|
Texto Anterior | Índice
Para sociólogo, multar é melhor do que prender
DE PARIS
Um sistema de punição que
maltrate o bolso e não o corpo.
Para o sociólogo Philippe
Combessie, professor da Universidade Sorbonne e autor de
um livro premiado sobre as
condições das prisões na Europa ("Prisons de Ville et de
Campagne", de 96), a melhor
forma de punir crimes leves e
medianos é substituir a clausura pela cobrança de multas.
Na França, o mecanismo está
previsto na lei, mas ainda é
pouco aplicado. São as chamadas "amende jour" ("multa-dia"), cujo valor é estipulado de
acordo com o salário ou a condição social do infrator.
A Alemanha é um dos países
onde mais se utiliza a cobrança
de multas em substituição ao
encarceramento.
"É como se o acusado estivesse trabalhando para a sociedade", diz o sociólogo. Quanto
mais rico -ou quanto maior o
salário-, maior será a multa.
"A cadeia, como ela é hoje,
não recupera ninguém. O sujeito só alimenta ódio e vingança enquanto está lá dentro",
avalia o sociólogo.
Segundo ele, o prejuízo financeiro, na sociedade de hoje,
é mais significativo e doloroso
do que o dano moral e físico
que a detenção pode implicar.
"É realmente preciso utilizar
as alternativas de pena que
existem para que as cadeias da
Europa sofram menos com a
superpopulação", diz Guy de
Vel, diretor de assuntos jurídicos do Conselho Europeu, em
Estrasburgo.
Para ele, a prestação de serviços sociais à comunidade também pode ser uma ótima forma
de pagar por crimes leves.
"A sociedade lucra com isso,
e o cidadão, que escapou de ir
para a cadeia, vai pensar mais
vezes antes de voltar a cometer
um crime", acredita De Vel.
Quase uma tradição na Rússia e em alguns países do Leste
Europeu, como a Bulgária e a
Turquia, a anistia a presos divide a opinião de especialistas.
Na França, o presidente concede todos os anos, na comemoração ao 14 de Julho, anistia
a algumas dezenas de presos.
Segundo o sociólogo Combessie, "a minianistia francesa é
perversa". "Os critérios utilizados na seleção dos presos que
terão direito à anistia na França
são puramente políticos", critica. No caso do indulto na Rússia, Combessie e De Vel concordam que é a saída mais rápida para o caos em que o sistema carcerário do país se encontra.
(CA)
Texto Anterior: Anistia: Rússia deve libertar 1/3 de sua população carcerária Índice
|