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JUSTIÇA
O réu, Amnon Chemouil, é acusado de ter violado uma menina em Pattaya, conhecida como "Las Vegas do sexo" na Tailândia
França julga turista sexual pela 1ª vez
FRANÇOISE-MARIE SANTUCCI
DO "LIBÉRATION"
"Mergulhei no inferno." O homem soluça no banco dos réus do
Tribunal de Justiça de Paris, onde
começou ontem seu julgamento
por violação de uma garota menor de idade. O crime se deu do
outro lado do mundo, na Tailândia. Foi em Pattaya, uma cidade
que, nas palavras de um policial,
"é para o sexo o que Las Vegas é
para o jogo", ou, segundo Amnon
Chemouil, 48 anos, é "um lugar
para ir mais longe". Num dia de
fevereiro de 1994, ele foi até a felação, praticada sobre ele por uma
menina num quarto de hotel. Preço: 150 francos franceses (cerca de
R$ 36, em valores de hoje). Pena
possível: 20 anos de reclusão.
A cena foi filmada por um suíço
que Chemouil conheceu na praia,
e foi a prisão desse homem, seguida de sua confissão, que permitiu
às autoridades suíças transmitir o
caso à delegacia de menores de
Paris, em virtude de uma nova lei
de cooperação entre polícias.
Interrogado em julho de 1997,
Chemouil foi colocado em liberdade sob controle judiciário oito
meses mais tarde. Seu julgamento, o primeiro do gênero na França, é também o julgamento do turismo sexual. Para as associações
que o combatem, o processo tem
valor de exemplo sobretudo porque a vítima está no tribunal, tendo tido sua viagem de Bancoc paga pelo Unicef (Fundo das Nações
Unidas para a Infância), que entrou com o processo. A jovem
franzina que acaba de atingir a
maioridade tem os cabelos presos
num rabo de cavalo e se mostra tímida diante do réu arrependido,
de cabeça raspada.
No entanto, por mais exemplar
que possa parecer, essa história
tem pontos duvidosos. Um deles
é a identidade exata da vítima, localizada por uma associação tailandesa em 1999, após os fracassos de tentativas anteriores feitas
pelas polícias francesa e local. Outro é formado pelas declarações
prestadas pela garota aos investigadores locais. Por último, pairam dúvidas sobre o procedimento, já que a "descoberta" da vítima
ocorreu após a conclusão da instrução francesa. Não foi feita nenhuma perícia nem qualquer
confronto. Assim, desde a abertura da audiência, o advogado de
Chemouil, François Rozenbaum,
pediu mais informações. Elas lhe
foram negadas. Alguns dos advogados de acusação chegaram ao
ponto de dizer: "Se esta moça não
é a vítima, pouco importa, já que
o crime foi admitido".
De fato, o crime não foi contestado em nenhum momento. Em
fevereiro de 1994, Chemouil retornou a Pattaya pela terceira vez.
Para ele, o lugar era "o paraíso":
garotas, bares onde podia encontrá-las, a praia. Mas ele afirma
nunca ter feito sexo com crianças
-até que Viktor Michel, um suíço pedófilo, lhe propôs experimentar com uma menina. "Fui
deixando as coisas acontecerem.
Eu era um canalha", diz Chemouil. Na França, afirma, a idéia
não teria passado pela cabeça.
Mas, na Tailândia, "os critérios
não são os mesmos".
O intermediário suíço lhe apresentou uma jovem mulher, tia da
vítima. Negócio fechado: Chemouil, Michel e a tia foram a um
quarto de hotel. "Eu esperava encontrar alguém de 15 anos", diz
Chemouil. Mas quem entrou no
quarto foi uma menina bem menor, que pediu para ver TV. "A tia
me perguntou o que eu desejava.
Ela queria que eu fosse o mais longe possível, pelo dinheiro." O suíço tirou uma foto e começou a filmar a cena. Chemouil relatou:
"Eu me perguntei como poderia
sair daquela situação. É horrível,
mas, naquele momento, pareceu-me que o mínimo que eu poderia
fazer, antes de ir embora, seria a
felação. Eu tinha consciência de
que era errado, mas fui covarde.
Hoje não suporto encarar esse
mínimo, esse lado crápula que
manifestei".
Dois ou três meses mais tarde,
Chemouil recebeu a fita de vídeo
em Paris. "Eu a assisti e não vi
mais nada senão a criança." A
menina anônima, à qual ele afirma ter dado um nome, o assombra. "Aquela fita era a recordação
de minha culpa. Quando fui preso, foi uma libertação. Os policiais
me maltrataram um pouco, e eu
os agradeço por isso. Graças a
eles, dei-me conta do que fiz."
Às lágrimas, o réu parece continuar no tribunal a psicoterapia
iniciada na prisão. Indagando sobre seu passado, descobre-se que
ele foi vítima de abusos sexuais
aos 8 anos de idade e que seu pai
abafou o caso. Hoje Chemouil diz
estar "no caminho da verdade". O
veredicto será dado esta noite.
Tradução de Clara Allain
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