São Paulo, quarta-feira, 21 de janeiro de 2004

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IRAQUE OCUPADO

Manifestantes temem que o status do ex-ditador o leve a ser poupado

Xiitas pedem execução de Saddam

DA REDAÇÃO

No quarto dia de passeatas xiitas no Iraque em pouco mais de uma semana, cerca de 5.000 pessoas saíram às ruas de Bagdá para exigir a execução do ex-ditador Saddam Hussein, capturado pelas forças dos EUA em dezembro.
É a primeira vez que uma passeata faz tal demanda. Anteontem, um protesto na capital por eleições diretas atraiu 100 mil xiitas, maioria reprimida nos 24 anos da ditadura de Saddam.
A manifestação de ontem começou nas ruas do bairro xiita de Sadr City, um dos mais pobres da capital, e seguiu até a praça Al Firdus, cenário da queda da estátua de Saddam na tomada de Bagdá.
"O carniceiro do Iraque não é um prisioneiro de guerra e deve ser punido", dizia uma faixa exibida pelos manifestantes. "Nós condenamos a injusta decisão americana", afirmava um comunicado lido pelos manifestantes.
"A América se esqueceu dos gritos de nossas crianças, dos órfãos, das lágrimas de nossas mulheres chorando sobre os túmulos de seus maridos e de seus filhos?"
Os EUA atribuíram ao ex-ditador o status de prisioneiro de guerra, o que lhe garante tratamento humano, julgamento imparcial e outros direitos assegurados nas Convenções de Genebra.
Organizações de defesa dos direitos humanos acreditam que tais garantias não serão cumpridas caso os EUA entreguem Saddam a um tribunal iraquiano. Anteontem, o secretário de Estado americano, Colin Powell, afirmou que o ex-ditador seria julgado "quando o Iraque tivesse um governo soberano", a partir de julho, mas não especificou se o processo transcorreria no Iraque.

Intervenções e mudanças
Os iraquianos querem que a ONU intervenha no processo. Outra demanda -esta endossada pelos EUA- é que o organismo internacional participe da transição política no país.
Tanto Washington quanto os xiitas querem que o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, envie uma equipe para analisar a viabilidade de um pleito direto ainda neste ano. O presidente George W. Bush e Powell se reuniram com o atual presidente do Conselho de Governo Iraquiano, Adnan Pachachi, em Washington. Anteontem, Bush encontrara o chefe do governo provisório, o americano Paul Bremer.
Após os encontros, Bush afirmou que não espera alterar a estrutura básica da transição. Já Powell disse que o Departamento de Estado não tinha planos ainda para lidar com as exigências xiitas.
"Queremos aperfeiçoar o plano de um modo que faça sentido e conseguir apoio de todas as partes", declarou o secretário.
Os EUA, que defendem um processo indireto, dizem que o tempo é insuficiente para a condução de um censo e a promulgação de uma nova Constituição, duas condições essenciais para o voto direto. Liderados pelo aiatolá Ali al Sistani, os xiitas, que são majoritários e provavelmente elegeriam um governo dessa linha islâmica, dizem que, sem diretas, não haveria legitimidade no governo.
Annan deve anunciar se enviará a missão nos próximos dias, após ouvir o parecer de uma equipe que avaliará se há segurança para o retorno da entidade. Desde outubro, a ONU não tem funcionários estrangeiros no Iraque, onde sua sede foi alvo de dois atentados -que mataram 24 pessoas.
Também ontem, o enviado dos EUA para negociar a dívida iraquiana, o ex-secretário de Estado James Baker, visitou os Emirados Árabes Unidos e o Qatar, que prometeram perdoar os US$ 7 bilhões que Bagdá lhes deve.


Com agências internacionais

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