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Líbia condena cinco búlgaras à morte
Enfermeiras e médico palestino são acusados de infectarem 426 crianças com HIV, o que negam pesquisas independentes
Ditador Gaddafi politizou o
caso; pena é criticada pela
ONU, Bulgária, Casa Branca
e União Européia; defesa
recorrerá ao Supremo líbio
DA REDAÇÃO
Cinco enfermeiras búlgaras e
um médico palestino foram ontem condenados à morte, na Líbia, por supostamente infectarem com HIV, "de forma deliberada", 426 crianças num hospital da cidade de Benghazi.
A sentença gerou imediato
protestos das Nações Unidas,
dos governos da Bulgária,
França e Estados Unidos e da
União Européia.
Os réus estão presos há sete
anos, e a sentença ontem anunciada conclui o segundo julgamento, já que o primeiro foi
anulado por vícios formais.
Os advogados anunciaram
que irão recorrer á Corte Suprema daquele país norte-africano. O processo também será
analisado pelo Alto Conselho
de Justiça, presidido por um
dos ministros do ditador
Muammar Gaddafi.
O caso se politizou desde o
início, transformando-se na
mídia local em questão de honra machucada. Gaddafi, ao orquestrar o que muitos qualificam de farsa judicial, põe em
risco sua reaproximação com o
Ocidente, iniciada em 2003,
após o abandono de seus projetos de produção de armas de
destruição em massa.
A condenação do médico palestino e das cinco enfermeiras
não levou em conta duas pesquisas independentes.
Na primeira, ontem lembrada pela Associação Médica
Mundial e pelo Conselho Internacional de Enfermagem, o
médico francês Luc Montagnier, um dos descobridores do
vírus da Aids, constatou que o
HIV estava presente no hospital bem antes que os atuais réus
fossem contratados.
A segunda pesquisa, publicada pela revista "Nature" e coordenada por infectologistas da
Universidade de Oxford, aplicou a noção de "relógio molecular" para demonstrar que a
infecção das crianças precedeu
em até três anos a chegada das
enfermeiras a Benghazi.
Cientistas ocidentais acreditam que, para acobertar as condições hospitalares precárias e
a falta de higiene, a Líbia acabou transformando as enfermeiras em bodes expiatórios.
"A justiça foi feita. Essa gente
deve ser fuzilada rapidamente", dizia, mesmo assim, Subhy
Abdullah, cuja filha de sete
anos está entre as mais de 50
crianças que já morreram.
Outros familiares, diz a agência Reuters, acreditam que a infecção foi uma conspiração
perversa dos ocidentais para
atingir um país muçulmano.
"A sentença em nada mudará
a verdade, porque somos inocentes", disse o réu e médico
palestino Ashraf Alhajouj.
Quando a infecção foi constatada, o governo líbio pediu à
Bulgária uma indenização de
R$ 28 milhões por criança. O
governo búlgaro rejeitou o que
seria uma admissão de culpa.
Em Sófia, o presidente Georgi Parvanov e o primeiro-ministro Serguei Stanishev qualificaram a sentença de "absurda". A ONU, em Genebra, afirmou por meio do setor de direitos humanos que a sentença levanta dúvidas quanto a sua justeza. Em Bruxelas, a União Européia -da qual a Bulgária será
membro em janeiro-, segundo
o porta-voz Johannes Laitenberger, ficou "chocada".
Em Washington, o porta-voz
da Casa Branca, Tony Snow,
disse estar "desapontado". A
secretária de Estado, Condoleezza Rice, também afirmou
seu desapontamento. A sentença foi "deplorada" em Paris pela
diplomacia francesa.
Com agências internacionais
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