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São Paulo, segunda-feira, 20 de outubro de 2003

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VATICANO EM FESTA

Papa celebrou a beatificação com dificuldade e precisou ser substituído em vários momentos da missa

Milhares homenageiam beata Madre Teresa

Luca Bruno/Associated Press
Irmãs da ordem fundada pela madre acenam para o papa no final da cerimônia de beatificação


PAULO DANIEL FARAH
ENVIADO ESPECIAL A ROMA

Cerca de 300 mil pessoas lotaram ontem a praça de São Pedro e locais próximos para assistir à cerimônia de beatificação de Madre Teresa de Calcutá -celebrada com bastante dificuldade pelo papa João Paulo 2º, 83.
A Prefeitura de Roma proibiu a circulação de carros em 30 ruas nos arredores da missa, e ao menos 200 pessoas desmaiaram por causa da emoção -apesar da distribuição de 50 mil garrafas de água feita por 3.000 voluntários.
Em uma missa marcada por ritos litúrgicos típicos da Índia, em homenagem ao país onde Madre Teresa passou quase toda a vida, indianas jogaram pétalas de flores no altar, vestindo sáris e carregando incensos, flores e fogo (conforme a tradição local).
"Irmãos e irmãs, ainda hoje Deus inspira novos modelos de santidade", disse o líder da Igreja Católica, com a voz fraca e as mãos tremendo. "Com emoção especial, recordamos Madre Teresa, que serviu aos pobres, à igreja e ao mundo inteiro. Sua vida é um testemunho da dignidade e do privilégio da ação humilde." A cada fala, a multidão respondia: "Viva il papa!".
Apesar da dificuldade, que fez com que fosse substituído em várias partes da missa, o papa ministrou a comunhão e disse que a religiosa "foi um dom de Deus aos mais pobres dos pobres".
Um retrato da beata, sorridente, foi instalado no centro da fachada da basílica de são Pedro. Para que ela se torne uma santa, é necessária a comprovação, segundo os critérios do Vaticano, de mais um milagre.
O suposto milagre considerado pela Congregação das Causas dos Santos teria sido a cura de uma indiana mãe de cinco filhos, Monica Besra (que tinha um tumor no estômago), depois que uma imagem de madre Teresa foi colocada sobre sua barriga.
Embora um dos médicos e a equipe designada pelo Vaticano para avaliar o caso tenham dito que não havia nenhuma explicação científica, alguns médicos indianos dizem que remédios, não um milagre, foram responsáveis pela cura de Besra.
Religiosa de origem albanesa, Madre Teresa morreu em 1997, aos 87 anos, e o processo de beatificação foi aberto dois anos depois, sem que o papa aguardasse o período usual de cinco anos para considerar sua santidade. Foi um dos processos mais rápidos da história do Vaticano.
A Igreja Católica leva em consideração a grande popularidade de Madre Teresa em várias partes do mundo. Na Índia, não apenas católicos, mas hindus, muçulmanos, sikhs e budistas costumam recorrer à religiosa, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1979.
Em 1946, enquanto viajava de trem entre Calcutá e Darjeeling, nas montanhas, para se recuperar de uma tuberculose e para fazer um retiro espiritual, ela disse ter recebido um chamado de Deus para servi-lo através "dos mais pobres dos pobres".
Cerca de 450 irmãs da ordem fundada por Madre Teresa, a das Missionárias da Caridade, vieram ao Vaticano para assistir à missa. Após a celebração, elas serviram almoço para 3.000 pobres. "Em todos os lugares, as pessoas querem saber mais sobre Madre Teresa [1910-1997]", disse a irmã Nirmala, sua sucessora.
"Beatificar Madre Teresa de Calcutá, que amava a todos indistintamente, foi um verdadeiro milagre do amor de Deus. Para nós, como indianos, é uma honra ver seu exemplo de humildade e de amor", afirma o padre Freddie Thomas, do Punjab. "Tive o privilégio de conhecê-la na Índia, no Punjab, e vim aqui testemunhar meu amor por ela", disse.
À noite, no encerramento das comemorações da beatificação de Madre Teresa, o Vaticano promoveu um show com fogos de artifício e música erudita. "O papa é santo. Estamos com Deus, o papa e Madre Teresa de Calcutá", gritava a multidão.


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