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Resistência quer descreditar coalizão
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
O ataque à sede da ONU no Iraque evidenciou uma mudança da
resistência iraquiana que já vinha
sendo observada desde o atentado contra a Embaixada da Jordânia, em 7 de agosto. A oposição
tornou-se mais estratégica e organizada, não poupando alvos civis.
Esse fenômeno tem duas razões,
segundo analistas ouvidos pela
Folha. "Primeiro, há uma tentativa dos grupos que se opõem às
forças de ocupação de convencer
populações de outros países, sobretudo a americana e a britânica,
de que a veleidade de reconstruir
o Iraque constitui um esforço vão,
já que o país é tão hostil que não
há chance de sucesso", analisou
Davis Bobrow, do Centro Ridgway para Estudos sobre Segurança Internacional (Pittsburgh).
"Segundo, ataques aos tipos de
alvo que esses grupos têm privilegiado ultimamente, como oleodutos, redes de distribuição de
água ou a própria ONU, só fazem
sentido se os líderes da resistência
acreditarem que, neste momento,
seja crucial impedir que a vida da
população civil iraquiana melhore em termos práticos. Tudo isso
denota certa estratégia e planejamento, o que não existia logo
após o fim dos principais combates", acrescentou o pesquisador.
De acordo com William L.
Nash, general da reserva do Exército dos EUA e diretor do Centro
para Ação Preventiva do Council
on Foreign Relations (Washington), a tentativa dos grupos que
protagonizam a resistência iraquiana é "descreditar a habilidade
da coalizão anglo-americana de
manter a segurança no Iraque,
principalmente em sua capital".
"Semeando o caos, eles tentam
mostrar à população iraquiana
que os esforços de reconstrução
não estão sendo bem-sucedidos.
Se isso ocorre, a culpa, no mínimo
aos olhos da resistência iraquiana,
é da coalizão anglo-americana,
que comanda todos os trabalhos",
apontou o general Nash.
Para Bobrow, "o raciocínio da
resistência é simples: vamos impedir que os EUA ganhem a guerra pelos corações e pelas mentes
dos iraquianos". "Interessante é o
momento em que essa transformação da oposição armada ocorre. Se faz isso agora, é porque pensa que chegou a hora de tentar influenciar a opinião pública internacional e a iraquiana. Esta, vendo que sua situação não melhora,
tenderá a criticar a coalizão."
Outro aspecto vital da transformação da resistência é como ela
afeta o moral das tropas anglo-americanas que estão no Iraque.
Segundo Bobrow, "os militares
dos EUA já sabem que Washington cometeu um erro básico" ao
colocá-los na situação atual.
"Antes eles estavam frustrados
com os ataques que sofriam. Agora estão decepcionados porque
perceberam que a crise é ainda
mais grave, já que nem mesmo
funcionários internacionais são
poupados. Os soldados do Exército e os marines estão muito irritados com a cúpula civil da defesa
americana", afirmou Bobrow.
Nash não concorda. "Esse tipo
de atentado dará alento aos militares dos EUA, que estão preparados a enfrentar o desafio. Ademais, a comunidade internacional deverá mostrar-se mais favorável aos esforços americanos."
Ímã para extremistas
Para Richard Bolliet, especialista em islã da Universidade Columbia (Nova York), a situação
tende a agravar-se em breve. "O
Iraque está se tornando um ímã
que atrai extremistas de outras
partes do mundo islâmico. Já há
centenas, talvez milhares, de sírios, jordanianos ou sauditas que
lutam ao lado dos iraquianos."
Para Bobrow, isso reflete outro
"erro básico" da administração
americana. "Inúmeros analistas
preveniram Washington do risco
potencial que a invasão de um
país árabe e muçulmano representava. O Iraque poderá transformar-se no novo Afeganistão."
A URSS tentou debelar a resistência afegã por dez anos, de 79 a 89,
antes de deixar o país derrotada.
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