São Paulo, quarta-feira, 21 de janeiro de 2004

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ESTUDO

Anistia Internacional acusa Pyongyang de utilizar ajuda internacional como meio de "perseguição de adversários políticos"

Coréia do Norte usa fome como castigo

DA ASSOCIATED PRESS

Norte-coreanos famintos têm sido executados em público por furtarem alimentos, enquanto cresce o número dos que morrem de subnutrição em campos de trabalhos forçados naquele Estado comunista do nordeste asiático.
A denúncia foi feita ontem em um relatório da Anistia Internacional. A entidade exorta o governo da Coréia do Norte "a tomar precauções para que a escassez de comida não seja utilizada como instrumento de perseguição de adversários políticos".
O relatório foi divulgado em Mumbai (ex-Bombaim, na Índia), durante o 4º Fórum Social Mundial, e teve como fontes refugiados norte-coreanos que prestaram depoimentos na Coréia do Sul e no Japão. Há também fatos compilados por entidades humanitárias que, entre 2002 e 2003, participaram de programas destinados a aliviar os efeitos crônicos da fome na Coréia do Norte.
O documento, intitulado "Famintos de Direitos: Direitos Humanos e Crise de Alimentos na República Democrática Popular da Coréia", acusa o governo local de distribuir alimentos de forma discriminatória, favorecendo os que são economicamente ativos ou leais à ditadura comunista.
"Alguns norte-coreanos que foram levados pela fome a furtar ou roubar cereais foram executados em público", diz Rajiv Narayan, relator do documento da entidade humanitária baseada em Londres. "As execuções eram precedidas de muita publicidade, e crianças matriculadas em escolas eram forçadas a assistir às cerimônias de fuzilamento e enforcamento", diz Narayan.
A aplicação da pena de morte foi mais numerosa de 1996 a 1998, quando a escassez de alimentos atingiu seu pior período.
A Coréia do Norte é um país comunista que depende da ajuda internacional desde que, em meados da década de 90, admitiu o colapso do sistema estatal de produção agrícola e pecuária.
O relatório da Anistia Internacional parece confirmar o temor dos EUA e de outros doadores de comida de que as doações estejam sendo desviadas e entregues como prêmio a quem apoia o regime stalinista de Kim Jong-il.
"Sentíamos tanta fome que, quando chegava a primavera, ficávamos felizes porque podíamos comer grama", diz uma testemunha identificada só como Kim, que cumpriu pena de quatro anos por suposto crime de traição.
Kim disse que as refeições eram retiradas dos prisioneiros que ousavam conversar com algum outro. "Vi gente morrer de desnutrição", disse Kim. "Quando alguém morria, os demais prisioneiros demoravam para comunicar a morte às autoridades, pois, assim, podiam dividir a pouca comida que chegava para o morto."
Anteontem, as Nações Unidas anunciaram que reduziriam o programa de envio de suprimentos para 2,7 milhões de norte-coreanos em razão da queda no volume das doações internacionais.
O governo norte-coreano não tem permitido que organizações humanitárias nem os dois maiores doadores (EUA e Coréia do Sul) monitorem o modo como os alimentos são distribuídos.


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