São Paulo, quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

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Crítica a ONG não pode ser generalizada, diz Viva Rio

CLAUDIA ANTUNES
DA SUCURSAL DO RIO

Maior ONG brasileira no Haiti, o Viva Rio defende sua atuação no país caribenho e afirma manter articulação com a Minustah, a força da ONU, e o governo haitiano em programas voltados ao desenvolvimento nacional.
"Não se pode generalizar o trabalho das ONGs", sustenta Eduarda Hamann, coordenadora adjunta do projeto de Operações de Paz do Viva Rio. "A grande diferença é que estamos lá há cinco anos, e não há uma semana."
Em entrevistas à Folha publicadas nesta semana, especialistas em Haiti haviam criticado a premissa de agências e países doadores de que o trabalho das ONGs seria mais eficaz do que o do governo local.
Segundo eles, ou as doações servem a um "espetáculo" em momentos de tragédia, sem que haja controle sobre seu destino, ou as atividades das ONGs não se integram a um projeto nacional de fortalecimento do Estado e das instituições haitianas.
O Viva Rio atua em educação de jovens e pacificação em áreas conflagradas pelo narcotráfico na capital fluminense. Já foi criticado por organizar manifestações pela paz na orla da zona sul, área nobre.
No Haiti, a ONG dispõe de orçamento considerável desde que alugou por dez anos um galpão de 20 mil m2 na favela de Bel Air, em Porto Príncipe, no final de 2004, com o projeto "Honra e Respeito em Bel Air".
O projeto, segundo Hamann, começou a convite do setor de Desarmamento, Desmobilização e Reintegração da Minustah, depois renomeado para Redução da Violência Comunitária. "Há uma interação forte e permanente com o batalhão brasileiro", diz Hamann, citando trabalho conjunto na Brigada Comunitária.
A atividade de mediação de conflitos continua, mas o Viva Rio desenvolveu também programas de infraestrutura.
O último relatório financeiro, divulgado no site "Comunidade Segura" e relativo ao período 2008-2009, declara orçamento de US$ 3,6 milhões, equivalentes a mais de um quinto da ajuda de emergência (de US$ 15 milhões) liberada pelo Brasil após o tremor.
A maior parte foi bancada pelos governos da Noruega e do Canadá, e US$ 45 mil vieram da Minustah. Os maiores gastos foram com os programas de coleta, purificação e distribuição de água da chuva e de poços artesianos e de coleta e manipulação do lixo -parte dos dejetos humanos é transformada em adubo.
Bel Air não tem água encanada nem esgoto. Censo feito pelo próprio Viva Rio em 2007 contou 90 mil habitantes, mas o grupo afirma que atinge 125 mil moradores da Grande Bel Air e 200 mil em programas como o do lixo.
Segundo o Viva Rio, que acaba de conseguir registro como ONG local, trabalham nos programas em Bel Air nove brasileiros e 400 haitianos, 115 deles contratados e os demais prestadores de serviços.
Perto de um terço do orçamento no período 2008-2009 foi para despesas administrativas e de gerenciamento, incluindo as rubricas comunicações, assistência técnica, monitoramento e avaliação [dos programas], coordenação geral e custos indiretos.
Segundo Hamann, a ONG passou a dar assistência humanitária no bairro após o terremoto, que afetou os programas de infraestrutura. "Apesar do estrago, as pessoas e as ideias continuam. Acho que não vamos recomeçar do zero."


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