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COMENTÁRIO
Bush quer endosso da coroa
GERALD THOMAS
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE LONDRES
A polícia de Londres foi vaiada,
mas não mostrou a bunda.
Do que posso ver daqui, do terceiro andar da National Portrait
Gallery, na Charing Cross Road, é
mais gente chegando, do Strand,
ou seja, do leste de Londres, em
direção a St James Park e The
Mall, onde fica o palácio. É uma
multidão, de onde eu posso ver.
Certamente menor do que eu supunha. Certamente maior do que
eles conseguiram conter.
Um "bobbie" comum que consegui entrevistar (sem saber que
estava falando com a imprensa)
expressou o absurdo de tudo
aquilo: "Estão gastando 5 milhões
de libras nisso tudo, e nós deveríamos estar patrulhando outras
partes de Londres, como Brixton
ou Camden, por exemplo. Deslocaram-me para cá ontem, sem arma e com um rádio cuja frequência não funciona. Quero saber o
que estou fazendo aqui".
"Servindo como símbolo", disse
eu.
"Sim, mas se acontecer, de fato,
alguma coisa, estou completamente "helpless'". Fez um gesto
com os ombros de quem realmente não pode fazer nada e, como um londrino camarada, simpático à causa, se afastou. Boquiaberto com tudo aquilo.
No ônibus de dois andares que
tomei, cheio de manifestantes anti-Bush, havia uma família americana (com a mulher grávida inclusive) e dois filhos pequenos.
"Vocês não acham perigoso estar aqui?"
"Achamos perigoso o mundo
onde nosso presidente nos jogou.
Agora é tarde. Seus atos devem estar produzindo mil terroristas
suicidas por dia. É só uma questão
de tempo. Não há mais lugar seguro no mundo."
"Vocês vieram para Londres só
pra isso?"
"Sim, trabalho em Birmingham
para uma firma americana e acho
que precisava expressar meus
sentimentos de alguma forma.
Estar aqui era a única coisa que
podíamos fazer. Já escrevemos à
Casa Branca e ao nosso senador
[de Ohio], sem resultado."
O que acontecerá amanhã (a tal
marcha oficial de protesto)- que
passará em Whitehall (onde estão
todos os prédios oficiais do governo e que desemboca no Parlamento)-, ninguém sabe. George
W. Bush provavelmente nem tomará conhecimento. Afinal, o que
ele veio fazer aqui só mesmo ele
sabe. Veio ser visto pelo eleitorado americano. Essas imagens são
para serem reproduzidas pelas redes americanas, e o endosso da
coroa britânica ainda vale pontos.
Mas o que contará na próxima
eleição americana é se Bagdá virou ou não o próximo Vietnã e se
arruinou ou não o bolso da classe
média americana.
Gerald Thomas é dramaturgo
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