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Ex-agente secreto russo é envenenado em Londres
Alexander Litvinenko está internado em "graves condições" em hospital da capital
Crítico mordaz ao governo de Moscou, ex-espião fugiu para o Reino Unido há seis anos; é procurado no seu país e acusado de traição
DO INDEPENDENT
Um agente secreto russo dissidente está em condições de
saúde críticas num hospital de
Londres, depois de ter sido envenenado numa conspiração
digna de um livro de John le
Carré.
Alexander Litvinenko, um
ex-tenente-coronel do FSB, o
serviço de inteligência russo, e
forte crítico do governo de Vladimir Putin, fugiu para o Reino
Unido em 2000, dizendo temer
por sua vida. Ontem, a Polícia
Metropolitana de Londres disse que ele está em condições
"graves, mas estáveis", depois
de exames confirmarem a presença de um veneno de rato
chamado tálio no seu corpo.
O dissidente de 44 anos, que
foi condenado à revelia por
traição na Rússia, foi levado ao
hospital quando passou a vomitar constantemente. Seu cabelo
começou a cair e acredita-se
que seus rins tenham sido prejudicados pelos efeitos da dose
de tálio. O metal pesado, difícil
de ser obtido no Reino Unido,
provoca danos no sistema nervoso e nos pulmões. Inodoro e
incolor, é usado como veneno
de rato no Oriente Médio.
Indigestão
Litvinenko disse a seus amigos que se sentiu mal depois de
almoçar em um restaurante japonês, em Londres, no dia 1º de
novembro, data do seu sexto
aniversário de chegada ao Reino Unido. Ele ganhou cidadania britânica no mês passado.
O russo almoçava com um
italiano chamado Mario Scaramella, um informante suspeito
de ter conexões com o serviço
secreto russo. Ele teria entregado a Litvinenko documentos
que supostamente indicavam
que agentes russos estão envolvidos no assassinato da repórter russa Anna Politkovskaya,
48, morta a tiros, em Moscou,
no mês passado.
Politkovskaya era uma das
mais importantes jornalistas
do país, crítica contumaz do governo Putin e conhecida por revelar abusos da Rússia sobre a
Tchetchênia, causa a que Litvinenko se dedicou.
Na semana passada, a agência de notícias pela internet
"Chechenpress" publicou uma
entrevista com Litvinenko, em
que ele se recusava a dizer o nome de quem acreditava tê-lo
envenenado. Afirmou, porém,
que os documentos que havia
recebido continham nomes de
agentes do FSB ligados à morte
da jornalista. "A julgar por esses documentos, as pistas do
assassinato de Politkovskaya
conduzem ao FSB", disse. Ele
prometeu que, quando se recuperar, entregará os papéis ao
jornal "Novaya Gazeta", onde
Politkovskaya trabalhava.
Segundo um especialista, as
chances de sobrevivência do
dissidente russo são "de 50%",
de acordo com o nível de veneno ingerido por ele.
John Henry, professor de toxicologia no hospital St. Mary,
diz que o tálio é usado em exames de coração para registrar
informações na corrente sangüínea, mas pode ser letal.
O ex-agente ficou seriamente
doente duas horas depois de se
encontrar com Scaramella.
Não há evidências de que o italiano tenha algo a ver com o envenenamento. Litvinenko diz
acreditar que a toxina foi colocada numa xícara de café. Temendo outras tentativas contra
a vida do russo, policiais estão
escalados para cuidar de sua segurança. "Nenhuma prisão foi
feita", disse um porta-voz da
polícia britânica.
Litvinenko é procurado na
Rússia e acusado de abuso de
autoridade enquanto era funcionário do serviço secreto,
além de ter estocado ilegalmente explosivos em sua casa.
Ele nega as acusações.
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