São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 2000

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Governo israelense estuda plano de separação física dos palestinos

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O primeiro-ministro israelense, Ehud Barak, e seus assessores militares discutiram ontem um plano radical para fechar definitivamente as áreas sob administração palestina.
Uma autoridade palestina disse que a idéia era "racista" e que faria a população viver em encraves economicamente inviáveis.
Fontes do governo israelense revelaram que Barak, altos funcionários do Ministério da Defesa e comandantes militares debateram propostas de "separação unilateral". O assunto seria retomado na próxima semana.
Alguns israelenses têm sugerido, há anos, que o governo cerque os centros populacionais palestinos e, assim, ponha uma "tampa" sobre o conflito.
Se não houver paz após os recentes confrontos, a sugestão poderá ser acatada logo.
Segundo o plano, o fluxo de pessoas da faixa de Gaza e da Cisjordânia em direção a Israel teria redução drástica, assim como as transações comerciais.
Uma fonte ligada ao governo afirmou que essa idéia, apoiada pela cúpula do aparato de defesa, prevê a construção de cercas ao redor das porções de terra controladas pela Autoridade Nacional Palestina, instalação de minas e tanques de guerra nas fronteiras.
"Os palestinos seriam espremidos num sanduíche formado pelo Exército israelense e depois fatiados", explica a fonte.
A separação seria o último recurso. Mas a proposta deixou alarmados os líderes palestinos, que temem um golpe mortal sobre a economia das áreas palestinas e sobre o processo de paz.
"Se não conseguirmos proteção internacional e Israel seguir adiante com o plano de separação unilateral, o conflito passará por um processo semelhante ao vivido no Líbano", diz, em alusão a um possível confronto entre milícias, Mahdi Abdul Hadi, chefe do Passia, respeitado instituto palestino de estudos sobre relações internacionais.
Outro receio comum entre líderes e estudiosos palestinos é que a medida impeça a recuperação total dos territórios ocupados por Israel na guerra de 1967.
O ministro palestino da Informação, Iasser Abed Rabbo, afirma que a divisão da Cisjordânia em encraves tornaria a vida dos palestinos "um inferno". "É uma espécie de declaração de guerra."
Rabbo diz que Israel decidiria sozinho quais estradas os palestinos poderiam utilizar. "Haveria estradas para palestinos e outras para israelenses, como vimos na África do Sul. Isso é racismo."
"Nunca aceitaremos isso. Pediremos ao nosso povo que lute por cada rua, por cada estrada. Mas nunca nos submeteremos a um plano que possa destruir nossas vidas", diz Rabbo.
Nachman Shai, porta-voz do governo de Israel, disse ontem que a separação seria considerada se o processo de paz fosse extinto e a violência continuasse. "Nenhuma decisão foi tomada, mas há estudos sobre essa opção."
Shai não quis dar detalhes de como Israel colocaria em prática o plano, mas afirmou: "Ele significa que o número de pessoas que atravessam a fronteira de Israel será pequeno. O mesmo para o nível de comércio entre Israel e palestinos". Dezenas de milhares de palestinos entram diariamente em Israel para trabalhar.
A fonte ligada ao governo diz que o plano foi inicialmente concebido como reação a uma eventual declaração unilateral de um Estado palestino em Gaza e Cisjordânia.
Mas, provavelmente, só seria implementado se Barak formasse um "governo nacional de emergência". Apenas uma coalizão ampla poderia lhe dar o respaldo político necessário para lidar com os colonos judeus que vivem nos assentamentos.
Algumas dessas colônias teriam de ser desativadas. Outras talvez necessitariam de campos minados e bloqueios rodoviários como proteção.


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