São Paulo, sexta-feira, 20 de dezembro de 2002

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IRAQUE NA MIRA

País teria deixado de cumprir obrigações ao omitir dados em dossiê

EUA afirmam que Bagdá violou resolução da ONU

DA REDAÇÃO

Os EUA disseram ao Conselho de Segurança (CS) da ONU ontem que consideravam o Iraque em "violação material" de recente resolução da ONU, expressão que poderia ser usada para iniciar uma ofensiva contra o país.
O secretário de Estado americano, Colin Powell, disse que a declaração de armas iraquiana -na qual, de acordo com a resolução, o país deveria listar de forma "precisa, integral e completa" todos os seus programas biológicos, químicos e nucleares ou enfrentar "sérias consequências"- estava cheio de enganações e omissões.
Powell disse que o Iraque estava em "violação material" da resolução 1441 da ONU, aprovada pelo CS em novembro, mas que Washington não planejava usar isso como justificativa para uma guerra imediata contra Bagdá.
"Segundo nossos especialistas, [o dossiê] é qualquer coisa menos preciso, integral e completo", afirmou. "A declaração iraquiana fracassa totalmente em cumprir as exigências da resolução."
Powell classificou o dossiê como "um catálogo de informações recicladas e omissões flagrantes".
"Essas são omissões materiais que, em nossa opinião, constituem mais uma violação material. Estamos desapontados, mas não estamos iludidos", disse.
Powell afirmou que os EUA continuariam a examinar o dossiê nas próximas semanas e disse que os inspetores deveriam intensificar seu trabalho dentro do Iraque e fazer esforços maiores para entrevistar cientistas iraquianos fora do país. Ele afirmou que os EUA continuarão trabalhando com aliados para achar formas de fazer o Iraque cumprir a resolução.
Segundo Powell, o não-cumprimento da resolução pelo Iraque aproxima o dia em que Bagdá pode sofrer "sérias consequências".
Segundo a resolução 1441, para que uma "violação material" seja declarada, é preciso que o Iraque tanto forneça afirmações falsas ou omissões na declaração quanto não coopere com os inspetores de armas da ONU.
O chefe dos inspetores da ONU, Hans Blix, afirmou ontem que a cooperação de Bagdá com seus inspetores, que voltaram ao Iraque após quatro anos de ausência, no mês passado, tem sido boa.
Segundo analistas, apesar de Washington dizer que as omissões não serão usadas já para iniciar uma guerra, a declaração de "violação material" inaugurou a lista de violações sérias que os EUA devem compilar antes de começar um ataque.

Mobilização
O governo dos EUA autorizou ontem o envio de mais 50 mil militares para a região do golfo Pérsico, dobrando sua presença na área. A mobilização deve começar no início de janeiro e terminar no meio do mês, diz o Pentágono.
O anúncio foi feito em meio a uma série de encontros entre o presidente dos EUA, George W. Bush, o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, e o chefe do Comando Central, Tommy Franks, que comandaria uma possível ofensiva militar contra o Iraque.
Os planos prevêem a convocação de milhares de reservistas, o envio de tanques adicionais, aviões e outros equipamentos que deverão ficar posicionados ao redor do Iraque. Dois porta-aviões já estão a caminho do Golfo, para se juntar a outros dois.
Apesar de bem inferior em relação aos 500 mil militares que participaram da Guerra do Golfo (1991), os 100 mil homens mobilizados agora condizem com uma estimativa feita pelo Pentágono do número ideal de soldados para uma ação para derrubar Saddam.
O jornal "The Washington Post" disse que os EUA esperariam até a última semana de janeiro para obter apoio da ONU para um ataque ao Iraque após ser determinado que o país violou a resolução. Janeiro e fevereiro são meses ideais para um ataque por ser a época menos quente no país.


Com agências internacionais


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