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São Paulo, segunda-feira, 20 de outubro de 2003

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REVOLTA NOS ANDES

Em cerimônia militar, novo presidente boliviano pede a movimentos sociais mobilizados que busquem a paz

Mesa pede diálogo e fim de "atitudes suicidas"

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LA PAZ

Em busca da reconciliação nacional, o recém-empossado presidente da Bolívia, Carlos Mesa, esteve ontem em cerimônia com a presença da cúpula das Forças Armadas. No discurso, pediu aos movimentos ainda parcialmente mobilizados que iniciem um "diálogo racional" e abandonem suas "atitudes suicidas".
Aos movimentos sociais, Mesa pediu que "reflitam sobre a necessidade indispensável de buscar a paz", em alusão a recentes declarações do líder indígena Felipe Quispe, que disse que continuará a promover bloqueios nas estradas e protestos no altiplano, onde tem forte influência entre os camponeses aymarás.
Outras lideranças da oposição, como o líder cocaleiro Evo Morales, prometeram " um tempo" para que Mesa atenda às suas exigências. Em seu segundo dia como presidente, Mesa tenta se equilibrar no poder após quase um mês de protestos, que provocaram a morte de 74 pessoas -a maioria atribuída ao Exército.
As manifestações iniciaram exigindo o fim dos planos do governo de exportar gás natural via Chile -país que, em 1879, tirou o acesso da Bolívia ao mar durante a Guerra do Pacífico.
Com a intensificação da violência, há oito dias, os manifestantes, formados por trabalhadores, camponeses, cocaleiros e mineiros (a maioria indígena), passaram a exigir a renúncia do ex-presidente Gonzalo Sánchez de Lozada, que deixou o poder na última sexta-feira e viajou para os Estados Unidos.
Nos violentos protestos que levaram à renúncia de Sánchez de Lozada, na última sexta-feira, o Exército foi responsabilizado pela maioria das 74 mortes.
Em discurso ontem ao Exército, Mesa disse que as demandas dos movimentos sociais são legítimas, mas criticou o uso da violência pelos manifestantes.
"É correto afirmar que, em um momento, o nível de violência exercida por esses movimentos superou a possibilidade do tradicional controle da ordem, que nesse caso tem de ser feito por meio da polícia, e foi convocada a presença das Forças Armadas para estabelecer a ordem", disse.
Anteontem, porém, em discurso em El Alto (12 km de La Paz), epicentro das manifestações, Mesa disse que investigará as mortes e prometeu levá-las à Justiça.

Eleições antecipadas
Estava previsto para ontem às 18h (horário local) o anúncio do novo gabinete. Desde o seu discurso de posse, na sexta-feira à noite, Mesa tem dito que, assim como ele, os ministros não terão filiação partidária.
Ele disse que se trata de uma "equação difícil" e que o sucesso dependerá do apoio que a iniciativa terá no Congresso.
Uma assessor próximo a Mesa antecipou à Folha a escolha de três ministros. Segundo eles, todos eram colaboradores de Mesa quando ele ocupava a vice-presidência. São eles: Jose Galindo (ministro da Presidência), Lupe Carrias (Delegacia Presidencial da Luta contra a Corrupção) e Jorge Cortez (ministro do Desenvolvimento Social).
Na posse, Mesa prometeu um "governo de transição" e disse que pedirá ao Congresso a convocação de novas eleições presidenciais antes do término de seu mandato, em 2007.
Antes, afirmou, implantará duas medidas: a convocação de um plebiscito para perguntar à população se quer vender gás ao exterior e, caso afirmativo, por qual país seria feita a exportação.
A segunda medida é a convocação de uma nova Assembléia Constituinte. Essa é uma reivindicação da elite econômica boliviana, concentrada em Santa Cruz de la Sierra (leste do país), que pede maior autonomia com relação a La Paz. Durante a crise, foi lançado um documento exigindo a "refundação do país".
O próprio Mesa disse que a Bolívia corre o risco de desintegração, em alusão ao regionalismo crescente de Santa Cruz.


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