São Paulo, domingo, 21 de janeiro de 2001

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FILIPINAS

Joseph Estrada, que enfrentava processo de impeachment e protestos populares generalizados, é substituído pela vice

Pressionado, presidente filipino renuncia

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O presidente das Filipinas, Joseph Estrada, que enfrentava um processo de impeachment, renunciou ontem ao cargo após quatro dias de protestos populares que pediam sua saída.
A vice-presidente, Gloria Macapagal Arroyo, que passou para a oposição no ano passado, quando as primeiras denúncias de corrupção contra Estrada apareceram, tomou posse ontem mesmo como a nova presidente do país.
A renúncia de Estrada aconteceu após milhares de manifestantes terem cruzado os cordões policiais que protegiam o palácio presidencial para exigir sua renúncia, enquanto a Suprema Corte filipina declarava seu cargo vago.
Anteontem, os comandantes militares, chefes policiais e diversos ministros já haviam retirado seu apoio a Estrada e declarado lealdade a Arroyo, antes de se juntarem a cerca de 500 mil manifestantes nas ruas da capital, Manila.
A crise política no país é considerada a mais grave desde 1986, quando uma revolta popular derrubou o ditador Ferdinand Marcos. Os protestos populares começaram na quarta-feira, depois que uma comissão do Senado praticamente anulou as chances de o impeachment ser aprovado.
Os promotores que investigam as acusações contra Estrada queriam a quebra de seu sigilo bancário para provar um suposto enriquecimento ilícito durante seu governo. O pedido foi negado por 11 a 10. Em protesto, a acusação se retirou, provocando uma paralisação no processo contra Estrada.
Antes de anunciar sua renúncia, Estrada já havia ignorado um ultimato dado por Arroyo e pelas principais lideranças oposicionistas, que haviam dado um prazo até as 6h de ontem (20h de anteontem em Brasília) para que ele deixasse o palácio presidencial.
Num pronunciamento à nação anteontem, Estrada havia pedido um prazo de cinco dias e um perdão pelas acusações de corrupção feitas contra ele antes de deixar o cargo. Antes disso, ele já havia proposto também a antecipação para maio das eleições presidenciais, que deveriam acontecer daqui a três anos.
Logo após o anúncio da renúncia de Estrada, os milhares de manifestantes nas ruas da capital passaram a festejar e a saudar Arroyo como a nova presidente.
Falando à multidão reunida na mesma praça que foi o símbolo da derrocada de Ferdinand Marcos, Arroyo disse que o "poder popular" ajudou a derrubar Estrada. "Os filipinos conseguiram, novamente", afirmou ela.
"Eu aceito o privilégio e a responsabilidade de atuar como presidente da República", disse ela à multidão. "Faço isso com reverência", acrescentou. Arroyo, filha de um ex-presidente, agradeceu a diversos líderes da oposição, entre eles a ex-presidente Corazón Aquino, que liderou a derrubada de Marcos em 1986.
A embaixada dos EUA em Manila declarou apoio a Arroyo. "Nós temos uma relação de trabalho excepcionalmente forte com a nova presidente, Gloria Macapagal Arroyo, e esperamos trabalhar com ela para intensificar ainda mais as relações entre os EUA e as Filipinas", disse um comunicado da embaixada.
Estrada e sua família deixaram o palácio presidencial cerca de duas horas depois de Arroyo tomar posse. Aparentando cansaço, Estrada deu um leve sorriso e disse "obrigado", antes de seguir para uma província ao sul do país.
Poucas horas antes, seus assessores confirmaram que ele aceitaria a decisão da Suprema Corte, que declarou o cargo de presidente vago. "Podemos assegurar à população que o presidente Estrada aceita a decisão da Suprema Corte", afirmou o secretário de Governo, Edgardo Angara. O secretário negou os rumores de que Estrada abandonaria o país.
Antes de deixar o palácio, Estrada havia divulgado um comunicado no qual dizia ter "fortes e sérias dúvidas" sobre a legalidade e a constitucionalidade da posse de Arroyo, mas que deixaria o poder "para o bem do país". "Não quero ser um fator que impeça a restauração da unidade e da ordem em nossa sociedade civil", afirmou.
O futuro de Estrada é incerto. Arroyo declarou ontem que não aceitaria conceder anistia a ele.
Os protestos populares que levaram à queda de Estrada foram pacíficos em geral. Apenas umas poucas pessoas ficaram levemente feridas quando a multidão avançou sobre o bloqueio policial que guardava o palácio.
As forças de segurança presidenciais haviam alertado anteriormente para um possível "banho de sangue", caso a população tentasse avançar contra o palácio.

Oposição da igreja
Ex-ator de filmes de ação, Estrada chegou ao poder havia dois anos e oito meses com uma fama de mulherengo, beberrão e jogador compulsivo, o que levou a Igreja Católica, muito forte no país, a lhe fazer oposição desde os tempos de campanha eleitoral.
Sua fama como ator lhe garantiu popularidade, especialmente entre as classes mais baixas da população. Antes de ser eleito presidente das Filipinas, Estrada já havia sido prefeito da cidade de San Juan por 17 anos, senador e também vice-presidente.


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