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São Paulo, quarta-feira, 20 de agosto de 2003

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Ninguém faria mais falta que ele, diz Kofi Annan

ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

"Não consigo pensar em ninguém que faria mais falta", disse o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, ao reagir à morte do brasileiro Sérgio Vieira de Mello.
Annan, que cancelou suas férias na Finlândia para estar de volta hoje a Nova York, distribuiu comunicado em que chamou o diplomata de "colega e amigo".
Enquanto isso, a sede das Nações Unidas em Nova York ficou paralisada ontem após o ataque em Bagdá. As televisões espalhadas pelo prédio foram cercadas por funcionários que acompanhavam as notícias do Iraque.
A certa altura apareceu na tela o porta-voz de Vieira de Mello, M. Salim Lone, chorando. Pouco depois, foi a vez de seu antecessor no cargo, Ahmad Fawzi, já de volta a seu posto no escritório londrino da ONU, falar sobre o chefe. "Ele era um político astuto. Muito charmoso, sabia como lidar com as pessoas. Estava sempre impecavelmente vestido. Era ótimo trabalhar com ele", disse.
As bandeiras dos 191 países-membros, que ficam enfileiradas em frente à sede da entidade, foram retiradas após a confirmação da morte de Vieira de Mello. Sobrou hasteada apenas a bandeira da ONU, a meio-pau.
"Todos aqui estamos chocados com o que aconteceu", disse uma funcionária da missão americana.
Com a ausência de Kofi Annan, seu porta-voz, Fred Eckhard, era a única fonte de informação. Sua primeira declaração pública foi muito concorrida. A ONU teve que barrar funcionários que queriam entrar na sala de entrevistas, reservada a jornalistas.
Lá dentro, Eckhard elogiava Vieira de Mello: "Muita gente o via como uma estrela em rápida ascensão no secretariado".
O embaixador brasileiro na ONU, Ronaldo Sardenberg, aponta que Vieira de Mello tinha chance de se tornar secretário-geral da entidade. "Era um sujeito que sempre teve coragem de enfrentar umas paradas muito difíceis", afirmou.
"Ele certamente estava entre as pessoas que poderiam se tornar secretário-geral da ONU. Também desse ponto de vista, é uma perda terrível", disse à Folha o embaixador francês na entidade, Jean Marc de la Sablière. "Ele era extremamente respeitado porque era visto como dedicado à missão das Nações Unidas."
Pela manhã, antes da confirmação da morte do brasileiro, Annan distribuíra comunicado dizendo que "nada serviria como desculpa para este ato de violência não-provocada e assassina contra homens e mulheres que foram ao Iraque com o propósito de ajudar a população".
Mais tarde, definiu o brasileiro como "servidor da humanidade, dedicado a aliviar o sofrimento de homens e mulheres, ajudando-os a resolver seus conflitos e a reconstruir sociedades destruídas pela guerra".
Annan mencionou os diversos cargos ocupados por Vieira de Mello na ONU e afirmou: "Em todas as funções, ele impressionou a todos com seu charme, sua energia e sua habilidade em conseguir fazer as coisas não pela força, mas pela diplomacia e persuasão".


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