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RESENHA
A ONU ainda é necessária
Livro de Paul Kennedy resgata origem da organização para apontar seu futuro
STEPHEN SCHLESINGER
DO "NEW YORK TIMES"
As Nações Unidas atravessaram turbulências nos últimos
cinco anos. Enfrentaram a hostilidade da direita norte-americana, a opção de seu maior doador -os EUA- pela ação unilateral, um movimento frustrado
de reforma interna, escândalos
sexuais e financeiros. Dado o
histórico desanimador, que valor a organização pode ter hoje?
"The Parliament of Man: The
Past, Present and Future of the
United Nations" surge para relembrar por que a organização
segue necessária. No livro, Paul
Kennedy, renomado historiador da Universidade Yale, autor
do aclamado "Ascensão e Queda das Grandes Potências",
compila um astucioso estudo
da ONU, da origem aos dias
atuais, que ajuda a pôr o papel
da organização em perspectiva.
Kennedy nos lembra que a
ONU remonta a dois presidentes dos EUA, Franklin Roosevelt e Harry Truman. Após a
Segunda Guerra Mundial, os
dois tentaram criar uma organização baseada na crença de
"segurança coletiva" para garantir a paz. Aprendendo com o
fracasso da Liga das Nações
mas também preocupados em
preservar a soberania nacional,
misturaram idealismo e realismo ao esboçar a Carta da ONU.
Em 1945, em São Francisco,
acompanhados por líderes de
49 países, criaram uma Assembléia Geral na qual cada nação
teria direito igual de voto -vitória do idealismo- e um Conselho de Segurança cujos éditos
sobre guerra e paz seriam compulsórios para todos os integrantes e que contaria com cinco membros permanentes (os
mais poderosos em 1945 EUA,
China, Rússia, Reino Unido e
França), os únicos com poder
de veto -vitória do realismo.
Mas com o desenrolar do
pós-guerra, a tarefa central da
ONU, conter agressões, definhou ante o impasse criado no
conselho sob a Guerra Fria.
Ainda assim, diz Kennedy,
"há na prática muitas ONUs".
Há, por exemplo, a ONU dos
secretários-gerais, que conquistaram fama como mediadores. Há a ONU das missões
de paz, muitas vezes complicadas e dispendiosas mas que se
provaram indispensáveis para
a segurança mundial e se ampliaram para incluir esforços
de reconstrução nacional, monitoramento eleitoral e redação de cartas constitucionais.
Há a ONU do "soft power",
cujas responsabilidades incluem assuntos femininos, infantis, ambientais, sanitários,
de refugiados, direitos humanos e jurídicos. E, com a queda
do Muro de Berlim, o Conselho
de Segurança voltou a ter destaque. Todas essas ONUs têm
históricos controversos. Mas o
argumento central de seu trabalho é: considere a alternativa.
Como passar ao mundo, especialmente ao Congresso dos
EUA, a mensagem de que a
ONU é útil? Kennedy vê a organização como uma espécie de
assembléia municipal contínua, que dispõe regras sobre
como viver em companhia uns
dos outros no planeta.
Ele cita Truman ao resumir o
desafio dos norte-americanos,
lembrando aos que não aprovavam o envolvimento em questões internacionais que "se um
país é capaz de se manter em
segurança, deve estar disposto
a compartilhar essa segurança
com os demais. É esse o preço a
cada nação pela paz mundial".
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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