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São Paulo, quarta-feira, 20 de agosto de 2003

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Preso sob uma viga de ferro, brasileiro pediu "água"

DA REDAÇÃO

"Água, água". Essas foram as últimas palavras proferidas pelo brasileiro Sérgio Vieira de Mello, 55, representante especial da ONU no Iraque, segundo um segurança da sede das Nações Unidas em Bagdá.
O escritório de Vieira de Mello ficava no segundo andar do prédio, mas, após a explosão do caminhão-bomba, seu assessor Ghassan Salamé afirmou tê-lo visto ferido no térreo, com uma viga de ferro sobre as pernas.
"Subi ao segundo andar e o vi embaixo, imobilizado. Gritei "Sérgio, Sérgio", e ele respondeu "Ghassan'", contou. "Disse a ele: "Sérgio, não se preocupe, vamos voltar para buscá-lo. Vamos tirar você daí'", afirmou Salamé. Em seguida, chegou um segurança, a quem Vieira de Mello pediu água, em voz baixa.
Segundo relato do guarda à agência France Presse, um outro segurança escavou os escombros com as mãos: "Quando chegou ao lugar onde ele se encontrava, o corpo estava frio, ele havia perdido muito sangue pelas pernas".
A morte de Vieira de Mello foi confirmada pela ONU cerca de cinco horas após o atentado. Antes, ele foi dado como seriamente ferido sob os escombros.
Fayez Sarhan, funcionário da ONU, disse ter visto o momento em que o caminhão-bomba -aparentemente uma betoneira amarela- atingiu a parede do antigo Canal Hotel, transformado em sede da ONU.
A funcionária Alice Yacoub estava na cafeteria. "Tudo caiu na minha cabeça", disse.
O porta-voz da ONU em Bagdá, M. Salim Lone, trabalhava em seu computador: "Estava a cerca de 60 metros do local da explosão e achei que a bomba estivesse atrás de mim". "Corri para o corredor. Todo mundo estava seriamente ferido, com ferimentos expostos e sangue no rosto", disse.
Segundo Lone, a área em torno do escritório do representante da ONU foi especialmente danificada. "As salas sob e em torno do escritório já não existem. São só destroços", afirmou.
De acordo com Mouna Naïm, correspondente do jornal francês "Le Monde" que participava de uma conferência de imprensa no prédio, "tudo ruiu". "Foi uma verdadeira carnificina", disse.
A explosão também destruiu parte de um hospital ao lado, e o funcionário Abdul Rahman al Apshan foi atingido: "De repente, me vi no ar e caindo no chão. Não esperávamos isso. É contra a população do Iraque".
Alguns dos 73 pacientes ficaram presos nos escombros por mais de uma hora. Outros foram levados para fora em cadeiras de roda, praticamente nus, e deixados sob o sol, no meio da confusão.


Com agências internacionais

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