São Paulo, sexta-feira, 20 de agosto de 2004

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Jim MacMillan/Associated Press
Prédio explode em Najaf ao ser atingido pela primeira bomba disparada pelos EUA em um ataque aéreo contra alvos da insurgência


IRAQUE SOB TUTELA

Após aceitar acordo, clérigo radical descumpre ordem de desarme e leva ao fracasso nova tentativa de trégua

EUA bombardeiam cidade sagrada xiita

DA REDAÇÃO

Fracassou novamente a tentativa de trégua em Najaf, onde as forças americanas e a milícia do clérigo radical xiita Moqtada al Sadr se enfrentam há mais de duas semanas.
O clérigo -que na véspera aceitara em carta um acordo de cessar-fogo pelo qual teria de depor armas- desobedeceu o ultimato do governo interino iraquiano, e aviões dos EUA bombardearam alvos militares na cidade sagrada no sul do Iraque.
Numa reviravolta em relação ao acordo, o xeque Ahmed al Sheibani, assessor de Al Sadr, ao ser indagado sobre as demandas feitas pelo governo interino em troca da anistia aos rebeldes -desarme, desmantelamento da milícia e abandono do templo do imã Ali-, respondeu: "Está muito claro que as rejeitamos".
Integrantes da milícia -o Exército Mehdi- e o próprio clérigo seguem entrincheirados no templo do imã Ali, o principal santuário xiita. Após o ataque, assessores do líder radical disseram que ele ordenou que seus seguidores deixassem o local, mas nenhum movimento foi constatado.
Os bombardeiros americanos visaram alvos nas proximidades do templo, mas preservaram a construção, temendo que qualquer dano ao santuário provocasse um levante nacional no país majoritariamente xiita.
Durante a noite, ataques ainda ocorriam. Veículos blindados mantiveram-se estacionados nas proximidades do santuário e de um cemitério na periferia.
Mais cedo, os insurgentes haviam atacado com morteiros uma delegacia na cidade, matando sete policiais e ferindo 35.
O atual conflito, que pôs fim a dois meses de trégua e transformou Najaf no maior foco de tensão do Iraque, começou no último dia 5 com um ataque da insurgência contra uma delegacia. As forças americanas acorreram em defesa dos policiais iraquianos. Desde então, travam combates diários com os insurgentes nas cercanias da cidade.
Além do bombardeio de ontem, os americanos entraram no centro histórico de Najaf na semana passada, mas recuaram ante as críticas de líderes religiosos e políticos dentro e fora do país.
Apesar da intensidade, não ficou claro se a operação americana era o ataque derradeiro mencionado pelo gabinete iraquiano. O governo do premiê interino Iyad Allawi manteve o tom de ultimato. "Esta é a última chamada para que eles se desarmem, abandonem o templo sagrado e levem em consideração os interesses nacionais", disse Allawi em uma entrevista coletiva em Bagdá.
Na capital, o bairro xiita de Sadr City voltou a ser palco de confrontos entre o Exército Mehdi e as forças dos EUA. Um porta-voz da milícia disse que pelo menos 10 pessoas -cinco civis e cinco insurgentes- morreram em uma série de "embates esporádicos", que deixaram mais 20 feridos.
O Ministério da Saúde iraquiano contabilizou oito mortos civis. Na véspera, o comando americano disse ter matado cerca de 50 insurgentes no bairro.
Um morteiro atingiu o teto da Embaixada dos EUA em Bagdá, mas não causou danos. No extremo sul do país, na também xiita Basra, a sede e os depósitos da South Oil Co. foram incendiados.
O fogo não causou prejuízo à produção de petróleo, que tem na cidade sua principal via de escoamento. Ainda assim, o preço do barril de petróleo tipo U.S. light chegou a históricos US$ 48,75, com o que ocorre no Iraque.
Os EUA também voltaram a bombardear Fallujah, no oeste do Iraque, onde o comando americano acredita estar escondido o terrorista jordaniano Abu Musab Zarqawi, acusado de planejar uma série de atentados no Iraque em meados deste ano. A cidade, um dos locais mais violentos do pós-guerra, foi alvo freqüente de bombardeios em junho e julho.


Com agências internacionais

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