|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Ninguém faria mais falta que ele, diz Kofi Annan
ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK
"Não consigo pensar em ninguém que faria mais falta", disse o
secretário-geral da ONU, Kofi
Annan, ao reagir à morte do brasileiro Sérgio Vieira de Mello.
Annan, que cancelou suas férias
na Finlândia para estar de volta
hoje a Nova York, distribuiu comunicado em que chamou o diplomata de "colega e amigo".
Enquanto isso, a sede das Nações Unidas em Nova York ficou
paralisada ontem após o ataque
em Bagdá. As televisões espalhadas pelo prédio foram cercadas
por funcionários que acompanhavam as notícias do Iraque.
A certa altura apareceu na tela o
porta-voz de Vieira de Mello, M.
Salim Lone, chorando. Pouco depois, foi a vez de seu antecessor no
cargo, Ahmad Fawzi, já de volta a
seu posto no escritório londrino
da ONU, falar sobre o chefe. "Ele
era um político astuto. Muito
charmoso, sabia como lidar com
as pessoas. Estava sempre impecavelmente vestido. Era ótimo
trabalhar com ele", disse.
As bandeiras dos 191 países-membros, que ficam enfileiradas
em frente à sede da entidade, foram retiradas após a confirmação
da morte de Vieira de Mello. Sobrou hasteada apenas a bandeira
da ONU, a meio-pau.
"Todos aqui estamos chocados
com o que aconteceu", disse uma
funcionária da missão americana.
Com a ausência de Kofi Annan,
seu porta-voz, Fred Eckhard, era a
única fonte de informação. Sua
primeira declaração pública foi
muito concorrida. A ONU teve
que barrar funcionários que queriam entrar na sala de entrevistas,
reservada a jornalistas.
Lá dentro, Eckhard elogiava
Vieira de Mello: "Muita gente o
via como uma estrela em rápida
ascensão no secretariado".
O embaixador brasileiro na
ONU, Ronaldo Sardenberg,
aponta que Vieira de Mello tinha
chance de se tornar secretário-geral da entidade. "Era um sujeito
que sempre teve coragem de enfrentar umas paradas muito difíceis", afirmou.
"Ele certamente estava entre as
pessoas que poderiam se tornar
secretário-geral da ONU. Também desse ponto de vista, é uma
perda terrível", disse à Folha o
embaixador francês na entidade,
Jean Marc de la Sablière. "Ele era
extremamente respeitado porque
era visto como dedicado à missão
das Nações Unidas."
Pela manhã, antes da confirmação da morte do brasileiro, Annan
distribuíra comunicado dizendo
que "nada serviria como desculpa
para este ato de violência não-provocada e assassina contra homens e mulheres que foram ao
Iraque com o propósito de ajudar
a população".
Mais tarde, definiu o brasileiro
como "servidor da humanidade,
dedicado a aliviar o sofrimento de
homens e mulheres, ajudando-os
a resolver seus conflitos e a reconstruir sociedades destruídas
pela guerra".
Annan mencionou os diversos
cargos ocupados por Vieira de
Mello na ONU e afirmou: "Em todas as funções, ele impressionou a
todos com seu charme, sua energia e sua habilidade em conseguir
fazer as coisas não pela força, mas
pela diplomacia e persuasão".
Texto Anterior: Brasil perde um de seus melhores homens, diz Bush Próximo Texto: ONU se compromete a permanecer no Iraque Índice
|