|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Crítica a ONG não pode ser generalizada, diz Viva Rio
CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO
Maior ONG brasileira no
Haiti, o Viva Rio defende sua
atuação no país caribenho e
afirma manter articulação com
a Minustah, a força da ONU, e o
governo haitiano em programas voltados ao desenvolvimento nacional.
"Não se pode generalizar o
trabalho das ONGs", sustenta
Eduarda Hamann, coordenadora adjunta do projeto de
Operações de Paz do Viva Rio.
"A grande diferença é que estamos lá há cinco anos, e não há
uma semana."
Em entrevistas à Folha publicadas nesta semana, especialistas em Haiti haviam criticado a premissa de agências e
países doadores de que o trabalho das ONGs seria mais eficaz
do que o do governo local.
Segundo eles, ou as doações
servem a um "espetáculo" em
momentos de tragédia, sem
que haja controle sobre seu
destino, ou as atividades das
ONGs não se integram a um
projeto nacional de fortalecimento do Estado e das instituições haitianas.
O Viva Rio atua em educação
de jovens e pacificação em
áreas conflagradas pelo narcotráfico na capital fluminense.
Já foi criticado por organizar
manifestações pela paz na orla
da zona sul, área nobre.
No Haiti, a ONG dispõe de
orçamento considerável desde
que alugou por dez anos um
galpão de 20 mil m2 na favela
de Bel Air, em Porto Príncipe,
no final de 2004, com o projeto
"Honra e Respeito em Bel Air".
O projeto, segundo Hamann,
começou a convite do setor de
Desarmamento, Desmobilização e Reintegração da Minustah, depois renomeado para
Redução da Violência Comunitária. "Há uma interação forte e
permanente com o batalhão
brasileiro", diz Hamann, citando trabalho conjunto na Brigada Comunitária.
A atividade de mediação de
conflitos continua, mas o Viva
Rio desenvolveu também programas de infraestrutura.
O último relatório financeiro, divulgado no site "Comunidade Segura" e relativo ao período 2008-2009, declara orçamento de US$ 3,6 milhões,
equivalentes a mais de um
quinto da ajuda de emergência
(de US$ 15 milhões) liberada
pelo Brasil após o tremor.
A maior parte foi bancada
pelos governos da Noruega e do
Canadá, e US$ 45 mil vieram
da Minustah. Os maiores gastos foram com os programas de
coleta, purificação e distribuição de água da chuva e de poços
artesianos e de coleta e manipulação do lixo -parte dos dejetos humanos é transformada
em adubo.
Bel Air não tem água encanada nem esgoto. Censo feito pelo próprio Viva Rio em 2007
contou 90 mil habitantes, mas
o grupo afirma que atinge 125
mil moradores da Grande Bel
Air e 200 mil em programas como o do lixo.
Segundo o Viva Rio, que acaba de conseguir registro como
ONG local, trabalham nos programas em Bel Air nove brasileiros e 400 haitianos, 115 deles
contratados e os demais prestadores de serviços.
Perto de um terço do orçamento no período 2008-2009
foi para despesas administrativas e de gerenciamento, incluindo as rubricas comunicações, assistência técnica, monitoramento e avaliação [dos
programas], coordenação geral
e custos indiretos.
Segundo Hamann, a ONG
passou a dar assistência humanitária no bairro após o terremoto, que afetou os programas
de infraestrutura. "Apesar do
estrago, as pessoas e as ideias
continuam. Acho que não vamos recomeçar do zero."
Texto Anterior: Haiti em ruínas: Novo tremor reaviva trauma haitiano Próximo Texto: Entrevista: "Nós atuamos diretamente com a Presidência" Índice
|