São Paulo, sábado, 20 de agosto de 2011

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FOCO

Advogado brasileiro defendeu 'Açougueiro dos Bálcãs' em Haia

ISABEL FLECK
DE SÃO PAULO

O ex-líder sérvio-bósnio Radovan Karadzic, acusado de genocídio na Guerra da Bósnia (1992-1995), nunca gostou da ideia de ter um advogado apontado pelo Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia (TPII), apesar de ser sua única opção.
Mas na equipe liderada pelo advogado do TPII Peter Robinson, que finalmente foi aceito por Karadzic em 2008, o "Açougueiro dos Bálcãs" encontrou alguém decidido a acreditar na sua versão.
O advogado brasileiro Luciano Mendonça, que se ofereceu para participar da equipe enquanto terminava o mestrado em direito internacional público em Haia em 2010, "vestiu a camisa" Đcomo ele mesmo diz.
Quis defender o acusado pela morte de mais de 8.000 muçulmanos em Srebrenica e pelo massacre de Sarajevo, em um cerco de 43 meses. Integrou o grupo com mais cinco advogados, entre janeiro e agosto de 2010.
"Percebia que ninguém da equipe acreditava [no que fazia]. Mas eu sempre vi a defesa dele como o meu trabalho, e não tinha o que questionar", defende Mendonça, que tinha 28 anos na época.
Nos encontros que teve com Karadzic, disse ter percebido no que muitos veem um monstro um homem "arrependido" e "carregado", que ficava o tempo todo estudando o próprio caso.
"Ele estava no lugar errado na hora errada Đcomo presidente de um país que estava se desmantelando", diz. Para Mendonça, "por ser muito fiel a seu partido", Karadzic também foi pressionado a tomar algumas das decisões que levaram às mortes.
Entre uma conversa e outra sobre o caso, Karadzic revelou ao brasileiro gostar do escritor Paulo Coelho. "Mas a conversa não fluiu, porque logo disse a ele que nunca tinha lido um livro dele."

INCONFORMADO
Aos 66 anos e enfrentando um julgamento sem previsão de término, Karadzic nunca teria se mostrado "conformado" com seu destino, segundo o advogado. Para Mendonça, ele tinha motivos para se incomodar: "Era uma guerra, e os dois lados cometeram atrocidades. Mas nenhum militar da Otan foi processado."
O brasileiro assegura nunca ter se questionado se deveria defender um homem acusado de exterminar milhares. "Nem sempre as ações tinham uma ordem direta dele. Muitas vezes, ele perdeu o controle."


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