São Paulo, sexta-feira, 20 de setembro de 2002

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ORIENTE MÉDIO

Palestino se explode em ônibus em Tel Aviv; em seguida, Exército invade QG do líder palestino em Ramallah

Atentado mata cinco; Israel isola Arafat

Maya Vidon/France Presse
Voluntário israelense examina o banco do motorista do ônibus atingido por um atentado terrorista palestino no centro de Tel Aviv


DA REDAÇÃO

Um atentado a bomba cometido por um terrorista suicida palestino matou cinco israelenses e feriu mais de 50 ontem em Tel Aviv. Como resposta, o governo de Israel decidiu isolar o presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Iasser Arafat, em seu quartel-general em Ramallah (Cisjordânia).
A explosão em Tel Aviv aconteceu um dia após outro homem-bomba ter matado um israelense e colocado fim a seis semanas sem atentados.
No momento em que o gabinete do premiê israelense, Ariel Sharon, ainda se reunia, tanques israelenses já haviam entrado no QG de Arafat. Foram feitos disparos em direção ao já destruído escritório de Arafat.
Segundo a ANP, dois guarda-costas de Arafat foram feridos. O líder palestino está no local, mas não foi atingido. Apesar de Israel anunciar o isolamento de Arafat agora, o presidente da ANP está há meses sem poder sair de seu QG. Desde dezembro, quando foi cercado em resposta a uma onda de atentados, ele teve autorização para deixar o local em poucas oportunidades.
Ontem, as forças israelenses, que estavam do lado de fora do QG, entraram no local onde está o líder palestino. Israel também exigia que 20 militantes palestinos suspeitos, que estariam no QG, se rendessem. Oito se entregaram.
Durante as operações, 23 palestinos foram presos por Israel em Ramallah. Eles não estão entre os militantes procurados.
Antes de saberem da decisão do gabinete de Israel, autoridades palestinas chegaram a pensar que Arafat seria expulso dos territórios palestinos. Saeb Erekat, principal negociador palestino, afirmou, após conversar com Arafat, que todos estavam temendo uma invasão ao escritório de Arafat.
"Pedimos às potências mundiais que intervenham com urgência para colocar um fim a essa agressão israelense", disse Erekat.
Dentro de Israel, há vários grupos que pedem a expulsão de Arafat. Nesta semana, o ex-premiê Binyamin Netanyahu, principal rival de Sharon dentro do Likud (partido conservador, do governo), voltou a defender essa idéia.
Porém o governo israelense afirma que exilar Arafat na faixa de Gaza ou em outro país traria problema diplomáticos para Israel e fortaleceria a imagem do líder palestino.
Segundo Israel, Arafat continua omisso em relação aos atentados. O líder palestino, no entanto, se defende afirmando que não tem condições de combater os terroristas, pois a sua polícia foi destruída em ataques israelenses, e as cidades palestinas estão ocupadas por Israel.
Além do isolamento de Arafat, outra medida tomada por Israel foi o restabelecimento do toque de recolher em quase todas as grandes cidades da Cisjordânia. Em alguns locais, como Belém, as restrições impostas por Israel haviam sido amenizadas.

Ataque
O atentado de ontem foi cometido por um homem-bomba que estava em um ônibus na rua Allenby, uma das mais movimentadas de Tel Aviv, por volta das 13h locais, quando muitas pessoas saíam para almoçar.
O suicida teria embarcado no ônibus momentos antes. Morreram três homens, entre eles o motorista, e duas mulheres. O ônibus, desgovernado, parou somente a cerca de 50 metros do local da explosão. Seis dos mais de 50 feridos estão em estado grave.
Os grupos extremistas islâmicos Hamas e Jihad Islâmico reivindicaram a ação. Não se sabe ao certo a qual dos dois grupos pertenceria o terrorista. O nome dele não foi divulgado, provavelmente para impedir represálias de Israel.
O Exército israelense está demolindo as casas das famílias dos terroristas e ameaça exilar os parentes. A medida visa inibir militantes extremistas a se tornar homens-bomba. Ontem mesmo, foi destruída a casa de um terrorista no subúrbio de Jerusalém, que cometeu atentado em dezembro do ano passado.

Bush
O presidente dos EUA, George W. Bush, condenou o atentado de ontem. "Se vocês querem crescer em um mundo pacífico, todos devem fazer o máximo que podem para rejeitar e frear a violência", disse o presidente americano
O governo brasileiro afirmou em nota oficial deplorar "a ocorrência de mais um atentado terrorista". Mas pediu respeito à "integridade das instituições palestinas e à pessoa de Iasser Arafat".
A ANP também criticou o ataque, afirmando que ele dá um pretexto para "Sharon continuar matando os palestinos".
Ao menos 1.545 palestinos e 594 israelenses morreram na Intifada (levante palestino contra a ocupação israelense), iniciada em setembro de 2000.
A retomada da violência acontece mais uma vez quando surgem novas iniciativas de paz para o Oriente Médio. O quarteto composto por EUA, ONU, Rússia e União Européia elaborou uma proposta de paz para ser implementada em três etapas.
Na primeira, os palestinos devem realizar eleições e reformar a ANP, enquanto os israelenses devem desocupar as cidades palestinas entre este ano e o próximo. Na segunda, entre 2003 e 2004, seria criado um Estado palestino com fronteiras provisórias. Por último, em 2005, seria estabelecido um Estado palestino com fronteiras permanentes. Israel e palestinos rejeitaram a proposta.

Com agências internacionais


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