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EUA pressionam Musharraf a dividir poder
Washington quer salvar aliado paquistanês fazendo-o compor com ex-rival política Benazir Bhutto
MARK MAZZETTI
DO "NEW YORK TIMES"
Esforçando-se para encontrar um modo de manter o general Pervez Musharraf no poder no Paquistão em meio à crise política crescente no país, os
EUA estão pressionando o ditador para dividir o poder com
uma rival, a fim de ampliar sua
base de apoio.
Aliado importante dos EUA
desde os ataques do 11 de Setembro, Musharraf vem perdendo tanto apoio interno nos
últimos meses que as autoridades americanas aderiram à
idéia de que uma aliança com a
ex-primeira-ministra Benazir
Bhutto poderia representar sua
melhor chance de permanecer
na Presidência.
Os dois se reuniram em Abu
Dhabi em julho, mas nenhum
dos dois admitiu o encontro
publicamente. Desde então,
muitos no Paquistão ouviram
rumores da reunião e vêm expressando dúvidas quanto à
conveniência política e viabilidade operacional de tal acordo.
Entretanto, após semanas de
intranqüilidade no Paquistão,
autoridades americanas dizem
que um acordo de partilha do
poder pelo qual Bhutto poderia
tornar-se primeira-ministra
ajudaria a desarmar um potencial confronto. Funcionários
dos EUA disseram temer que o
general Musharraf possa acabar sendo derrubado e substituído por um líder que poderia
mostrar-se menos confiável
que ele como guardião do arsenal nuclear paquistanês e aliado na luta contra o terrorismo.
Mesmo que Musharraf faça
questão de continuar a ser o líder militar do país, autoridades
americanas dizem que a partilha do poder poderia imprimir
mais democracia ao Paquistão,
que vive sob uma ditadura militar desde 1999, quando Musharraf tomou o poder, derrubando o sucessor de Bhutto, Nawaz Sharif.
Ao mesmo tempo em que defendem um acordo de partilha,
representantes americanos dizem temer que uma redução no
poder de Musharraf possa
complicar os esforços antiterror dos EUA, num momento
em que a Al Qaeda está se reerguendo nas áreas tribais do Paquistão. Eles dizem, também,
que a volta de Bhutto pode alimentar o nacionalismo paquistanês e provocar novos chamados para que o Paquistão se
afaste de Washington.
Conversas
Nas últimas semanas Bhutto
vem mantendo conversações
com figuras de alto escalão do
governo Bush.
Autoridades americanas dizem que a complexidade da política paquistanesa dificulta as
previsões quanto à forma que
poderia assumir qualquer arranjo político. Mas um primeiro passo poderia ser uma decisão de Musharraf de permitir a
realização de eleições parlamentares abertas no próximo
mês, porque tudo indica que o
partido de Bhutto poderia conquistar a maioria dos votos.
Uma vitória de seu partido
abriria o caminho para Bhutto
tornar-se premiê, mas ela provavelmente precisaria do apoio
de Musharraf para superar outros obstáculos, entre os quais
uma lei que proíbe que ex-premiês voltem a exercer o cargo.
Em troca, o apoio de Bhutto poderia ser crucial para ajudar
Musharraf a alcançar uma vitória nas eleições presidenciais
subseqüentes.
Filha de um primeiro-ministro paquistanês executado pelos militares, Benazir Bhutto
cativou o mundo muçulmano
quando se tornou a primeira
mulher a ser premiê de um país
islâmico. Seu governo foi desfeito em 1996 em meio a acusações de corrupção, e desde 1999
ela vive no exílio para evitar ser
processada.
Funcionários do Departamento de Estado dos EUA vêm
dizendo a Musharraf há meses
que ele precisa ampliar sua base política e se tornar menos
dependente dos grupos islâmicos que cortejou para reforçar
seu poder.
Teresita C. Schaffer, especialista no Paquistão do Centro de
Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington, disse que as autoridades americanas vêem um acordo entre o general Musharraf e Bhutto como
"potencial tábua de salvação,
algo que permitiria a Musharraf envolver-se menos profundamente com os partidos religiosos". Schaffer afirmou que
vê com ceticismo a possibilidade de qualquer aliança entre
pesos-pesados políticos ser administrável a longo prazo.
A relação do governo Bush
com o ditador paquistanês vem
sendo tempestuosa. Musharraf
tomou o partido dos EUA contra o Taleban após o 11 de Setembro e vem dando apoio aos
esforços de contraterrorismo,
apoio esse descrito pela inteligência americana como crucial.
Mas autoridades americanas
também têm ficado frustradas
com o que vêem como sendo
sua passividade nos esforços
para combater os membros da
Al Qaeda no Paquistão.
Colaboraram HELENE COOPER e CARLOTTA
GALL
Tradução de CLARA ALLAIN
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