São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 2000

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PAZ SOB ATAQUE
Os dois lados se acusam de violar acordo de cessar-fogo acertado na terça; comissão da ONU condena Israel
Confronto Israel-palestinos mata mais 2

Associated Press
Palestinos enfrentam soldados israelenses perto do Túmulo de Raquel, em Belem (Cisjordânia)


PAULO DANIEL FARAH
ENVIADO ESPECIAL A GAZA

Confrontos entre soldados israelenses e palestinos armados duraram cinco horas ontem e deixaram ao menos uma vítima de cada lado perto da cidade de Nablus, na Cisjordânia.
São as primeiras pessoas que morrem nos confrontos após a declaração de cessar-fogo anunciada no Egito na terça-feira.
Israel diz que os enfrentamentos começaram quando palestinos dispararam contra um grupo de colonos israelenses que visitava essa área. Segundo os palestinos, colonos judeus teriam iniciado o conflito abrindo fogo contra agricultores que colhiam azeitonas na região.
Ambos os lados trocaram acusações de que a outra parte violou o cessar-fogo acertado no Egito, e os palestinos pediram que o grupo de investigação que deve examinar as circunstâncias e as responsabilidades dos enfrentamentos das últimas semanas ajude a verificar o que ocorreu ontem.
Ainda não foram divulgados detalhes sobre o início dos trabalhos desse grupo de investigação, formado por representantes israelenses, palestinos e norte-americanos, em consulta com as Nações Unidas.
Ao menos 15 palestinos ficaram feridos após disparos de helicópteros, e pelo menos quatro israelenses sofreram ferimentos durante os choques perto de Nablus.
De acordo com Yarden Vatikay, porta-voz do Exército de Israel, cerca de 30 pessoas ficaram presas numa montanha e usaram rochas para se proteger de tiros. O Exército ordenou que habitantes do campo de refugiados palestinos de Askar, próximo a Nablus, abandonassem suas casas devido à possibilidade de que helicópteros bombardeassem a região. A advertência israelense foi lançada pelo rádio.

Tanques nas ruas
Na faixa de Gaza, onde houve alguns poucos confrontos isolados, tanques circulavam pelas ruas, especialmente nas regiões próximas a assentamentos judaicos (leia texto ao lado).
Saeb Erekat, um dos principais negociadores palestinos no processo de paz, acusou Israel de violação "flagrante" do acordo patrocinado pelos presidentes dos EUA, Bill Clinton, e do Egito, Hosni Mubarak.
Erekat mencionou "a manutenção de barreiras militares israelenses na entrada de cidades e povoados palestinos e a continuação do bloqueio imposto a várias aldeias palestinas".
O governo de Israel disse que pretende promover as medidas definidas no Egito gradualmente e voltou a acusar o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Iasser Arafat, de não fazer esforços suficientes para controlar completamente os distúrbios, como previsto no acordo do Egito.
Analistas israelenses afirmam que Arafat poderia estar querendo manter os conflitos para aumentar o tom da condenação a Israel na cúpula árabe, que se inicia amanhã no Cairo.
A onda de violência já deixou mais de cem mortos e 3.500 feridos -a grande maioria das vítimas é árabe.
Arafat exortou anteontem os palestinos, em um comunicado, a evitar "qualquer coisa que pudesse resultar em tensão ou violência". Mas parte dos palestinos que continuam nas ruas afirma estar frustrada com o processo de paz e com a presença israelense em territórios ocupados sete anos após os primeiros acordos de Oslo.

ONU
Sessão especial da Comissão de Direitos Humanos da ONU em Genebra (Suíça) aprovou ontem moção condenando Israel por "generalizadas, sistemáticas e graves violações dos direitos humanos" dos palestinos e criou uma comissão para investigar os confrontos iniciados em 28 de setembro, após a visita de Ariel Sharon, líder do partido de direita Likud a local disputado em Jerusalém.
A moção foi aprovada por 19 votos (a maioria de países árabes ou islâmicos) contra 16 e 17 abstenções. O Conselho de Segurança já havia aprovado, no dia 7 de outubro, uma resolução que critica o "uso excessivo" de força por parte de Israel.
Apesar do choques, a Casa Branca manifestou otimismo em relação à implementação do cessar-fogo e disse que "esse processo (de redução da violência) não acaba em um ou dois dias".



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