São Paulo, quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

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ARTIGO

Abbas não tem força para impor solução

STEVEN ERLANGER
DO "NEW YORK TIMES", EM JERUSALÉM

O pedido do moderado Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), por eleições antecipadas é parte de um esforço apoiado pelo Ocidente para reanimar o processo de paz do Oriente Médio, na esperança de derrubar o governo do radical Hamas, que defende a extinção de Israel.
Mas Abbas é um líder fraco no momento, com pouca capacidade de impor a execução de suas ordens ou de sua vontade.
Dois anos depois de sua eleição, com a morte de Iasser Arafat, as pesquisas mostram que a maioria dos palestinos vê Abbas como grande decepção, por não ter conseguido reformar o Fatah, movimento político que dirige, nem propiciado melhoras condições em suas vidas, enquanto aparenta fazer as vontades dos EUA e de Israel.
Abbas anunciou as eleições antecipadas de maneira dramática, no sábado, mas parece improvável que elas venham a ser realizadas. O Hamas prometeu boicotar qualquer nova eleição legislativa. Assim, mesmo que haja alguma forma de votação, o boicote do Hamas a tornaria irrelevante.
Portanto, talvez seja tarde demais para que Abbas e o Fatah sejam apoiados de maneira efetiva, mesmo que por um novo esforço de assistência norte-americano e britânico. Abbas ocupa território constitucional incerto. Parece claro que ele não tem o direito legal de dissolver o Parlamento sem o consentimento de seus membros. Não que princípios constitucionais sejam sagrados na região, mas o fato é que Abbas não tem poder para levar a cabo a proposta que apresentou.
Ao mesmo tempo, o Hamas receberia favoravelmente uma renúncia do presidente, o que significaria uma eleição presidencial antecipada e ofereceria ao movimento uma oportunidade de derrotá-lo e assumir pleno controle da ANP.
"Ele convocou eleições, mas todos sabemos que não será fácil implementá-las", disse Khaled Duzdar, analista político palestino. "Agora é tarde demais para tomar medidas reais contra o Hamas, mas Abbas não parece compreender o fato", acrescentou. "Ao menos, a convocação de eleições pressionará o Hamas a retomar as negociações por um governo de unidade nacional."
Os palestinos, profundamente avessos à idéia de uma guerra civil porque sentem que o verdadeiro inimigo são os ocupantes israelenses, têm a mesma esperança de que Hamas e Fatah cheguem a um acordo e criem um governo de união.
Mouin Rabbani, analista sênior do International Crisis Group, um grupo de pesquisa independente sobre política externa, argumenta que apoiar uma facção palestina contra outra é uma má idéia. Ele diz que só poderá haver progresso com base em um consenso, mesmo que o Ocidente não aprove o resultado.
"Os palestinos continuarão incapazes de tomar decisões significativas, ou executá-las, a menos que haja amplo consenso que inclua, no mínimo, o Hamas e o Fatah", diz. "A comunidade internacional pode ter suas preferências, mas a prática de tentar obter progresso tomando por base as divisões no movimento palestino fracassou de forma espetacular."
Até a fórmula relativamente moderada que Abbas propõe para um acordo final de paz com Israel é tão inaceitável para este governo israelense quanto o era para o anterior. Assim, a outra responsabilidade principal (e fonte de credibilidade) de Abbas como líder dos negociadores palestinos também se provou vã.


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