São Paulo, quarta-feira, 21 de janeiro de 2004

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Dean precisa agora de algo mais, dizem analistas

DAVID E. ROSENBAUM
DO "NEW YORK TIMES"

A fraqueza demonstrada por Howard Dean no caucus de Iowa e a performance poderosa dos senadores John Kerry e John Edwards indicam que Dean não pode depender de sua organização forte para conduzi-lo à vitória na primária de New Hampshire, na próxima semana, segundo especialistas políticos do Estado.
Ex-governador do vizinho Vermont, Dean lidera as sondagens em New Hampshire há meses e vinha contando com sua organização estadual -de longe a maior e mais entusiasmada entre as pré-candidaturas.
Mas, por mais importante que seja a organização em New Hampshire, ela é ainda mais crítica nos Estados que fazem caucus (reuniões partidárias). E ela não sustentou Dean em Iowa.
A cientista política Linda Fowler, de Dartmouth, disse que Dean vinha promovendo uma nova fórmula que envolve levantar fundos e gerar impulso pela internet, conseguindo o apoio de muitas pessoas que nunca antes votaram. ""A fórmula não tinha sido testada até hoje, e o primeiro teste foi decepcionante, para dizer o mínimo", afirmou Fowler.

Novo ímpeto para Kerry
No início da campanha de Kerry, a impressão era de que sua candidatura estava na liderança em New Hampshire, mas ela começou a perder força, enquanto a de Dean se fortalecia. Na noite de anteontem, porém, os partidários do senador disseram que o sucesso em Iowa pode ajudá-lo a reconquistar o terreno perdido.
Nos últimos dias a disputa em New Hampshire vem se desenhando como um confronto principalmente entre Dean e o general Wesley Clark, que deixou de competir em Iowa para poder concentrar sua atenção em New Hampshire.
Especula-se qual dos dois será mais prejudicado por alguma mudança dos eleitores do Estado em favor dos senadores Kerry ou Edwards.
Há apenas algumas semanas, o próprio Clark descrevia a primária de New Hampshire como uma corrida de duas pessoas -ele e Dean. "Mas agora não sei do que chamá-la", disse ele diante da vitória de Kerry.
Indagado sobre como se sente competindo com outro veterano militar (Kerry), Clark traçou uma distinção entre sua experiência, como ex-comandante da Otan, e o serviço militar prestado por Kerry, ex-tenente da Marinha no Vietnã. "Eu já negociei acordos de paz", disse. "Já liderei uma grande aliança em guerra. Uma coisa é ser herói quando se é oficial menor. Kerry fez isso, e eu o respeito. Mas eu tenho a experiência da liderança militar, tanto no escalão inferior quanto no superior."
Na sede da campanha de Kerry, anteontem, cerca de 200 pessoas se apertavam diante dos televisores, aplaudindo cada novo anúncio dos resultados do caucus.
Do outro lado do estacionamento, na sede de Dean, seus funcionários ficaram olhando para as telas de computador em silêncio.
Ao longo dos anos, a influência dos caucus de Iowa sobre o resultado das primárias em New Hampshire tem sido desigual. O caso mais notável aconteceu em 1984, quando Gary Hart chegou em segundo lugar, distante entre os muitos pré-candidatos democratas em Iowa, obtendo apenas um terço dos votos dados a Walter Mondale. Mas o segundo lugar foi o suficiente para chamar a atenção dos democratas que não gostavam de Mondale para sua candidatura, e Hart acabou vencendo a primária de New Hampshire com 37% dos votos, contra os 28% dados a Mondale.
Em 1976, a vitória surpreendente de Jimmy Carter em Iowa foi um dos fatores que o ajudaram a derrotar Morris Udall em New Hampshire. E, em 2000, o desempenho fraco de Bill Bradley em Iowa o prejudicou em New Hampshire, e ele acabou perdendo a primária para Al Gore. Por outro lado, George Bush, vencedor do caucus republicano em Iowa em 1980, perdeu para Ronald Reagan em New Hampshire.
Dayton Duncan, que atua na política democrata em New Hampshire há mais de 30 anos e escreveu uma história das primárias no Estado, declarou: ""Os resultados de Iowa terão efeito aqui. Mas não se sabe qual será esse efeito".


Tradução de Clara Allain


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