São Paulo, sábado, 20 de outubro de 2007

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ELEIÇÕES NA ARGENTINA/ SEGURANÇA PÚBLICA

Governo liga morte de policiais à disputa

Presidente e candidata dizem que crime às vésperas da eleição "não é casual" e que pode ser reação à política de direitos humanos

Mortes ocorreram na Província de Buenos Aires; campanha de Cristina ignorou segurança, tema que preocupa os argentinos

RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES

Um discurso do presidente Néstor Kirchner pôs no centro da disputa eleitoral argentina o que até então parecia ser exclusivamente mais um episódio de violência: o assassinato, na madrugada de ontem, de três policiais que faziam plantão em uma instalação da Secretaria de Segurança do governo da Província de Buenos Aires.
O sargento Pedro Díaz e os cabos Ricardo Torres Barbosa e Alejandro Batalaro foram mortos com tiros na cabeça em um escritório da secretaria em La Plata, capital da Província. Já mortos, tiveram os corpos apunhalados. Os criminosos roubaram armas e um carro, que foi abandonado a 5 km do local.
Em um discurso na Casa Rosada, o presidente afirmou que "não é casual" que o crime tenha ocorrido quando faltam nove dias para as eleições e sugeriu que os assassinatos podem ser uma reação à política de direitos humanos de seu governo, que está incentivando julgamentos contra repressores da última ditadura militar.
"O que fizeram é um ato de selvageria absoluto. Nosso profundo repúdio, mas também nosso profundo alerta a todos os argentinos, diante dessas coisas que acontecem antes das eleições. Eu não sei bem qual é o objetivo desses atos, se é um ajuste de contas, uma ação mafiosa ou se tem algo a ver com a nossa política de direitos humanos. Deus queira que se possa esclarecer esse fato rapidamente, mas isso realmente nos comove e gera muitas incertezas", afirmou o presidente.
Mais tarde, em um ato de campanha em Santa Fé, a primeira-dama Cristina Fernández de Kirchner qualificou de "muito estranhas" as circunstâncias das mortes dos policiais e reagiu como se elas fossem um ataque à sua campanha à Presidência. "Podem nos ferir e bater, mas não vão nos derrotar por mais que tentem", disse.
A reação oficial surpreende e destoa da prática na campanha até aqui. Embora pesquisas indiquem que a insegurança é a principal preocupação dos argentinos e que, em sua avaliação, o combate a ela é o ponto mais débil do governo Kirchner, Cristina não costuma fazer referência ao tema na campanha. Nem ela nem o presidente comentaram outros crimes violentos ocorridos recentemente em Buenos Aires, como o seqüestro seguido da morte de um produtor rural.

Peso eleitoral
A Província de Buenos Aires tem o maior peso eleitoral da Argentina e um bom desempenho de Cristina ali é considerado fundamental para definir a eleição no primeiro turno.
Embora a segurança seja atribuição do governo da Província, ela afeta a disputa presidencial; o atual governador, Felipe Solá, é aliado de Kirchner e cotado para assumir um ministério ou presidir a Câmara dos Deputados no governo de Cristina. O candidato favorito ao governo, Daniel Scioli, é o atual vice-presidente argentino.
Ao contrário dos governistas, os candidatos da oposição à Presidência não tentaram explorar o tema. Roberto Lavagna, que na véspera fizera um ato colocando cruzes no gramado de um parque de Buenos Aires para protestar contra a violência, ontem optou pelo silêncio. Elisa Carrió disse que o papel dos políticos deve ser o de aguardar o resultado das investigações: "A construção da paz se faz com silêncio, não com uso eleitoral. Nem por parte do governo, nem da oposição".


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