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ELEIÇÕES NA ARGENTINA/ SEGURANÇA PÚBLICA
Governo liga morte de policiais à disputa
Presidente e
candidata dizem
que crime às
vésperas da eleição
"não é casual" e que
pode ser reação à
política de direitos
humanos
Mortes ocorreram na
Província de Buenos Aires;
campanha de Cristina
ignorou segurança, tema
que preocupa os argentinos
RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES
Um discurso do presidente
Néstor Kirchner pôs no centro
da disputa eleitoral argentina o
que até então parecia ser exclusivamente mais um episódio de
violência: o assassinato, na madrugada de ontem, de três policiais que faziam plantão em
uma instalação da Secretaria de
Segurança do governo da Província de Buenos Aires.
O sargento Pedro Díaz e os
cabos Ricardo Torres Barbosa e
Alejandro Batalaro foram mortos com tiros na cabeça em um
escritório da secretaria em La
Plata, capital da Província. Já
mortos, tiveram os corpos apunhalados. Os criminosos roubaram armas e um carro, que
foi abandonado a 5 km do local.
Em um discurso na Casa Rosada, o presidente afirmou que
"não é casual" que o crime tenha ocorrido quando faltam
nove dias para as eleições e sugeriu que os assassinatos podem ser uma reação à política
de direitos humanos de seu governo, que está incentivando
julgamentos contra repressores da última ditadura militar.
"O que fizeram é um ato de
selvageria absoluto. Nosso profundo repúdio, mas também
nosso profundo alerta a todos
os argentinos, diante dessas
coisas que acontecem antes das
eleições. Eu não sei bem qual é
o objetivo desses atos, se é um
ajuste de contas, uma ação mafiosa ou se tem algo a ver com a
nossa política de direitos humanos. Deus queira que se possa esclarecer esse fato rapidamente, mas isso realmente nos
comove e gera muitas incertezas", afirmou o presidente.
Mais tarde, em um ato de
campanha em Santa Fé, a primeira-dama Cristina Fernández de Kirchner qualificou de
"muito estranhas" as circunstâncias das mortes dos policiais
e reagiu como se elas fossem
um ataque à sua campanha à
Presidência. "Podem nos ferir e
bater, mas não vão nos derrotar
por mais que tentem", disse.
A reação oficial surpreende e
destoa da prática na campanha
até aqui. Embora pesquisas indiquem que a insegurança é a
principal preocupação dos argentinos e que, em sua avaliação, o combate a ela é o ponto
mais débil do governo Kirchner, Cristina não costuma fazer
referência ao tema na campanha. Nem ela nem o presidente
comentaram outros crimes
violentos ocorridos recentemente em Buenos Aires, como
o seqüestro seguido da morte
de um produtor rural.
Peso eleitoral
A Província de Buenos Aires
tem o maior peso eleitoral da
Argentina e um bom desempenho de Cristina ali é considerado fundamental para definir a
eleição no primeiro turno.
Embora a segurança seja
atribuição do governo da Província, ela afeta a disputa presidencial; o atual governador, Felipe Solá, é aliado de Kirchner e
cotado para assumir um ministério ou presidir a Câmara dos
Deputados no governo de Cristina. O candidato favorito ao
governo, Daniel Scioli, é o atual
vice-presidente argentino.
Ao contrário dos governistas,
os candidatos da oposição à
Presidência não tentaram explorar o tema. Roberto Lavagna, que na véspera fizera um
ato colocando cruzes no gramado de um parque de Buenos
Aires para protestar contra a
violência, ontem optou pelo silêncio. Elisa Carrió disse que o
papel dos políticos deve ser o de
aguardar o resultado das investigações: "A construção da paz
se faz com silêncio, não com
uso eleitoral. Nem por parte do
governo, nem da oposição".
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