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SUCESSÃO NOS EUA/ PROJETO DE GOVERNO
Obama nomeia linha-dura para plano de segurança
Equipe que detalhará políticas públicas terá progressistas para cuidar de imigração
Nome para economia quer conclusão da Rodada Doha e reforma do FMI; titular da segurança nacional apoiou
a lei antiterror de Bush
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
Políticas progressistas em relação a imigrantes, reformistas
na economia e linha-dura na
segurança nacional são as linhas de atuação sugeridas pelas
últimas indicações do presidente eleito dos EUA, Barack
Obama, para as equipes que vão
elaborar projetos setoriais para
o próximo governo.
Para liderar a área de segurança nacional, Obama selecionou ontem o advogado e acadêmico James B. Steinberg, 55,
ex-vice-conselheiro de Segurança Nacional de Bill Clinton
(1993-2001). Steinberg defendeu a renovação do Ato Patriótico -que ampliou, em 2001, os
poderes do Executivo e das
agências de informação, por vezes em detrimento de direitos
civis dos americanos.
Ele afirma que a maior comunicação das agências de segurança proporcionada pela
ato é imprescindível para proteger os EUA, e sugere uma integração ainda maior dos aspectos domésticos e internacionais do contraterrorismo.
Steinberg também defende o
uso de ataques preventivos em
caso de suspeita de ameaça aos
EUA, tese incluída na chamada
Doutrina Bush. "Um exame
cuidadoso da história, dos motivos, dos custos e dos benefícios da força preventiva sugere
que, apesar de rara, ela tem um
papel legítimo na abordagem
de alguns dos problemas de segurança que os EUA enfrentam", escreveu.
Ele ressalvou, porém, que
ataques preventivos não devem
ser usados para mudança de regime -o que o diferencia, por
exemplo, dos neoconservadores, influentes no primeiro
mandato de Bush- e devem ser
coordenados com outros países. O advogado defende a importância da diplomacia.
Steinberg ajudou a elaborar
em junho um discurso linha-dura do então candidato Obama sobre o Oriente Médio. O
discurso defendia a indivisibilidade de Jerusalém -os palestinos reivindicam o setor oriental da cidade como sua futura
capital- e reforçava que seria
feito "tudo" para impedir o Irã
de obter armas nucleares.
Outra indicada de Obama para a equipe de políticas de segurança nacional é Susan Rice.
Também ex-membro da Casa
Branca de Clinton, Rice segue o
chamado "internacionalismo
liberal" -prega o multilateralismo, mas defende intervenções por razões humanitárias,
como em Darfur (Sudão).
Economia
Para o programa econômico,
Obama contará com outro advogado, Daniel K. Tarullo - especialista em economia internacional, regulamentação e sistema bancário. A nomeação poderá trazer boas notícias para o
Brasil, já que o nomeado defende a conclusão da Rodada Doha
da OMC (Organização Mundial
do Comércio).
Também interessam ao Brasil as críticas de Tarullo ao governo Bush por exigir práticas
trabalhistas semelhantes às
dos EUA em acordos comerciais. Segundo ele, os acordos
devem incluir apenas princípios (liberdade de associação,
respeito ao direito de negociação coletiva, eliminação do trabalho forçado e infantil e fim da
discriminação no trabalho).
Tarullo ainda é favorável à
reforma do Banco do Mundial e
do FMI -propondo o aumento
de cotas de votação neste último para países emergentes.
Ele é cotado para liderar o
Conselho Econômico Nacional
da Casa Branca. É membro do
Centro para o Progresso Americano, entidade na qual Obama tem buscado vários assessores. Como outros membros da
equipe do próximo governo, ele
trabalhou no governo Clinton,
como conselheiro de política
econômica internacional.
Reforma migratória
Na área da imigração, as escolhas de Obama sinalizam visão favorável à reforma migratória. Os dois nomes indicados
para a elaboração de propostas
têm orientação progressista:
Alexander Aleinikoff e Mariano-Florentino Cuéllar.
Cuéllar já indicou ver com
bons olhos a anistia para os
imigrantes em situação ilegal:
"Pesquisas indicam que a maioria dos americanos crê que é
preciso (...) criar um caminho
para a cidadania para imigrantes sem documentos que paguem uma multa", afirmou.
Aleinikoff defende que os Estados devem adotar políticas
que garantam cidadania para
imigrantes de terceira e segunda gerações, com base no direito de solo, e que o processo de
naturalização não deve requerer período de residência nos
EUA acima de cinco anos.
Ele também defende a melhor administração da dupla cidadania (algo que os EUA hoje
tentam evitar), a integração política dos imigrantes e o acesso
destes a benefícios sociais. "A
permanência presumida, e não
a cidadania, deve garantir acesso a benefícios de bem-estar social", escreveu.
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