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São Paulo, quinta-feira, 20 de novembro de 2003

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COMENTÁRIO

Bush quer endosso da coroa

GERALD THOMAS
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE LONDRES

A polícia de Londres foi vaiada, mas não mostrou a bunda.
Do que posso ver daqui, do terceiro andar da National Portrait Gallery, na Charing Cross Road, é mais gente chegando, do Strand, ou seja, do leste de Londres, em direção a St James Park e The Mall, onde fica o palácio. É uma multidão, de onde eu posso ver. Certamente menor do que eu supunha. Certamente maior do que eles conseguiram conter.
Um "bobbie" comum que consegui entrevistar (sem saber que estava falando com a imprensa) expressou o absurdo de tudo aquilo: "Estão gastando 5 milhões de libras nisso tudo, e nós deveríamos estar patrulhando outras partes de Londres, como Brixton ou Camden, por exemplo. Deslocaram-me para cá ontem, sem arma e com um rádio cuja frequência não funciona. Quero saber o que estou fazendo aqui".
"Servindo como símbolo", disse eu.
"Sim, mas se acontecer, de fato, alguma coisa, estou completamente "helpless'". Fez um gesto com os ombros de quem realmente não pode fazer nada e, como um londrino camarada, simpático à causa, se afastou. Boquiaberto com tudo aquilo.
No ônibus de dois andares que tomei, cheio de manifestantes anti-Bush, havia uma família americana (com a mulher grávida inclusive) e dois filhos pequenos.
"Vocês não acham perigoso estar aqui?"
"Achamos perigoso o mundo onde nosso presidente nos jogou. Agora é tarde. Seus atos devem estar produzindo mil terroristas suicidas por dia. É só uma questão de tempo. Não há mais lugar seguro no mundo."
"Vocês vieram para Londres só pra isso?"
"Sim, trabalho em Birmingham para uma firma americana e acho que precisava expressar meus sentimentos de alguma forma. Estar aqui era a única coisa que podíamos fazer. Já escrevemos à Casa Branca e ao nosso senador [de Ohio], sem resultado."
O que acontecerá amanhã (a tal marcha oficial de protesto)- que passará em Whitehall (onde estão todos os prédios oficiais do governo e que desemboca no Parlamento)-, ninguém sabe. George W. Bush provavelmente nem tomará conhecimento. Afinal, o que ele veio fazer aqui só mesmo ele sabe. Veio ser visto pelo eleitorado americano. Essas imagens são para serem reproduzidas pelas redes americanas, e o endosso da coroa britânica ainda vale pontos.
Mas o que contará na próxima eleição americana é se Bagdá virou ou não o próximo Vietnã e se arruinou ou não o bolso da classe média americana.


Gerald Thomas é dramaturgo


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