encontrado morto em sua casa em Bagdá, disseram fontes palestinas.
As circunstâncias de sua morte ainda não foram esclarecidas. Integrantes do Conselho Revolucionário do Fatah (Fatah-CR), organização comandada por Nidal, dizem que ele teria se suicidado porque não suportava mais viver com câncer.
Mas há fortes suspeitas de que ele foi assassinado, já que teria sido encontrado com várias perfurações de bala. O diário palestino "Al-Ayyam" afirmou ontem que Abu Nidal (o "pai da luta", em árabe) foi encontrado baleado há quatro dias. No Líbano, seu porta-voz disse que ainda não havia confirmado a morte. Essa não é a primeira vez que circulam rumores sobre sua morte.
Inimigo e crítico feroz do presidente da Autoridade Nacional Palestina, Iasser Arafat, Abu Nidal dirigia um grupo guerrilheiro acusado de ter praticado ataques e sequestros em 20 países, principalmente nas décadas de 70 e 80. Mais de 275 pessoas morreram em pelo menos cem operações.
Serviços de inteligência ocidentais acreditam que países como a Líbia e o Iraque eram os principais patrocinadores de suas atividades, que tinham alvos judaicos e israelenses como principais objetivos.
Em Washington, o porta-voz do Departamento de Estado Philip Reeker disse que os EUA ainda não tinham condições de confirmar a morte do terrorista, mas afirmou: "O mundo seria certamente um lugar melhor sem pessoas como Abu Nidal".
No passado, o Departamento de Estado chegou a classificar o Fatah-CR como "a mais perigosa organização terrorista que existe".
O líder guerrilheiro é visto como o autor intelectual de duas ações com armas e granadas em 1985 contra balcões da companhia aérea israelense El Al nos aeroportos de Roma e de Viena, que mataram 19 pessoas e feriram mais de cem.
Em 1986, seus homens mataram 22 pessoas e feriram cem ao tentar sequestrar um avião da Pan Am em Karachi (Paquistão). No mesmo mês, seu grupo foi responsabilizado pelo assassinato de 22 judeus que rezavam numa sinagoga de Istambul.

Dissidência da OLP
O Fatah-CR, que rompeu com a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), de Arafat, em 1974, também foi acusado de tentar matar a tiros o embaixador israelense em Londres Shlomo Argov, em junho de 1982. O episódio serviu de argumento para Israel invadir o Líbano para tentar eliminar grupos armados palestinos baseados no país.
Segundo o analista político israelense Yossi Melman, Abu Nidal -nome de guerra do palestino Sabri al Bana, nascido perto de Tel Aviv- "era considerado nos anos 70 e 80 uma espécie de Bin Laden, um terrorista que estava envolvido em tudo".
Abu Nidal, disse Melman, teria trabalhado "para muitos governos e agências de inteligência -iraquianos, sírios, líbios- e foi especialmente ativo contra a OLP e assessores próximos de Arafat. Ele até mesmo tentou assassinar Arafat".
Nos anos 70, as lideranças palestinas mais dispostas a chegar a uma solução política com Israel viviam sob ameaças do Fatah-CR. O grupo teria matado delegados da OLP em Londres, Paris, Roma, Madri, Bruxelas e no Kuait, além de ter planejado um atentado à bomba que matou quatro funcionários do escritório da OLP em Islamabad (Paquistão).
Abu Nidal foi condenado à morte por uma corte militar do Fatah (partido de Arafat), em 1973. Também teve uma pena de prisão perpétua decretada na Itália após o ataque ao aeroporto de 1985. Nunca, porém, foi capturado para cumprir as sentenças.
Segundo relatos contraditórios, ele vivia em Bagdá havia cerca de 18 meses, após ter residido no Egito. Os EUA afirmaram que a sua presença no Iraque seria mais uma prova de que o regime de Saddam Hussein apóia o terrorismo internacional.
Em Beirute, o especialista em política iraquiana Khairallah Khairallah disse que Abu Nidal voltou a Bagdá após resolver suas divergências com o governo do país. Segundo ele, as autoridades iraquianas o acusaram de traição durante a Guerra do Golfo (1991), quando o terrorista teria se aliado ao Kuait e à Arábia Saudita e se negado a participar de operações contra alvos americanos encomendadas por Saddam Hussein.


Com agências internacionais

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