São Paulo, domingo, 20 de agosto de 2006

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RESENHA

A ONU ainda é necessária

Livro de Paul Kennedy resgata origem da organização para apontar seu futuro

STEPHEN SCHLESINGER
DO "NEW YORK TIMES"

As Nações Unidas atravessaram turbulências nos últimos cinco anos. Enfrentaram a hostilidade da direita norte-americana, a opção de seu maior doador -os EUA- pela ação unilateral, um movimento frustrado de reforma interna, escândalos sexuais e financeiros. Dado o histórico desanimador, que valor a organização pode ter hoje? "The Parliament of Man: The Past, Present and Future of the United Nations" surge para relembrar por que a organização segue necessária. No livro, Paul Kennedy, renomado historiador da Universidade Yale, autor do aclamado "Ascensão e Queda das Grandes Potências", compila um astucioso estudo da ONU, da origem aos dias atuais, que ajuda a pôr o papel da organização em perspectiva.
Kennedy nos lembra que a ONU remonta a dois presidentes dos EUA, Franklin Roosevelt e Harry Truman. Após a Segunda Guerra Mundial, os dois tentaram criar uma organização baseada na crença de "segurança coletiva" para garantir a paz. Aprendendo com o fracasso da Liga das Nações mas também preocupados em preservar a soberania nacional, misturaram idealismo e realismo ao esboçar a Carta da ONU.
Em 1945, em São Francisco, acompanhados por líderes de 49 países, criaram uma Assembléia Geral na qual cada nação teria direito igual de voto -vitória do idealismo- e um Conselho de Segurança cujos éditos sobre guerra e paz seriam compulsórios para todos os integrantes e que contaria com cinco membros permanentes (os mais poderosos em 1945 EUA, China, Rússia, Reino Unido e França), os únicos com poder de veto -vitória do realismo.
Mas com o desenrolar do pós-guerra, a tarefa central da ONU, conter agressões, definhou ante o impasse criado no conselho sob a Guerra Fria. Ainda assim, diz Kennedy, "há na prática muitas ONUs".
Há, por exemplo, a ONU dos secretários-gerais, que conquistaram fama como mediadores. Há a ONU das missões de paz, muitas vezes complicadas e dispendiosas mas que se provaram indispensáveis para a segurança mundial e se ampliaram para incluir esforços de reconstrução nacional, monitoramento eleitoral e redação de cartas constitucionais.
Há a ONU do "soft power", cujas responsabilidades incluem assuntos femininos, infantis, ambientais, sanitários, de refugiados, direitos humanos e jurídicos. E, com a queda do Muro de Berlim, o Conselho de Segurança voltou a ter destaque. Todas essas ONUs têm históricos controversos. Mas o argumento central de seu trabalho é: considere a alternativa. Como passar ao mundo, especialmente ao Congresso dos EUA, a mensagem de que a ONU é útil? Kennedy vê a organização como uma espécie de assembléia municipal contínua, que dispõe regras sobre como viver em companhia uns dos outros no planeta.
Ele cita Truman ao resumir o desafio dos norte-americanos, lembrando aos que não aprovavam o envolvimento em questões internacionais que "se um país é capaz de se manter em segurança, deve estar disposto a compartilhar essa segurança com os demais. É esse o preço a cada nação pela paz mundial".


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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