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São Paulo, quarta-feira, 20 de agosto de 2003

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Planalto se mantém contra a guerra

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A morte do brasileiro Sérgio Vieira de Mello, ontem, em Bagdá, não muda o posicionamento político do governo em relação à invasão do Iraque: "O Brasil continua sempre contra a guerra, da mesma forma que continua contra o terrorismo", disse o chanceler Celso Amorim.
O governo deu tratamento especial à morte de Vieira de Mello. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decretou luto oficial do país por três dias, colocou um avião à disposição da família, caso o enterro seja no Brasil, e decidiu conceder ao diplomata a medalha da Ordem Nacional do Mérito, no grau máximo.
A última personalidade que recebeu essa condecoração foi o piloto de Fórmula 1 Ayrton Senna, morto em 1994, como fez questão de comparar Amorim, que se declarou amigo de Vieira de Mello.
Na última conversa dos dois, em junho, em Amã, na Jordânia, Vieira de Mello, no relato do chanceler, lhe fez um pedido explícito: que o Brasil apoiasse cada vez mais o papel da ONU no processo de pacificação do Iraque.
Até a confirmação da morte do brasileiro, pouco depois das 14h, o Itamaraty teve enorme dificuldade de obter informações precisas. A embaixada brasileira em Bagdá foi fechada durante a primeira Guerra do Golfo, em 1991. Os contatos foram via Amã e pelos escritórios brasileiros em Nova York, Genebra e Londres.
A primeira notícia chegou ao chanceler quando ele estava a caminho do Palácio da Alvorada para uma reunião com Lula: havia três mortos, e o brasileiro estava consciente sob os escombros.
Por volta do meio-dia, o Itamaraty soltou a primeira nota condenando o atentado e lamentando que uma das vítimas tivesse sido um brasileiro. Logo depois, as TVs anunciavam que Vieira de Mello estava bem, já internado no hospital. Um telefonema do Itamaraty para a missão brasileira na ONU, em Nova York, desmentiu.
Amorim telefonou pessoalmente para o chefe-de-gabinete do secretário-geral da ONU, Iqbal Riza, e soube que as condições eram muito graves. Mas Vieira de Mello tinha feito pelo menos um contato por celular e pedido água.
O Itamaraty não sabia o motivo da morte. As hipóteses eram falta de ar, novo desabamento ou erro da equipe de resgate.
Lula ficou sabendo da morte pouco antes de iniciar uma declaração conjunta com o presidente do Chile, Ricardo Lagos, na Granja do Torto. Antes de falar sobre a reunião com o chileno, avisou que poderia ter uma notícia ruim. Amorim fazia um último telefonema para Riza em Nova York, combinando avisar a família: "Não queríamos que [a família] ficasse sabendo pela imprensa", explicou depois.
Enquanto a ONU avisava a irmã de Vieira de Mello no Rio, Amorim falava ao telefone com um sobrinho dele, André. Lula fez então o anúncio.
Amorim e Vieira de Mello se conheceram em Nova York, em 1999, quando o atual chanceler era embaixador do Brasil na ONU e presidente do Conselho de Segurança. Vieira de Mello, então subsecretário para Assuntos Humanitários da ONU, participou de um dos três painéis instalados na ocasião para -"por ironia", como frisou Amorim ontem- tratar do Iraque.
O diplomata da ONU compareceu à posse de Lula no início do ano, representando a organização. Amorim disse que ele "estava em ascensão".


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