São Paulo, sábado, 20 de outubro de 2007

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China intensifica censura na internet

Congresso do PC, que termina amanhã, provoca restrição ainda maior do que a usual do acesso a sites de informação

Censura na rede contrasta com expansão de usuários no país, que já tem o segundo maior número de internautas do mundo

CLÁUDIA TREVISAN
ENVIADA ESPECIAL A PEQUIM

Acessar informações via internet na China ficou especialmente difícil durante o 17º Congresso do Partido Comunista, que começou na segunda-feira e termina amanhã.
O grau de censura online está bem maior que o praticado normalmente, mesmo durante eventos importantes, e sites como o do "New York Times" e da "BBC" não podem ser abertos. O Youtube foi bloqueado e nenhuma consulta à Wikipedia era possível, ainda que tratasse de algo tão inofensivo como a dinastia Tang (618-906).
E-mails com links para conteúdos "sensíveis" também não eram abertos. Esta repórter recebeu a publicação "China Brief", da norte-americana Jamestown Foundation, mas não conseguiu ler nenhuma das análises, duas das quais relacionadas ao congresso do PC. A página estava bloqueada.
O padrão adotado pela censura chinesa em anos recentes permitia a abertura de páginas, mas bloqueava determinados itens considerados sensíveis. Era possível abrir a página do "New York Times", mas não uma reportagem sobre separatismo no Tibete, por exemplo. No congresso em que o presidente Hu Jintao defendeu o conceito de sociedade harmoniosa, os censores se encarregaram de impedir o acesso a informações que possam afetar a percepção do público sobre discussões em andamento.
O partido também decidiu manter distantes os milhares de corredores que estarão amanhã na Maratona de Pequim. O tradicional ponto de partida, a praça Tiananmen, foi substituído pelo longínquo Centro Nacional Olímpico. A idéia de ter milhares de pessoas em frente ao Grande Palácio do Povo, onde ocorre o congresso, e em um lugar emblemático como Tiananmen, era arriscada.
A censura e o rápido crescimento da internet são uma das maiores contradições do país. A China já tem 162 milhões de pessoas online, o maior número depois dos Estados Unidos.
É possível ver um número crescente de jovens com seus laptops nos cafés que oferecem conexão sem fio e o governo acaba de lançar um programa para aumentar a presença da internet na zona rural.
A expansão é acompanhada por um exército de censores, estimado em 30 mil. Há programas que bloqueiam o acesso a páginas por meio de palavras-chave e, para tentar contornar, os chineses utilizam expressões cifradas para se referir aos temas tabu, como democracia.
A ironia é que a expansão da internet e o suposto maior acesso à informação fazem parte da propaganda oficial.
Ontem, um dos textos do site de divulgação das atividades do congresso falava de uma delegada, Long Feifeng, 29, cujo sonho é ter um carro próprio do qual possa navegar em seu laptop. Long ainda não tem o carro, mas pode "usar seu computador para se comunicar com o mundo exterior de sua cidade natal", dizia o texto.


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