São Paulo, segunda-feira, 20 de agosto de 2007

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Atropelamento reacende hostilidade a Kirchner

Ex-funcionário da Província de Santa Cruz atingiu manifestantes de oposição

Motorista diz ter se sentido ameaçado; incidente ocorreu enquanto primeira-dama fazia comício na cidade natal do marido

RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES

O presidente da Argentina, Néstor Kirchner, ficou cinco meses sem ir à sua cidade natal, Río Gallegos, onde se lançou à política, à espera de que se acalmasse a conflituosa situação iniciada com uma greve de professores no começo deste ano. Seu retorno, porém, reacirrou os ânimos na capital da Província de Santa Cruz, cada vez mais hostil ao kirchnerismo.
Enquanto a primeira-dama, Cristina Fernández de Kirchner, candidata a suceder o marido, fazia um comício em clube da cidade, na noite da última sexta-feira, Daniel Varizat, ex-subsecretário-geral da Presidência, atropelou 17 manifestantes que protestavam contra a visita dos Kirchner, deixando cinco deles gravemente feridos.
Varizat, já detido, diz que agiu em legítima defesa -tinha medo de ser morto. Os manifestantes, porém, asseguram que o ex-subsecretário atropelou seus colegas de propósito.
Varizat também foi, até maio deste ano, secretário de Governo da Província de Santa Cruz e é visto pelos sindicalistas como um dos principais incentivadores de uma repressão policial que deixou 23 pessoas feridas numa passeata em maio.
O kirchnerismo agiu para se distanciar rapidamente do ato de Varizat -enquanto o presidente e a primeira-dama partiram para sua casa em El Calafate, no interior da Província, o governador Daniel Peralta qualificou de "irracionalidade" o ato do ex-funcionário.
Mas Río Gallegos voltou a ver manifestações contra Kirchner que incluíram pichações e a destruição de janelas no palácio do governo da Província.

Páreo perdido
A crescente hostilidade contra Kirchner e seus aliados faz com que o governo dê por perdida a cidade de Río Gallegos, que representa 40% dos votantes de Santa Cruz. A incerteza eleitoral levou o presidente a tirar do páreo pelo governo sua irmã e ministra, Alicia Kirchner (Desenvolvimento Social), impulsionando a candidatura de Peralta. O kirchnerismo pode ficar pela primeira vez sem o governo desde 1991. A importância de Santa Cruz é mais simbólica que eleitoral -seus cerca de 130 mil eleitores representam apenas 0,5% do total do eleitorado argentino.
O reacendimento do conflito em Santa Cruz -além dos protestos, os sindicatos de Río Gallegos convocaram uma paralisação geral para amanhã- é mais um obstáculo para as pretensões eleitorais de Cristina, já abaladas por escândalos como o caso da mala com US$ 790 mil com a qual o venezuelano Guido Antonini Wilson, acompanhado por funcionários dos governos Chávez e Kirchner, tentou entrar na Argentina.
Duas pesquisas divulgadas ontem pelo "Clarín", porém, mostram Cristina com mais de 45% das intenções de voto.


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