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São Paulo, quarta-feira, 20 de agosto de 2003

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DIA DE TERROR

Ataque à ONU em Bagdá mata Vieira de Mello e outros 19

Stan Honda - 27.mai.2003/France Presse
O brasileiro Sérgio Vieira de Mello



Terrorista suicida teria explodido uma betoneira com 230 quilos de explosivos; feridos são cerca de cem

Explosão próxima ao escritório de brasileiro enviado especial da ONU seria um sinal de que ele era o alvo



Arar Sabah/France Presse
Escombros do prédio da ONU em Bagdá, depois da explosão de caminhão-bomba


DA REDAÇÃO

Uma betoneira com cerca de 230 quilos de explosivos foi detonada ontem ao lado da sede da ONU em Bagdá. O ataque suicida ocorreu sob a janela do escritório do brasileiro Sérgio Vieira de Mello, 55, enviado especial da ONU ao Iraque, que morreu após horas preso sob os escombros, e destruiu parcialmente o prédio. No total, ao menos 20 pessoas morreram -15 delas, funcionários da ONU, no maior ataque sofrido pelo organismo internacional.
Entre os mortos, está também o coordenador do Unicef (fundo da ONU para a infância e adolescência) para o Iraque, o canadense Christopher Klein-Beekman, 32. Quatro funcionários do Banco Mundial que trabalhavam no local estavam desaparecidos.
Cerca de cem pessoas ficaram feridas no ataque, que ocorreu por volta das 16h20 (9h20 em Brasília). Nenhum grupo reivindicou a ação, mas um funcionário do governo dos EUA disse que o Ansar al Islam, que teria elo com a Al Qaeda, é o principal suspeito.
Segundo uma testemunha citada pelo jornal "The New York Times", a betoneira com os explosivos era dirigida por um terrorista suicida. Ele teria parado o veículo em um estacionamento separado do complexo da ONU somente por um muro de concreto de quatro metros de altura, recém-construído, no qual a explosão abriu um enorme rombo. Embora a entrada do complexo da ONU fosse rigorosamente vigiada, não havia guardas no estacionamento.
Segundo uma autoridade americana que pediu para não ser identificada, foi usado quase o dobro da quantidade de explosivos empregada no atentado que matou 11 pessoas na embaixada jordaniana no último dia 7. O mesmo homem disse terem sido encontradas partes de um corpo a 200 metros do local da explosão, indício de um atentado suicida.
Imagens exibidas por redes de TV no local mostravam o prédio parcialmente destruído -o lado em que ficava o escritório do diplomata ruiu- e em chamas. Pessoas eram retiradas do local com sangue no rosto e no corpo.
"O teto caiu, as luzes apagaram, havia poeira em todo lugar", disse à TV americana CNN David Marshall, que estava no prédio.
A betoneira foi estacionada exatamente sob a janela do escritório de Vieira de Mello, no segundo andar do prédio, o que levou o chefe da Autoridade Provisória da Coalizão, o americano Paul Bremer, a levantar a hipótese de ele ter sido o alvo do ataque. Cerca de 300 pessoas, entre funcionários da ONU e de suas agências, trabalhavam no local.
"O caminhão foi estacionado de tal maneira em frente ao prédio que acabaria atingindo o escritório dele [Vieira de Mello], no segundo andar. Essa gente não está satisfeita de ter matado milhares de pessoas, eles querem continuar matando e matando. Mas não vão conseguir", disse Bremer.
As forças americanas, responsáveis pela segurança, vinham erigindo mais um muro no local, medida tomada depois que os ataques iraquianos passaram a visar alvos civis, mais vulneráveis. Entretanto a ONU teria, segundo os militares, pedido um esquema de segurança mais leve em suas instalações na tentativa de passar uma imagem mais amigável.
O complexo que abrigava a sede da ONU se estendia por uma área de 200 por 300 metros à beira do rio Tigre e foi erguido nos anos 1970 como o Canal Hotel, o mais conhecido da capital iraquiana antes da entrada das redes estrangeiras, na década seguinte.
O prédio principal, no qual ficava o escritório de Vieira de Mello, tinha três andares. A ONU usava as instalações desde 1991, após a Guerra do Golfo. Era no prédio que eram hospedados os inspetores de armas do organismo até o ex-ditador Saddam Hussein proibir as vistorias, em 1998.
Os funcionários da ONU foram removidos do hotel em março, antes da invasão anglo-americana, e retornaram em 1º de maio, quando foi declarado o fim dos principais confrontos.

Com agências internacionais

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