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No Brasil, cresce turismo sexual de brasileiros
MÁRCIA DETONI
DA REDAÇÃO
O turismo sexual é um problema grave no Brasil, mas, segundo
as ONGs de defesa e proteção à
criança, os aliciadores de menores
não são os estrangeiros. "O problema não é o gringo que vem de
fora; são os próprios brasileiros
que estão explorando as nossas
crianças e adolescentes", disse à
Folha o psicólogo Sílvio Valente,
coordenador da unidade de denúncias do Sistema Nacional de
Combate à Exploração Sexual Infanto-juvenil.
O secretário executivo do Fórum de Defesa da Criança e do
Adolescente, Márcio Sanchez,
concorda. Segundo ele, o turismo
sexual interno é uma realidade.
"Todo mundo sabe sobre a presença de turistas sexuais italianos
em Fortaleza ou sobre outros estrangeiros explorando adolescentes em Recife, mas há muitos turistas brasileiros indo para as
praias do Nordeste, para a região
pesqueira do Mato Grosso do Sul
ou para Goiás em busca de sexo",
afirmou.
Desde que o Sistema Nacional
de Combate à Exploração Sexual
Infanto-juvenil -coordenado
pelo Ministério da Justiça- introduziu, em fevereiro de 1997,
uma linha telefônica gratuita para
denúncias, foram registrados
1.650 relatos de exploração sexual
em todo o Brasil. Destes, somente
76 envolviam estrangeiros.
Valente afirma, no entanto, que
o número referente aos estrangeiros pode ser um pouco maior,
porque é difícil obter dados precisos sobre exploração sexual.
O coordenador de projetos do
Unicef (Fundo das Nações Unidas
para a Infância), Mário Volpi, salienta que ouve uma mudança de
atitude positiva por parte da Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo), que não usa mais imagens
de garotas de biquíni nos anúncios sobre o país. "A divulgação
do Brasil que se fazia lá fora era
baseada na sexualidade da brasileira. Mas a Embratur melhorou e
não divulga mais fotos de mulheres com fio dental", comentou.
O marco divisor, segundo Valente, foi a Conferência de Estocolmo sobre exploração sexual infantil, em 1996, onde houve denúncias de turismo sexual no Brasil. A Embratur também foi bastante criticada no encontro por
explorar a imagem de garotas.
"Na época, acreditava-se que o
maior problema fosse o turismo
sexual externo", afirmou Valente.
Na opinião dele, as denúncias
contra o Brasil foram positivas,
porque deflagraram um movimento de combate à exploração
sexual infanto-juvenil no país.
Em março passado, por exemplo, a foto de uma modelo de biquíni utilizada no material de divulgação do Grande Prêmio do
Brasil de F-1 gerou protestos que
não eram comuns. Os anúncios
da FOA (Formula One Administration), responsável pela comercialização da F-1, irritaram a Embratur e as ONGs. "É a imagem do
Brasil que está sendo agredida
aqui e no exterior", protestou, na
época, Ana Karin Quental, coordenadora da Campanha de Combate à Exploração Sexual Infantil.
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