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São Paulo, quinta-feira, 20 de novembro de 2003

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VISITA DE ESTADO

Primeiro ato contra viagem de Bush ao Reino Unido reúne 600 pessoas no ápice; organização espera 100 mil hoje

Número de policiais se iguala ao de ativistas

MARIA LUIZA ABBOTT
FREE-LANCE PARA A FOLHA, DE LONDRES

Protestos pacíficos e bem-humorados em Londres marcaram o começo da visita oficial do presidente dos EUA, George W. Bush, ao Reino Unido. Mas até mesmo os manifestantes achavam difícil que Bush tenha ouvido ou visto os atos, embora tenham feito um protesto barulhento e com cartazes a cerca de cem metros dos portões do Palácio de Buckingham.
Os manifestantes conseguiram passar pelo cordão policial em Trafalgar Square e começaram a correr na avenida The Mall, que leva até o palácio. A polícia acabou permitindo que eles se reunissem perto do monumento à rainha Vitória, diante do palácio.
"Bush provavelmente não nos vê, mas pode ser que alguns de seus eleitores nos vejam aqui, protestando", disse a enfermeira Rebecca Dael, 29, que segurava um cartaz com a foto de Bush e a inscrição "Dê o fora".
Em nenhum momento parecia haver risco de a manifestação sair do controle dos policiais, cujo número se equiparava ao dos 600 manifestantes que, segundo os organizadores, se reuniram ontem no momento de maior concentração diante do palácio.
Hoje, porém, a organização Stop the War (pare a guerra) estima que mais de 100 mil pessoas devam participar da passeata que vai terminar em Trafalgar Square, onde os manifestantes vão derrubar uma estátua de Bush feita de papel machê, parodiando a derrubada de uma estátua de Saddam Hussein em Bagdá, pelos americanos, em abril.
Ontem, foram detidas 22 pessoas, a maioria por delitos menores -um dos ativistas tentou roubar o capacete de um policial.
Os protestos começaram com a imitação de um desfile real, com uma carruagem carregando dois manifestantes passando-se por Bush e pela rainha Elizabeth 2ª. Depois de passearem pelas ruas, os manifestantes de diversos grupos acabaram se reunindo em frente ao Palácio de Buckingham.
"Voto no Partido Conservador [oposição], sou um pequeno empresário, mas vim aqui porque Tony Blair [primeiro-ministro britânico] entregou nossa soberania", disse Steven Bartlett, que estava participando de um protesto pela primeira vez. "A maioria neste país foi contra a guerra, mas Blair não ouviu, e agora parece que somos parte dos EUA."
Para Bartlett, a alegada afinidade entre Reino Unido e EUA, por causa das ligações históricas e culturais, está em xeque. "Quando as pessoas pensam que o poder dos EUA é benevolente, é só olhar o que os republicanos americanos fizeram na América Latina, com todos os generais que assumiram o poder", afirmou.
A poucos metros do empresário, destacava-se a figura de Tim Clennon, um americano vestido a caráter, com chapéu de caubói, botas e roupas típicas, carregando um cartaz inspirado no filme "E o Vento Levou", com Bush no lugar de Clark Gable e a assessora de Segurança Nacional da Casa Branca, Condoleezza Rice, no lugar de Vivien Leigh. No cartaz estava escrito: "Eles lhe venderam uma guerra; agora, adivinhe quem vai pagar por ela?".
"Sou do Arizona e essas são minhas roupas", disse Clennon, que veio da Suíça para participar das manifestações. "Estou aqui para protestar, porque estamos em uma situação muito perigosa, com a ameaça de guerras preventivas espalhadas pelo mundo", afirmou, sem querer muita conversa. "Como vou saber se você não é da CIA?"
A poucos metros, um grupo de 12 pessoas fantasiadas de palhaço organizou um dos momentos mais bem-humorados do protesto. Eles disseram fazer parte do "Exército de Palhaços Rebeldes Insurgentes e Clandestinos". Recitaram um discurso contra a visita, em "defesa da honra dos palhaços e dos bobos da corte, pois, pela primeira vez em mais de 500 anos, um deles voltou à corte".


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