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REVOLTA NOS ANDES
Em cerimônia militar, novo presidente boliviano pede a movimentos sociais mobilizados que busquem a paz
Mesa pede diálogo e fim de "atitudes suicidas"
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LA PAZ
Em busca da reconciliação nacional, o recém-empossado presidente da Bolívia, Carlos Mesa, esteve ontem em cerimônia com a
presença da cúpula das Forças Armadas. No discurso, pediu aos
movimentos ainda parcialmente
mobilizados que iniciem um
"diálogo racional" e abandonem
suas "atitudes suicidas".
Aos movimentos sociais, Mesa
pediu que "reflitam sobre a necessidade indispensável de buscar a
paz", em alusão a recentes declarações do líder indígena Felipe
Quispe, que disse que continuará
a promover bloqueios nas estradas e protestos no altiplano, onde
tem forte influência entre os camponeses aymarás.
Outras lideranças da oposição,
como o líder cocaleiro Evo Morales, prometeram " um tempo" para que Mesa atenda às suas exigências. Em seu segundo dia como presidente, Mesa tenta se
equilibrar no poder após quase
um mês de protestos, que provocaram a morte de 74 pessoas -a
maioria atribuída ao Exército.
As manifestações iniciaram exigindo o fim dos planos do governo de exportar gás natural via
Chile -país que, em 1879, tirou o
acesso da Bolívia ao mar durante
a Guerra do Pacífico.
Com a intensificação da violência, há oito dias, os manifestantes,
formados por trabalhadores,
camponeses, cocaleiros e mineiros (a maioria indígena), passaram a exigir a renúncia do ex-presidente Gonzalo Sánchez de Lozada, que deixou o poder na última
sexta-feira e viajou para os Estados Unidos.
Nos violentos protestos que levaram à renúncia de Sánchez de
Lozada, na última sexta-feira, o
Exército foi responsabilizado pela
maioria das 74 mortes.
Em discurso ontem ao Exército,
Mesa disse que as demandas dos
movimentos sociais são legítimas,
mas criticou o uso da violência
pelos manifestantes.
"É correto afirmar que, em um
momento, o nível de violência
exercida por esses movimentos
superou a possibilidade do tradicional controle da ordem, que
nesse caso tem de ser feito por
meio da polícia, e foi convocada a
presença das Forças Armadas para estabelecer a ordem", disse.
Anteontem, porém, em discurso em El Alto (12 km de La Paz),
epicentro das manifestações, Mesa disse que investigará as mortes
e prometeu levá-las à Justiça.
Eleições antecipadas
Estava previsto para ontem às
18h (horário local) o anúncio do
novo gabinete. Desde o seu discurso de posse, na sexta-feira à
noite, Mesa tem dito que, assim
como ele, os ministros não terão
filiação partidária.
Ele disse que se trata de uma
"equação difícil" e que o sucesso
dependerá do apoio que a iniciativa terá no Congresso.
Uma assessor próximo a Mesa
antecipou à Folha a escolha de
três ministros. Segundo eles, todos eram colaboradores de Mesa
quando ele ocupava a vice-presidência. São eles: Jose Galindo (ministro da Presidência), Lupe Carrias (Delegacia Presidencial da
Luta contra a Corrupção) e Jorge
Cortez (ministro do Desenvolvimento Social).
Na posse, Mesa prometeu um
"governo de transição" e disse
que pedirá ao Congresso a convocação de novas eleições presidenciais antes do término de seu
mandato, em 2007.
Antes, afirmou, implantará
duas medidas: a convocação de
um plebiscito para perguntar à
população se quer vender gás ao
exterior e, caso afirmativo, por
qual país seria feita a exportação.
A segunda medida é a convocação de uma nova Assembléia
Constituinte. Essa é uma reivindicação da elite econômica boliviana, concentrada em Santa Cruz de
la Sierra (leste do país), que pede
maior autonomia com relação a
La Paz. Durante a crise, foi lançado um documento exigindo a "refundação do país".
O próprio Mesa disse que a Bolívia corre o risco de desintegração,
em alusão ao regionalismo crescente de Santa Cruz.
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