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JUSTIÇA
Teto para punição de criminosos comuns era de 25 anos; medida é resposta a protestos pela onda de seqüestros no país
Argentina eleva pena máxima para 50 anos
CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES
Os crescentes protestos populares contra o aumento da violência
na Argentina, sobretudo de seqüestros, produziu uma mudança
drástica no Código Penal do país.
A Câmara dos Deputados aprovou anteontem um projeto de lei
que eleva de 25 para 50 anos a pena máxima por crimes comuns.
O projeto fazia parte de uma lista de reivindicações apresentada
em abril pelo empresário Juan
Carlos Blumberg, pai do jovem
Axel Blumberg, seqüestrado e
morto no início do ano em Buenos Aires. Desde a morte do filho,
Blumberg iniciou uma cruzada de
protestos pelo país e acompanhou pessoalmente a evolução de
todos os seqüestros que ocorreram na Argentina.
Em abril, o empresário convocou uma passeata que reuniu milhares de pessoas em frente ao
Congresso, o que deu início a uma
onda de protestos populares. A
mudança no Código Penal foi
aprovada dias antes da nova passeata que está sendo preparada
por Blumberg, marcada para a
próxima quinta-feira.
A alteração na lei também prevê
um tempo mínimo de 35 anos de
cumprimento da pena antes de
haver possibilidade de pedir liberdade condicional, em caso de delitos graves.
Antes da mudança, se o réu fosse processado por vários delitos
com penas diferentes, não era
permitido somar as penas. A condenação ocorria baseada no delito
que previa mais tempo de prisão.
Por exemplo: se o réu fosse considerado culpado por delitos que
previam de cinco e 15 anos de prisão, não poderia ser condenado a
20 anos, mas apenas a 15. A nova
lei permite a soma, desde que não
ultrapasse 50 anos. No Brasil, o limite máximo previsto na lei para
a pena de prisão é de 30 anos.
"É uma medida para apaziguar
a indignação das pessoas, mas
não serve para diminuir o número de delitos", disse ao jornal
"Clarín" o advogado e ex-decano
da Universidade de Buenos Aires
Andres D'Alessio. "Quando as
pessoas perceberem que os delitos não diminuíram, pedirão penas mais altas. Mais eficiente seria
melhorar o trabalho da polícia e
adotar medidas para diminuir a
pobreza e a má distribuição de
renda", disse.
Na avaliação do advogado criminalista Eduardo Gerome, penas maiores podem não coibir o
crime, mas poderão baixar o número de delitos porque "os delinqüentes perigosos ficarão mais
tempo presos".
Depois da crise econômica, os
registros de seqüestros-relâmpago e os com pedido de resgate deram um salto na Argentina. Enquanto o número de delitos registrados subiu de 1,062 milhão em
1999 para 1,340 milhão em 2002, o
número de seqüestros saltou de
oito em 1999 para 390 em 2003,
segundo a Justiça Federal.
Somente na Província de Buenos Aires, foram denunciados 20
seqüestros no mês de julho e 18
em junho, dos quais um foi extorsivo, segundo informou o secretário de Segurança, León Arslanian.
Os seqüestros aumentaram principalmente em San Isidro, uma
região de classe média alta que fica na Grande Buenos Aires. Foram cinco seqüestros em junho e
11 em julho. No primeiro semestre, foram registrados 66 casos em
Buenos Aires, dos quais sete foram extorsivos.
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