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FILIPINAS
Joseph Estrada, que enfrentava processo de impeachment e protestos populares generalizados, é substituído pela vice
Pressionado, presidente filipino renuncia
DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
O presidente das Filipinas, Joseph Estrada, que enfrentava um
processo de impeachment, renunciou ontem ao cargo após
quatro dias de protestos populares que pediam sua saída.
A vice-presidente, Gloria Macapagal Arroyo, que passou para a
oposição no ano passado, quando
as primeiras denúncias de corrupção contra Estrada apareceram, tomou posse ontem mesmo
como a nova presidente do país.
A renúncia de Estrada aconteceu após milhares de manifestantes terem cruzado os cordões policiais que protegiam o palácio presidencial para exigir sua renúncia,
enquanto a Suprema Corte filipina declarava seu cargo vago.
Anteontem, os comandantes
militares, chefes policiais e diversos ministros já haviam retirado
seu apoio a Estrada e declarado
lealdade a Arroyo, antes de se juntarem a cerca de 500 mil manifestantes nas ruas da capital, Manila.
A crise política no país é considerada a mais grave desde 1986,
quando uma revolta popular derrubou o ditador Ferdinand Marcos. Os protestos populares começaram na quarta-feira, depois
que uma comissão do Senado
praticamente anulou as chances
de o impeachment ser aprovado.
Os promotores que investigam
as acusações contra Estrada queriam a quebra de seu sigilo bancário para provar um suposto enriquecimento ilícito durante seu
governo. O pedido foi negado por
11 a 10. Em protesto, a acusação se
retirou, provocando uma paralisação no processo contra Estrada.
Antes de anunciar sua renúncia,
Estrada já havia ignorado um ultimato dado por Arroyo e pelas
principais lideranças oposicionistas, que haviam dado um prazo
até as 6h de ontem (20h de anteontem em Brasília) para que ele
deixasse o palácio presidencial.
Num pronunciamento à nação
anteontem, Estrada havia pedido
um prazo de cinco dias e um perdão pelas acusações de corrupção
feitas contra ele antes de deixar o
cargo. Antes disso, ele já havia
proposto também a antecipação
para maio das eleições presidenciais, que deveriam acontecer daqui a três anos.
Logo após o anúncio da renúncia de Estrada, os milhares de manifestantes nas ruas da capital
passaram a festejar e a saudar Arroyo como a nova presidente.
Falando à multidão reunida na
mesma praça que foi o símbolo da
derrocada de Ferdinand Marcos,
Arroyo disse que o "poder popular" ajudou a derrubar Estrada.
"Os filipinos conseguiram, novamente", afirmou ela.
"Eu aceito o privilégio e a responsabilidade de atuar como presidente da República", disse ela à
multidão. "Faço isso com reverência", acrescentou. Arroyo, filha de um ex-presidente, agradeceu a diversos líderes da oposição,
entre eles a ex-presidente Corazón Aquino, que liderou a derrubada de Marcos em 1986.
A embaixada dos EUA em Manila declarou apoio a Arroyo.
"Nós temos uma relação de trabalho excepcionalmente forte com a
nova presidente, Gloria Macapagal Arroyo, e esperamos trabalhar
com ela para intensificar ainda
mais as relações entre os EUA e as
Filipinas", disse um comunicado
da embaixada.
Estrada e sua família deixaram o
palácio presidencial cerca de duas
horas depois de Arroyo tomar
posse. Aparentando cansaço, Estrada deu um leve sorriso e disse
"obrigado", antes de seguir para
uma província ao sul do país.
Poucas horas antes, seus assessores confirmaram que ele aceitaria a decisão da Suprema Corte,
que declarou o cargo de presidente vago. "Podemos assegurar à
população que o presidente Estrada aceita a decisão da Suprema
Corte", afirmou o secretário de
Governo, Edgardo Angara. O secretário negou os rumores de que
Estrada abandonaria o país.
Antes de deixar o palácio, Estrada havia divulgado um comunicado no qual dizia ter "fortes e sérias dúvidas" sobre a legalidade e
a constitucionalidade da posse de
Arroyo, mas que deixaria o poder
"para o bem do país". "Não quero
ser um fator que impeça a restauração da unidade e da ordem em
nossa sociedade civil", afirmou.
O futuro de Estrada é incerto.
Arroyo declarou ontem que não
aceitaria conceder anistia a ele.
Os protestos populares que levaram à queda de Estrada foram
pacíficos em geral. Apenas umas
poucas pessoas ficaram levemente feridas quando a multidão
avançou sobre o bloqueio policial
que guardava o palácio.
As forças de segurança presidenciais haviam alertado anteriormente para um possível "banho de sangue", caso a população
tentasse avançar contra o palácio.
Oposição da igreja
Ex-ator de filmes de ação, Estrada chegou ao poder havia dois
anos e oito meses com uma fama
de mulherengo, beberrão e jogador compulsivo, o que levou a
Igreja Católica, muito forte no
país, a lhe fazer oposição desde os
tempos de campanha eleitoral.
Sua fama como ator lhe garantiu popularidade, especialmente
entre as classes mais baixas da população. Antes de ser eleito presidente das Filipinas, Estrada já havia sido prefeito da cidade de San
Juan por 17 anos, senador e também vice-presidente.
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