São Paulo, quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Seis palestinos são mortos e nova trégua é anunciada

Sob espectro da guerra civil, Fatah e Hamas decretam segundo cessar-fogo em três dias

Dia teve batalhas campais que feriram cinco crianças; primeiro-ministro acusa presidente de colaborar com boicote liderado pelos EUA

DA REDAÇÃO

Novos confrontos deixaram seis mortos na faixa de Gaza, enterrando de vez a frágil trégua decretada no domingo entre as duas principais facções palestinas. Num cenário que cada vez mais se assemelhava a uma guerra civil, chefes da segurança do Hamas e do Fatah anunciaram na noite de ontem ter ordenado a retirada de suas milícias das ruas de Gaza, em nova tentativa de estabelecer um cessar-fogo, desta vez mediada pelo Egito. A anterior durou pouco mais de 24 horas.
Pouco antes de a segunda trégua em três dias entrar em vigor, o premiê Ismail Haniyeh, do grupo fundamentalista Hamas, acusou o presidente Mahmoud Abbas, líder do secular Fatah, de colaborar com o boicote internacional que isolou o governo palestino.
Até o novo cessar-fogo, o dia de ontem em Gaza reforçou os temores de que uma guerra civil, se ainda não começara, era iminente. Membros das forças de segurança do Hamas e do Fatah se enfrentaram nas ruas em longos tiroteios, que terminaram com quatro mortos e cinco crianças feridas por balas perdidas. Os corpos de dois seguranças de Abbas foram achados com sinais de execução.

"Golpe"
A violência interna, a pior da história palestina, sofreu uma escalada depois que Abbas, no sábado, disse que convocaria eleições legislativas e presidenciais antecipadas, numa tentativa de romper meses de impasse político. O Hamas, que conquistou o governo nas eleições de janeiro, classificou a iniciativa de "golpe" e prometeu boicotar as eleições, caso ocorram.
Em pronunciamento transmitido pela TV, Haniyeh responsabilizou o presidente e a comunidade internacional pela crise institucional na Cisjordânia e em Gaza e pediu que os palestinos deixem de brigar entre si e se concentrem na luta contra "a ocupação israelense".
"Esta nação, este povo, ficará unido diante da ocupação e da agressão e não se enfrentará, apesar das feridas do últimos dias, em brigas internas", disse o premiê. Haniyeh reiterou que o movimento islâmico não aceitará a antecipação das eleições e acusou os EUA de articular um plano para derrubar seu governo.
Na Cidade de Gaza, civis tiveram que buscar abrigo das batalhas campais entre Fatah e Hamas, que incluíram até lança-granadas. Muitas lojas e escritórios tiveram que fechar. "Isso é uma loucura", disse o taxista Adel Mohammad Ali, 40. "As ruas estão divididas entre homens armados do Hamas e do Fatah. E nunca se sabe quem é quem."
O mais novo cessar-fogo, anunciado em conjunto por membros dos dois grupos, estabelece que os "homens armados" deixem as ruas de Gaza, e que as forças de seguranças do Fatah e do Hamas retornem às posições que mantinham antes da escalada atual. O acordo também determina a libertação de todos os reféns tomados pelas milícias rivais.
"Abençoamos e apoiamos este acordo", disse o presidente Abbas, anunciando que a trégua entraria em vigor às 23h de ontem (19h de Brasília). "Esperamos que todos cumpram o acordo."
O premiê Haniyeh também foi a público manifestar seu apoio ao cessar-fogo.
Na Cisjordânia, onde também houve episódios de violência entre o Fatah e o Hamas, tropas israelenses mataram uma palestina de 13 anos, que pensaram ser um miliciano que tentava entrar em Israel. Fontes palestinas anunciaram ontem que está sendo preparado um encontro entre Abbas e o premiê de Israel, Ehud Olmert. Ainda não foi definida a data.
Diante do desgoverno crescente, a preocupação internacional era a de conter a violência antes que ela ganhasse proporções regionais. "Esperamos que realmente haja um cessar-fogo. Isso é o mais importante", disse a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice.


Com agências internacionais


Texto Anterior: Livre do embargo, país muda rápido mesmo sob Gaddafi
Próximo Texto: Frases
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.