São Paulo, segunda-feira, 20 de agosto de 2007

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EUA pressionam Musharraf a dividir poder

Washington quer salvar aliado paquistanês fazendo-o compor com ex-rival política Benazir Bhutto

MARK MAZZETTI
DO "NEW YORK TIMES"

Esforçando-se para encontrar um modo de manter o general Pervez Musharraf no poder no Paquistão em meio à crise política crescente no país, os EUA estão pressionando o ditador para dividir o poder com uma rival, a fim de ampliar sua base de apoio.
Aliado importante dos EUA desde os ataques do 11 de Setembro, Musharraf vem perdendo tanto apoio interno nos últimos meses que as autoridades americanas aderiram à idéia de que uma aliança com a ex-primeira-ministra Benazir Bhutto poderia representar sua melhor chance de permanecer na Presidência.
Os dois se reuniram em Abu Dhabi em julho, mas nenhum dos dois admitiu o encontro publicamente. Desde então, muitos no Paquistão ouviram rumores da reunião e vêm expressando dúvidas quanto à conveniência política e viabilidade operacional de tal acordo.
Entretanto, após semanas de intranqüilidade no Paquistão, autoridades americanas dizem que um acordo de partilha do poder pelo qual Bhutto poderia tornar-se primeira-ministra ajudaria a desarmar um potencial confronto. Funcionários dos EUA disseram temer que o general Musharraf possa acabar sendo derrubado e substituído por um líder que poderia mostrar-se menos confiável que ele como guardião do arsenal nuclear paquistanês e aliado na luta contra o terrorismo.
Mesmo que Musharraf faça questão de continuar a ser o líder militar do país, autoridades americanas dizem que a partilha do poder poderia imprimir mais democracia ao Paquistão, que vive sob uma ditadura militar desde 1999, quando Musharraf tomou o poder, derrubando o sucessor de Bhutto, Nawaz Sharif.
Ao mesmo tempo em que defendem um acordo de partilha, representantes americanos dizem temer que uma redução no poder de Musharraf possa complicar os esforços antiterror dos EUA, num momento em que a Al Qaeda está se reerguendo nas áreas tribais do Paquistão. Eles dizem, também, que a volta de Bhutto pode alimentar o nacionalismo paquistanês e provocar novos chamados para que o Paquistão se afaste de Washington.

Conversas
Nas últimas semanas Bhutto vem mantendo conversações com figuras de alto escalão do governo Bush.
Autoridades americanas dizem que a complexidade da política paquistanesa dificulta as previsões quanto à forma que poderia assumir qualquer arranjo político. Mas um primeiro passo poderia ser uma decisão de Musharraf de permitir a realização de eleições parlamentares abertas no próximo mês, porque tudo indica que o partido de Bhutto poderia conquistar a maioria dos votos.
Uma vitória de seu partido abriria o caminho para Bhutto tornar-se premiê, mas ela provavelmente precisaria do apoio de Musharraf para superar outros obstáculos, entre os quais uma lei que proíbe que ex-premiês voltem a exercer o cargo. Em troca, o apoio de Bhutto poderia ser crucial para ajudar Musharraf a alcançar uma vitória nas eleições presidenciais subseqüentes.
Filha de um primeiro-ministro paquistanês executado pelos militares, Benazir Bhutto cativou o mundo muçulmano quando se tornou a primeira mulher a ser premiê de um país islâmico. Seu governo foi desfeito em 1996 em meio a acusações de corrupção, e desde 1999 ela vive no exílio para evitar ser processada.
Funcionários do Departamento de Estado dos EUA vêm dizendo a Musharraf há meses que ele precisa ampliar sua base política e se tornar menos dependente dos grupos islâmicos que cortejou para reforçar seu poder.
Teresita C. Schaffer, especialista no Paquistão do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington, disse que as autoridades americanas vêem um acordo entre o general Musharraf e Bhutto como "potencial tábua de salvação, algo que permitiria a Musharraf envolver-se menos profundamente com os partidos religiosos". Schaffer afirmou que vê com ceticismo a possibilidade de qualquer aliança entre pesos-pesados políticos ser administrável a longo prazo.
A relação do governo Bush com o ditador paquistanês vem sendo tempestuosa. Musharraf tomou o partido dos EUA contra o Taleban após o 11 de Setembro e vem dando apoio aos esforços de contraterrorismo, apoio esse descrito pela inteligência americana como crucial. Mas autoridades americanas também têm ficado frustradas com o que vêem como sendo sua passividade nos esforços para combater os membros da Al Qaeda no Paquistão.


Colaboraram HELENE COOPER e CARLOTTA GALL

Tradução de CLARA ALLAIN


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