São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 2000

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No Brasil, cresce turismo sexual de brasileiros

MÁRCIA DETONI
DA REDAÇÃO

O turismo sexual é um problema grave no Brasil, mas, segundo as ONGs de defesa e proteção à criança, os aliciadores de menores não são os estrangeiros. "O problema não é o gringo que vem de fora; são os próprios brasileiros que estão explorando as nossas crianças e adolescentes", disse à Folha o psicólogo Sílvio Valente, coordenador da unidade de denúncias do Sistema Nacional de Combate à Exploração Sexual Infanto-juvenil.
O secretário executivo do Fórum de Defesa da Criança e do Adolescente, Márcio Sanchez, concorda. Segundo ele, o turismo sexual interno é uma realidade. "Todo mundo sabe sobre a presença de turistas sexuais italianos em Fortaleza ou sobre outros estrangeiros explorando adolescentes em Recife, mas há muitos turistas brasileiros indo para as praias do Nordeste, para a região pesqueira do Mato Grosso do Sul ou para Goiás em busca de sexo", afirmou.
Desde que o Sistema Nacional de Combate à Exploração Sexual Infanto-juvenil -coordenado pelo Ministério da Justiça- introduziu, em fevereiro de 1997, uma linha telefônica gratuita para denúncias, foram registrados 1.650 relatos de exploração sexual em todo o Brasil. Destes, somente 76 envolviam estrangeiros.
Valente afirma, no entanto, que o número referente aos estrangeiros pode ser um pouco maior, porque é difícil obter dados precisos sobre exploração sexual.
O coordenador de projetos do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), Mário Volpi, salienta que ouve uma mudança de atitude positiva por parte da Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo), que não usa mais imagens de garotas de biquíni nos anúncios sobre o país. "A divulgação do Brasil que se fazia lá fora era baseada na sexualidade da brasileira. Mas a Embratur melhorou e não divulga mais fotos de mulheres com fio dental", comentou.
O marco divisor, segundo Valente, foi a Conferência de Estocolmo sobre exploração sexual infantil, em 1996, onde houve denúncias de turismo sexual no Brasil. A Embratur também foi bastante criticada no encontro por explorar a imagem de garotas.
"Na época, acreditava-se que o maior problema fosse o turismo sexual externo", afirmou Valente. Na opinião dele, as denúncias contra o Brasil foram positivas, porque deflagraram um movimento de combate à exploração sexual infanto-juvenil no país.
Em março passado, por exemplo, a foto de uma modelo de biquíni utilizada no material de divulgação do Grande Prêmio do Brasil de F-1 gerou protestos que não eram comuns. Os anúncios da FOA (Formula One Administration), responsável pela comercialização da F-1, irritaram a Embratur e as ONGs. "É a imagem do Brasil que está sendo agredida aqui e no exterior", protestou, na época, Ana Karin Quental, coordenadora da Campanha de Combate à Exploração Sexual Infantil.


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